Mdia
CUT realiza Pré-Conferência de Comunicação em Santa Catarina
O professor da Escola de Comunicação e Artes da USP e ex-assessor especial da Presidência da República, Bernardo Kucinski, foi o primeiro a falar na mesa-redonda Construindo um Sistema Público de Comunicação – O Papel das Políticas Públicas. Ele começou criticando o atual modelo. “Temos uma mídia concentrada, oligárquica; no limite, golpista”, e que representa um risco à democracia, afirmou. A grande mídia, segundo o professor, “tem mais unidade ideológica do que qualquer partido político na defesa de seus interesses”.
Sobre o governo Lula, o qual assessorou, Kucinski foi duro. “O governo fez um pacto com os banqueiros e um pacto com a Globo.” Na opinião dele, o governo chamou a Conferência de Comunicação em contraponto, porque a Globo não moderou os ataques. Para o ex-assessor, o governo se propõe a fazer mudanças somente até onde não confronte os setores mais fortes, como banqueiros e proprietários de terras e dos veículos de comunicação. A TV pública, disse, foi criada quando o governo sentiu, na crise do mensalão, o perigo de um golpe midiático. Nesse processo, segundo Kucinski, o governo cometeu um erro grave: acabou com o sistema estatal e colocou na nova TV quadros do sistema dominante, funcionários das grandes empresas.
O professor finalizou dizendo que o Estado é um espaço de disputa. Se não houver mobilização, tudo fica como está. Por isso ele insistiu que é preciso fazer cobranças objetivas. Temos que “pensar forte e pra frente, sempre pra frente, e pensar claro”. Isso significa saber de quem cobrar e o que cobrar. Na opinião do painelista, o endereço da cobrança é o governo Lula. Deve-se cobrar o cumprimento da lei, que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) enfrente os monopólios; a utilização do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust) em programa de inclusão/educação digital; a revisão das concessões de TV; o fim da perseguição às rádios comunitárias; a elaboração de uma política de propaganda do governo que considere a diversidade; o apoio ao sistema público de comunicação; a recomposição do sistema estatal de comunicação; a proposta de uma nova lei de imprensa. Conquista da luta
O professor e dirigente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) José Torves começou rebatendo o painelista anterior. Para ele, o governo convocou a Conferência de Comunicação porque foi pressionado pelo movimento social, que há anos discute a comunicação no país. Ele concordou com Kucinski quanto ao papel da grande mídia: “A RBS é o maior partido político do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina”. Para Torves, é preciso diferenciar as TVs privada e pública. A primeira seria feita para consumidores; a segunda, para cidadãos. O Brasil não tem uma história de sistema público de TV. “Não temos experiência, e a TV pública acabou ficando com características de TV estatal”, disse Torves. Na opinião de Torves, é possível evoluir e a Conferência de Comunicação pode ser o espaço para isso. “Temos que nos preparar para trazer a discussão ideológica, não só produzir, mas discutir a produção. O que está em jogo é a disputa com o capital”, disse o jornalista.
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