Direitos Humanos
Comissão Pastoral da Terra defende atualização dos Indíces de Produtividade
O anúncio pelo presidente Lula de atualização dos
índices de produtividade da terra desencadeou contra a medida uma furiosa campanha da bancada
ruralista, apoiada por maioria da poderosa mídia, pelo
Ministro da Agricultura Reinhold Stephanes usando para isso da mentira e
de argumentos falaciosos, destinados a enganar a opinião pública e a
derrubar a iniciativa governamental.
A CPT Nacional vem, pois, a público mostrar o outro lado da moeda.
Está de parabéns o senhor Presidente por este gesto histórico que trará um
grande e benéfico desenvolvimento para todo o nosso povo. Ao assinar esta atualização, atrasada há mais de 30 anos,
Lula estará simplesmente cumprindo a Lei Agrária 8.629, de 25 de fevereiro de
1993 que, no artigo 11 determina o seguinte: “Os parâmetros, índices e
indicadores que informam o conceito de produtividade serão ajustados
periodicamente, de modo a levar em conta o progresso científico e
tecnológico da agricultura e o desenvolvimento regional”.
Ora, o estudo “Fontes
e Crescimento da Agricultura Brasileira” divulgado em julho de 2009 pelo próprio
Ministério da Agricultura revela que de 1975 a 2008 a taxa de crescimento do
produto agropecuário foi de 3.68 % ao ano. No período de 2000 a 2008, o
crescimento foi de 5.59 como média anual. Em 1975 produziam-se 10,8 quilos de
carne bovina por hectare; hoje são 38.6 quilos; a produção de leite por
hectare multiplicou-se por 3.6 e a de carne e aves saltou de 372,7 mil toneladas
em 1975, para 10.18 milhões em 2008, segundo o mesmo estudo.
A comparação com outros países demonstra que, no Brasil, o
crescimento do PTF (Produtividade Total dos Fatores) foi o mais elevado: 4,98%
entre 2000 e 2008. Na China, de 2000 a 2006 foi de 3.2%. Nos Estados
Unidos, entre 1975 e 2006 foi de 1.95%. Na Argentina, de excepcionais recursos
naturais, foi, de 1960 a 2000, de 1.84%.
A conclusão óbvia a que se chega é que por trás desta guerra da bancada
ruralista, teimando em manter os velhos índices de produtividade de 1975 está o
intento de preservar o latifúndio improdutivo das empresas nacionais e
estrangeiras. Desconsidera-se, assim, a função social da propriedade,
estabelecida na nossa Constituição Federal, continuando o
Brasil, assim, o campeão mundial do latifúndio depois de Serra
Leoa.
Eles levantam repetidamente o número de 400 mil propriedades
rurais que seriam afetadas pela medida, inviabilizando assim toda a
produção agrícola no país. Na realidade este número corresponde a apenas
10 % das propriedades rurais, embora ocupem 42,6% das terras. Com
efeito, das 4.238.447 propriedades cadastradas pelo Incra, 3.838.000, ou seja,
90 % não seriam afetadas pela medida. São estas propriedades as que garantem 70
% do alimento que é posto na mesa dos brasileiros. Ao passo que essas outras 400
mil, com o ferrenho apoio da bancada ruralista, são as que recorrem ao
governo para adiar indefinidamente o pagamento de suas dívidas com os
bancos, como a imprensa tem noticiado com frequência.
À crítica juntou-se também uma raivosa criminalização
dos movimentos de trabalhadores no campo, da forma mais generalizada e iníqua.
Entretanto o que se vê no nosso campo é o deprimente espetáculo da multiplicação
dos acampamento de sem-terra que se sujeitam, por anos a fio, a condições
inumanas de vida na fila da realização, um dia, do sonho da terra prometida de
viver e trabalhar.
Os dados de ocupações de terra e de acampamentos, registrados pela CPT e
divulgados anualmente mostram um quadro preocupante. Onde há maior concentração
de sem-terra é onde o número de assentamentos é menor. E isso justamente ao lado
de áreas improdutivas, que a atualização dos índices poderia facilmente
disponibilizar para assentamento das famílias. Em 2007, no Nordeste se
concentraram 38,3% das ocupações e acampamentos envolvendo 42,5% das famílias,
No Centro-Sul, aconteceram 49,5% das ações envolvendo 43,5% das famílias. Porém
os assentamentos promovidos pelo governo aconteceram na sua maioria na Amazônia,
onde há mais disponibilidade de terras públicas, distantes dos centros
habitados. Fica claro, pois, que onde há mais procura por terra, no Nordeste e
no Centro-Sul, há menos disponibilidade de terras. E um dos fatores que limita
esta disponibilidade são os índices defasados de produtividade. Ao lado disso,
no Sul, onde foram assentados somente 2,6% das famílias, estas tiveram uma
participação de 42,06% do total da produção nacional de grãos. Portanto a
atualização dos índices de produtividade poderá disponibilizar muito mais áreas
em regiões mais propícias ao cultivo de grãos, onde há mais busca por terra e
onde a tradição agrícola é mais forte.
Diante de tudo isso a CPT Nacional declara que a atualização
dos novos índices de produtividade da terra, tantas vezes protelada, é uma
exigência de justiça social. Mas a superação da secular estrutural injustiça
social no campo e do resgate da dívida social para com os excluídos da terra,
vítimas da nefasta política do sistema corrupto e violento que defende a ferro e
fogo a arcaica estrutura agrária alicerçada no latifúndio, só se concretizará
quando se colocarem em nossa Constituição limites para a propriedade da terra.
Então, a partir disso, será possível uma real democratização ao acesso a
terra.
Núcleo
Piratininga
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