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Povo hondurenho não vai se deixar vencer - entrevista de Zelaya para o Brasil de Fato
[29/09/09]
Após
pouco mais de uma semana na embaixada do Brasil, Manuel Zelaya, ainda
não viu as negociações com o governo golpista avançarem como gostaria.
Para vencer a situação, afirma a necessidade de paciência e continuar
as mobilizações por todo país. Tossindo muito e com uma voz cansada,
ele concedeu por telefone entrevista exclusiva ao Brasil de Fato da
embaixada brasileira em Tegucigalpa, capital de Honduras.
Existem negociações com os golpistas? Manuel Zelaya – Há muitas aproximações, mas até o momento nenhuma deu fruto. Mas, sim, há negociações.
Como estão as mobilizações no país? As
mobilizações estão tendo bastante expressão, mas nossa comunicação está
comprometida, nossos celulares foram cortados. Estamos resistindo
com muito estoicismo, muita paciência, porque o bem supremo tem um
custo e esperamos conseguir restituir o sistema democrático. As
mobilizações continuam em todo país, mas estão sendo muito reprimidas
pelas forças armadas e pela polícia. Há um estado de ingovernabilidade
que creio que deve ser solucionado nas próximas horas. Creio que um
país não pode viver em convulsão, a não ser que queiramos viver como no
Afeganistão. A América Latina não merece isso, o povo hondurenho não
merece. Reverter o golpe de Estado em Honduras vai ser uma
vacina contra os golpes de Estado em todos países da América, incluindo
Brasil. Reverter vai ser parte da história do Brasil e da América
Latina por sociedades mais democráticas que respeitem a soberania
popular. Estamos escrevendo história junto com o Brasil
Como avalia a postura do governo brasileiro? O
governo brasileiro e o presidente Lula têm demonstrado sua vocação
democrática ao aceitar que seja feito um diálogo a partir da embaixada,
e que quem deve fazer parte desse diálogo é o presidente que eles
reconhecem, o governo eleito pelo povo. Isso fala muito da estatura
moral e política continental que tem o presidente do Brasil. Nós
queremos que esse processo dure o menor tempo possível para devolver à
América Latina a certeza de que não serão permitidos golpes de Estado
no século 21.
Quais são as alternativas, caso não se consiga uma saída diplomática? A
alternativa que temos é manter a luta. O povo hondurenho não está
disposto a se deixar vencer e ajoelhar-se diante de uma ditadura
militar. Então, por agora, mantemos as mobilizações e também contamos
com o apoio da comunidade internacional.
No
Brasil existe uma especulação a respeito de se Lula participou de algum
plano para sua volta. O governo nega e diz que foi avisado uma hora
antes. O senhor confirma essa informação? Nem o
presidente Lula, nem Marco Aurélio [Garcia], nem o chanceler [Celso]
Amorim sabiam da minha chegada a Tegucigalpa com antecedência. Quando
cheguei tinha várias opções. Mas escolhi o Brasil. Falei com o Amorim,
expliquei que queria tentar algum diálogo a partir daqui, também por
motivos de segurança, por temor a represálias ou de ser sacrificado
pelo regime. E me disseram que podia ir. Mas só souberam nesse momento.
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Piratininga
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