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15.06 - No Peru, indígenas impõem derrota a Alan Garcia
Após
uma forte repressão aos indígenas – em confronto que
deixou pelo menos 50 mortos - a aliança de direita entre o
oficialismo (Apra), fujimorismo e a Unidade Nacional (UN) tiveram que
recuar e retirar dois decretos legislativos rechaçados pelos
indígenas da Amazônia peruana. A suspensão pelo
Congresso Nacional se deu dia 10 de junho, um dia antes de uma
mobilização nacional, com greves, marchas e piquetes,
puxada pela Confederação Geral dos Trabalhadores do
Perú (CGTP) e Associação Interétnica de
Desenvolvimento da Selva Peruana (Aidesep).
As entidades reconhecem o
avanço, mas não se dão por satisfeitas: seguem
pedindo a anulação completa das leis e prometem manter
as mobilizações. No dia 11, milhares de pessoas saíram
às ruas de cidades peruanas para manifestar apoio aos
indígenas. Em Lima, cerca de 30 mil pessoas protestaram.
No dia
5, um despejo violento feito numa estrada ao norte do país,
pela polícia e o exército, deixou um número ainda
indeterminado de mortos, entre manifestantes e policiais. A Aidesep
fala em pelo menos 40 nativos mortos; o governo fala em 25 policiais
mortos e apenas nove nativos; a esmagadora maioria dos meios de
comunicação peruanos reitera a versão do
governo, ainda que diversos vídeos e fotografias de vítimas
fatais, feridos e da ação violenta tenham se espalhado
pela internet na última semana, desmentindo a afirmação
do governo federal de que a polícia não tinha armamento
pesado. Na região onde aconteceu o massacre, a população
local fala em cerca de 100 mortos e testemunhas afirmam ter visto
helicópteros jogando cadáveres nos rios.
Votação
Dia
10, o enfrentamento se transferiu para o Congresso peruano. Durante
cinco horas, governistas e oposição, esta última
encabeçada pelo Partido Nacionalista (PN), trocaram acusações.
Os governistas acusaram os nacionalistas de “manipular os
indígenas”, de “promover a violência” e
“desestabilizar a democracia”; a oposição afirmou
que o atual governo ignora os direitos dos povos originários
em favorecimento das transnacionais, exigiu a formação
de uma comissão investigadora independente para determinar as
responsabilidades pelos acontecimentos do dia 5 de junho, além
de pedir a anulação dos decretos legislativos
questionados pelos indígenas, motivo pelo qual estão
mobilizados desde 9 de abril.
A suspensão foi
aprovada por 57 votos a 47, mas os congressistas do PN seguiram
protestando, pois queriam a anulação completa do pacote
de leis, já que uma comissão do Congresso as havia
considerado inconstitucionais há duas semanas. Vários
parlamentares se levantaram em frente à mesa da presidência
do Congresso e ergueram uma bandeira com os dizeres “Terra e água
não se vendem. Escutem aos povos andinos e
amazônicos”. As congressistas Hilaria Supa e María
Sumire, representantes dos povos indígenas andinos, foram à
votação com trajes típicos de suas comunidades e
exibiram cartazes que pediam “pela vida, a paz e a democracia.
Chega de mortos por nossos recursos” Parlamentares nacionalistas
colocaram no meio da Casa uma coroa de plumas de um chefe indígena
(Apu), acenderam velas e fizeram uma vigília por toda a noite
em protesto contra o governo Alan García. “A selva não
se vende, se defende”, era uma das palavras de ordem mais
escutadas.
Para
o pesquisador e escritor peruano Róger Rumrrill, “a
suspensão das leis, ao invés da anulação,
é uma manobra do governo para desmobilizar os indígenas
e continuar tentando impor os decretos. Mas
os indígenas não vão cair nessa armadilha. Essas
leis são parte essencial do projeto neoliberal e autoritário
desse governo. Os indígenas apareceram para questionar esse
projeto, e por isso são reprimidos e satanizados pelo
governo”.
[Fonte: Brasil de Fato]
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