Um estudo amplo sobre os dados do Instituto Verificador de Circulação (IVC) – que audita a tiragem de jornais e revistas – e do IBOPE – para TV e rádio – comprova que a última década foi de mudanças estruturais. Essas modificações reduziram sensivelmente o papel e a influência da chamada grande mídia – categoria onde entram a Rede Globo, os jornais Folha de S.Paulo, Estado de S.Paulo, O Globo, Jornal do Brasil e Correio Braziliense. E um sensível aumento de competidores, da imprensa do interior e dos jornais populares.
Entre as TVs
abertas, a Globo tinha um share de audiência de 50,7% em 2001. Chegou a
bater em 56,7% em 2004 – coincidindo com a queda de audiência do SBT. Hoje está
em 40,6% – coincidindo com a subida da TV Record – que saiu de 9,2% em 2001
para 16,2%.
Nas três últimas
semanas, o Jornal Nacional deu 26% de audiência em São Paulo. Seis
anos atrás, era de 42%. Nessa época, quando o JN caiu para 35% houve um
reboliço na Globo. A ponto de edições do JN terem blocos de 22 minutos
com várias matérias de apelo.
Aparentemente,
perdeu esse pique.
O que interessa
Com os jornais da
chamada grande mídia, repete-se o mesmo fenômeno. O estudo dividiu os jornais
entre tradicionais (Folha, Estado, Globo, JB e Correio
Braziliense), jornais das capitais, jornais do interior e jornais
populares.
De 2001 a 2009, os tradicionais
perderam 300 mil exemplares diários – de 1,2 milhão para 942 mil, queda de 25%.
Os jornais de capitais (excetuando os do primeiro grupo) cresceram de 1,2
milhão para 1, 37 milhão – crescimento de 10,5%. Os jornais populares passaram
de 663 mil para 1,2 milhão – alta de 85%. E os jornais do interior saltaram de
300 mil para 552 mil – alta de 83,5%.
Não apenas isso.
Nos últimos anos, gradativamente os jornais estão se desvencilhando da pauta da
chamada grande mídia. Antes, havia um processo de criação de ondas concêntricas
em torno dos temas levantados pelo núcleo central, com os demais jornais
acompanhando as manchetes e as análises.
De alguns anos
para cá, essa dependência cessou. Um estudo de caso analisou bem essa diferença
de enfoque. Lula esteve em São Paulo. Anunciou que as informações do INSS
seriam fornecidas em três horas. Os grandes jornais e o JN deram
destaque para a visita a uma sinagoga (para repercutir a questão do Holocausto)
e para intrigas políticas. Todos os jornais populares, do interior e das
capitais, deram destaque àquilo que interessava diretamente ao seu leitor: a
diminuição dos prazos de informações do INSS.
Caminho longo
Esse exemplo
sintetiza a armadilha na qual se meteu nos últimos anos a chamada grande mídia.
Perdeu-se a noção dos temas relevantes ao leitor. Em vez de buscar a informação
útil, enrolaram-se no chamado jornalismo de intriga – sempre procurando frases
ou enfoques que privilegiassem conflitos.
Enquanto isto, os
jornais populares – com exceção dos paulistanos (Agora, Diário de
S.Paulo e Jornal da Tarde), que não decolaram – passaram a tratar
dos temas de interesse de seu público, assim com os jornais de interior e da
capital.
Vai ser um longo
trajeto para recuperar os princípios do jornalismo. [Publicado originalmente em março, no blog do autor]