Pol�tica
Uma análise de conjuntura de tirar o sono: A direita vem aí, faminta
Por Luiz Carlos Azenha 17.05.09
Ninguém é "de direita" no Brasil. Ninguém assume ser de direita.
Mas ela existe, se esconde sob diversos disfarces e representa uma
aliança entre grandes interesses econômicos internacionais e grandes
interesses econômicos nacionais subordinados àqueles. O tal pacto de
elites. Elas fazem concessões pontuais para preservar o essencial: o
controle da terra, do subsolo e dos recursos naturais.
O presidente Lula não representou um rompimento com isso. Ele
costurou alianças em direção ao centro para garantir a
"governabilidade". Hoje o agronegócio manda na agricultura e no meio
ambiente, os banqueiros controlam o Banco Central e os recursos
naturais do Brasil estão entregues a interesses privados -- da Vale do
Rio Doce aos parceiros estrangeiros da Petrobras.
Num quadro de escassez, expresso na crise econômica internacional, a
disputa pelo controle dos recursos -- e de como gastá-los -- deve se
acirrar em todo o mundo. No Brasil não é diferente. Essa disputa passa
pelas eleições de 2010.
Lula, no poder, se comportou como um sindicalista pragmático.
Preferiu os acordos de bastidores às ruas. Não trabalhou para
estimular, organizar ou vitaminar movimentos políticos de sustentação
às propostas de seu governo. Não trabalhou para aprofundar a
democracia, isto é, para engajar politicamente os que ascenderam
economicamente graças às políticas sociais de seu governo. O que
explica a vitória de Gilberto Kassab em bolsões de classe média baixa
em São Paulo: eleitores beneficiados por programas do governo federal,
despolitizados, gravitaram para o candidato com o melhor marketing
televisivo.
Já contei aqui sobre o comício final de Marta Suplicy, que teve a
presença de Lula: um belíssimo cenário para gravar a propaganda mas
nenhuma vibração popular. Vitória completa da forma sobre o conteúdo,
do marketing sobre a política.
Agora, às vésperas de 2010, Lula costura de novo para o centro. O
governador José Serra faz o mesmo. Serra limou Yeda Crucius de sua
coalizão. A Veja já fez duas reportagens seguidas prevendo a
hecatombe da tucana gaúcha. O PSDB já deve ter fechado acordo com José
Fogaça, do PMDB, para apoiá-lo como candidato a governador em 2012, em
troca de apoio no ano que vem.
Os aliados conservadores de Lula são José Sarney e Michel Temer, o
que explica o furor midiático em relação à "farra das passagens". Se
ambos fossem aliados de Serra o Congresso não estaria "em crise", nem
mereceria tamanha cobertura do eixo midiático Veja-Globo-Folha.
A Folha Online anuncia um acordo entre Serra e o governador
de Minas Gerais, Aécio Neves, pelo qual este seria vice na chapa
tucana. Com isso o governador paulista reduz ainda mais a margem de
manobra de Lula no PMDB e deixa o presidente da República no colo do
trio Sarney-Temer-Renan.
Os acordos acima citados reforçam a posição de Serra no Sul e no
Sudeste. Mais ainda se considerarmos que a crise econômica
internacional está longe de acabar, que teremos um crescimento interno
reduzido este ano e apenas razoável em 2010.
Em entrevista à CartaCapital, Dilma Rousseff disse: "A
eleição do Lula, do Evo, da Michelle, da Cristina, do Hugo Chávez,
marcam um processo de democratização muito comprometido com os povos
dos paises nos quais ocorre".
A diferença é que, no Brasil, o "processo de democratização" foi
superficial, não-orgânico e, hoje, depende da sobrevivência política do
símbolo dele, Lula. Diante do quadro que descrevi, fiquem de olho:
devem aumentar os pedidos para um terceiro mandato ou para que o
presidente saia de vice na chapa de Dilma Rousseff.
Quantos bilhões de dólares vale o pré-sal? Quantos bilhões de
dólares valem os minérios no subsolo brasileiro? A direita, que nunca
chegou a perder o controle da riqueza, vem aí faminta por privatizar
cada centavo desses bens públicos, para tomar de volta mesmo as
migalhas que Lula distribuiu.
[Publicado originalmente em www.viomundo.com.br/opiniao/a-direita-vem-ai-faminta/]
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