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O legado de Che Guevara
[Por João Pedro Stédile] Em
8 de outubro cumpre-se o aniversário do assassinato de Che Guevara
pelo exército boliviano. Após sua prisão, em 8 de outubro de 1967,
foi executado friamente, por ordens da CIA. Seria muito perigoso
mantê-lo vivo, pois poderia gerar ainda mais revoltas populares em
todo o continente.
Decididamente,
a contribuição de Che, por suas idéias e exemplo, não se resume a
teses de estratégias militares ou de tomada de poder político. Nem
devemos vê-lo como um super-homem que defendia todos os injustiçados
e tampouco exorcizá-lo, reduzindo-o a um mito.
Analisando
sua obra falada, escrita e vivida, podemos identificar em toda a
trajetória um profundo humanismo. O ser humano era o centro de todas
as suas preocupações. Isso pode-se ver no jovem Che, retratado de
forma brilhante por Walter Salles no filme Diários de Motocicleta,
até seus últimos dias nas montanhas da Bolívia, com o cuidado que
tinha com seus companheiros de guerrilha.
A
indignação contra qualquer injustiça social, em qualquer parte do
mundo, escreveu ele a uma parente distante, seria o que mais o
motivava a lutar. O espírito de sacrifício, não medindo esforços
em quaisquer circunstâncias, não se resumiu às ações militares,
mas também e sobretudo no exemplo prático. Mesmo como ministro de
Estado, dirigente da Revolução Cubana, fazia trabalho solidário na
construção de moradias populares, no corte da cana, como um cidadão
comum.
Che
praticou como ninguém a máxima de ser o primeiro no trabalho e o
último no lazer. Defendia com suas teses e prática o princípio de
que os problemas do povo somente se resolveriam se todo o povo se
envolvesse, com trabalho e dedicação. Ou seja, uma revolução
social se caracterizava fundamentalmente pelo fato de o povo assumir
seu próprio destino, participar de todas as decisões políticas da
sociedade.
Sempre
defendeu a integração completa dos dirigentes com a população.
Evitando populismos demagógicos. E assim mesclava a força das
massas organizadas com o papel dos dirigentes, dos militantes,
praticando aquilo que Gramsci já havia discorrido como a função do
intelectual orgânico coletivo.
Teve
uma vida simples e despojada. Nunca se apegou a bens materiais.
Denunciava o fetiche do consumismo, defendia com ardor a necessidade
de elevar permanentemente o nível de conhecimento e de cultura de
todo o povo. Por isso, Cuba foi o primeiro país a eliminar o
analfabetismo e, na América Latina, a alcançar o maior índice de
ensino superior. O conhecimento e a cultura eram para ele os
principais valores e bens a serem cultivados. Daí também, dentro do
processo revolucionário cubano, era quem mais ajudava a organizar a
formação de militantes e quadros. Uma formação não apenas
baseada em cursinhos de teoria clássica, mas mesclando sempre a
teoria com a necessária prática cotidiana.
Acreditar
no Che, reverenciar o Che hoje é acima de tudo cultivar esses
valores da prática revolucionária que ele nos deixou como legado.
A
burguesia queria matar o Che. Levou seu corpo, mas imortalizou seu
exemplo. Che vive! Viva o Che!
João
Pedro Stedile é membro da coordenação nacional do MST e da Via
Campesina.
Núcleo
Piratininga
de Comunicação
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