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A Batalha Nossa de cada dia




[Por Raquel Junia]
Na Venezuela, o Governo de Hugo Chávez criou um complexo cinematográfico – a Villa del Cine. Foram investidos 42 milhões em estúdios, áreas de edição e equipamentos. O Uruguai tem hoje a mais avançada legislação de rádios comunitárias da América Latina. Um terço das freqüências de AM e FM uruguaias estão reservadas para as rádios comunitárias e não há restrições quanto à cobertura geográfica da transmissão.

 

As informações estão no livro A Batalha da Mídia – Governos Progressistas e Políticas de Comunicação na América Latina e Outros Ensaios, de Dênis de Moraes. Mais do que falar sobre as batalhas da atualidade, o autor inspira e sugere caminhos para uma análise crítica da estrutura dos meios de comunicação e, sobretudo, da realidade na qual estão inseridos.

 

Não é a toa que as informações citadas no primeiro parágrafo não são de conhecimento da maioria das pessoas. O outro lado dessa batalha é justamente o lado das grandes empresas de comunicação, as responsáveis por ocultar informações relevantes para o entendimento acerca da situação em nosso entorno. Dênis também aborda o tema quando avalia as posturas dos governos latino-americanos com relação à legislação de radiodifusão.

 

 “O Equador é um dos países que mais avançou em termos de legislação antimonopólica”, aponta. O autor sustenta a afirmação com as definições da nova Constituição do Equador, a qual determina que “acionistas, dirigentes ou representantes legais de empresas, entidades ou grupos financeiros não poderão mais ter participação, controle de capital ou de patrimônio em meios de comunicação”, entre outras regras.

 

Antes de começar a desvendar como os países da América Latina tratam a comunicação, entretanto, Dênis de Moraes os situa em blocos distintos. O autor se apóia em pensadores como Atílio Boron, Emir Sader, Boaventura de Souza Santos e Michael Lowy para definir dois blocos de países. O primeiro composto por nações como Venezuela, Cuba, Bolívia, Equador, que “prestigiam uma integração econômica e cultural fora do circuito liderado pelos Estados Unidos”. O segundo por países como Brasil, Chile e Uruguai, entre outros, que “oscilam entre a defesa da inclusão social e políticas econômicas que, com variações, acatam a razão dos mercados e postergam a reversão estrutural da pobreza”.

 

As análises presentes em A Batalha da Mídia fornecem claros elementos para os que pretendem seguir na batalha por uma comunicação mais plural e democrática. A lucidez do autor fica bastante evidente quando ele não cai na armadilha de simplesmente louvar as boas políticas sem questionar se são sustentáveis e se vão se efetivar na prática. Ao mesmo tempo, o jornalista também não faz coro com a voz irresponsável dos empresários da mídia.

           

É o caso da Rede de Rádios dos Povos Originários da Bolívia criada pelo presidente Evo Morales e citada por Dênis de Moraes. A Amarc questiona a Rede argumentando que não pode haver rádios comunitárias do governo, e a grande mídia boliviana também, só que por outros motivos.

 

“Não me parece difícil separar os legítimos questionamentos da Amarc da hipocrisia da mídia ao objetar a nova cadeia radiofônica. Qual a credibilidade de grupos de comunicação para cobrar possibilidades participativas, se não as concedem às audiências na definição de suas programações?”, pontua Dênis de Moraes.

           

Em um contexto de pessimismo, uma das maiores contribuições dessa obra é a esperança que o autor expressa em cada linha. Essa impressão é reforçada quando Denis de Moraes termina o capítulo sobre a América Latina com uma poesia de Mario Benedetti. “Com a sua constante esperança, o Sul também existe”, profecia o poeta, transcrito por Dênis. A batalha nossa de cada dia ganha mais fôlego com o livro.


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 NPC - Núcleo Piratininga de Comunicação * Arte: Cris Fernandes * Automação: Micro P@ge