Por Gizele Martins
Blog O Cidadão: http://ocidadaonline.blogspot.com/
Em meio ao subdesenvolvimento e consequentemente às diferenças sociais
vividas pela maioria da população brasileira e mundial, nos deparamos
com uma sociedade que só enxerga e trata o outro de forma excludente. O
que não é por acaso. Segundo a sociedade capitalista, imperialista, é
preciso que uns tenham mais acesso, oportunidades e direitos do que
outros. Isso significa, em termos práticos, que muito poucos – se
considerarmos a proporção de ricos e pobres no mundo – serão aqueles
que terão acesso irrestrito a bens e serviços. E é exatamente este
restrito grupo que comandará as coisas, como acontece desde a fundação
do capitalismo no mundo.
E
os meios de comunicação são os grandes apoiadores dessa sociedade do
capital, pois é por meio deles também que se aliena, é por meio deles
que se influencia toda a sociedade, seja na vida política, na vida
pessoal etc. O seu papel é o de mostrar sempre a versão do capital,
estar sempre contra os trabalhadores, os movimentos sociais e o
desenvolvimento equilibrado e justo do país. Ela é uma comunicação que
favorece e sempre favorecerá a minoria rica.
Eu, como moradora de
favela, vejo esta exclusão midiática de perto. Quantas vezes a mídia
fala o que realmente existe nas favelas? Quantas vezes mostrou, ou
mostra, que ali existem pessoas trabalhadoras, estudantes, gente que
quer apenas seu direito de viver? A mídia quando entra na favela é só
para cobrir assuntos ligados à violência, isso quando ela relata a
verdade do que ocorreu. E isso nada mais é do que mais uma forma de
influenciar a população. Com isso, as pessoas acabam reproduzindo preconceitos sobre o morador de comunidade. Os que moram
fora dizem que somos vagabundos, sujos, violentos, entre outras coisas
mais. Há uma generalização, todos os meninos são vistos como bandidos,
e todas as meninas são vistas como vagabundas, além de relatarem que
todos os moradores de favela são preguiçosos, que só não conseguem
estudar, trabalhar e etc. porque não são interessados.
Isto não é verdade! Seguramente mais de 90% dos moradores de favelas
nada mais fazem do que trabalharem, do que tentarem sobreviver todos os
dias. Tudo isso, toda essa reprodução de conceitos que são mostradas
nos meios de comunicação fazem com que a maioria das pessoas não
respeite o que realmente somos. Muitos moradores não assumem morar em
comunidades por conta do preconceito existente e disseminado na
sociedade. Exemplo disso é na hora da procura por emprego. É difícil
nessas horas você dizer que é morador de comunidade. Pois muitas das
vezes, você nem recebe o telefonema de confirmação de currículo.
Nossos governantes, aqueles que votamos de quatro em quatro anos, não
nos atendem. Todos sabem que dentro das favelas há diversos problemas,
seja o de habitação, de saúde, de educação, de saneamento básico, e
aquele que é considerado o mais grave: a violência. Mas, eles nada
fazem para resolver estes problemas, pelo contrário, o que se percebe é
que por suas atitudes excludentes, reproduzem o que toda a sociedade
acha.
Põem caveirão – veículo blindado usado pela polícia nas incursões em
favelas - para “resolver” o problema de segurança, põem Postos de
Saúde, sem nenhum preparo de atendimento, nos oferecem escolas
precárias. As faculdades públicas deveriam estar lotadas de estudantes
de classe baixa, mas estão cheias de pessoas que podem pagar
instituições particulares. Além disso, o Estado apóia ainda a entrada
de Ong’s nas favelas, com o discurso de salvar mais um pobrezinho, mais
um favelado.
Até quando vamos ter que agüentar isso, até quando vamos tapar nos
olhos para isso tudo, até quando vamos aceitar essas injustiças, até
quando vamos ter que clamar pelo direito à vida?
Outro
exemplo da injusta segurança e da desonesta mídia que temos é o caso
de Matheus Rodrigues, menino de 8 anos, que há um mês foi assassinado
pela Polícia Militar na porta de sua casa, no Complexo da Maré, uma das
maiores favelas do Rio de Janeiro. E isso não aconteceu apenas com o
Matheus não, todos os dias ocorrem isso em nossas comunidades, todos os
dias nos deparamos com esta dura e cruel realidade. Há três anos,
morreu Renan Rodrigues, de 3 anos. Há aproximadamente quatro anos,
morreu Carlos Henrique, de 11 anos, todos eles crianças e inocentes,
também moradores da Maré. Eram meninos que queriam apenas ter o
dinheiro de brincar, de sorrir, de estudar, de sonhar com o seu futuro.
Mas os seus desejos, os seus sorrisos, foram todos covardemente
enterrados.
Isso
por causa do precário policiamento que temos, por causa do massacre que
é cada vez mais claro em todas as favelas da nossa cidade, do nosso
país. Esse extermínio é cada vez mais claro quando se trata do pobre,
do negro e do favelado, seja em que lugar ele for, ou esteja. E estes,
nunca fugirão disso, sempre carregarão no peito as marcas cruéis e
preconceituosas da sociedade. E como eu já disse, preconceitos estes
que na maioria das vezes são produzidos, lançados pela grande mídia.