Comunica��o Alternativa
Comissão organizadora da Conferência de Comunicação tem mais peso do empresariado
Por Raquel Junia 30.04.2009
Finalmente, no dia 17 de abril, o governo federal
expediu o decreto convocando a Conferência Nacional de Comunicação. Para os
movimentos sociais e entidades que há bastante tempo lutam pela realização da
Conferência, essa é uma vitória. Entretanto, a batalha está apenas começando.
A portaria que especifica a composição da comissão
organizadora da Conferência apresenta um desequilíbrio entre o campo da
sociedade civil não empresarial – movimentos, entidades, sindicatos – e os
empresários da mídia. A composição de 10 membros do poder público e 16 da
sociedade civil, divididos em oito do empresariado e oito dos que não são
empresários, incluindo neste último grupo a associação de emissoras públicas,
não agradou aos que vem lutando pela realização da Conferência.
Nas oito vagas destinadas à sociedade civil não
empresarial estão as seguintes entidades: ABCCOM (Associação Brasileira de
Canais Comunitários), Abraço (Associação Brasileira de Radiodifusão
Comunitária), CUT (Central Única dos Trabalhadores), Fenaj (Federação Nacional
dos Jornalistas), Fitert (Federação Interestadual dos Trabalhadores de Empresas
de Radiodifusão e Televisão), FNDC (Fórum Nacional pela Democratização da
Comunicação), Intervozes - Coletivo Brasil de Comunicação Social, e Abepec
(Associação Brasileira das Emissoras Públicas, Educativas e Culturais).
“A Abepec é, na realidade,
mais uma representação do poder público, enquanto que as demais cadeiras da
sociedade civil (oito) são ocupadas por representantes de entidades
empresariais”, afirmou em nota a Comissão Paranaense Pró-Conferência. De acordo
com esse raciocínio, na verdade, sobram sete vagas para o campo
não-empresarial.
A análise, entretanto, não
pode ser feita apenas numericamente. O problema está no fato de que por mais
que a proporção fosse exatamente a mesma entre empresariado e movimentos
sociais, ainda seria, de acordo com os movimentos, uma grande injustiça. O
empresariado é, na realidade, uma porcentagem muito pequena da sociedade
brasileira. Para o Coletivo Intervozes, uma das entidades que fazem parte da
Comissão Organizadora, há uma super representação do empresariado.
“Ainda
que não fosse possível contemplar todos os setores da sociedade, nos parece
pouco razoável que haja tamanho corte na representação dos movimentos sociais
em favor de uma clara super representação dos setores empresariais, como é o
caso da dupla representação das TVs comerciais e tripla representação da mídia
impressa. Esses grupos possuem grande poder econômico e político, mas
representam, proporcionalmente, um percentual ínfimo na sociedade brasileira”,
afirmou o coletivo também em nota pública.
Nas oito vagas
dos empresários, estão: Associação
Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT), Associação Brasileira de
Radiodifusores (ABRA), Associação Brasileira de Provedores Internet (ABRANET),
Associação Brasileira de TV por Assinatura (ABTA), Associação dos Jornais e
revistas do interior do Brasil (ADJORI BRASIL), Associação Nacional de Editores
de Revistas (ANER), Associação Nacional de Jornais (ANJ) e Associação
Brasileira de Telecomunicações (TELEBRASIL).
Governo desconsiderou proposta da Comissão Nacional
Pró-Conferência
Da Comissão
Nacional Pró-Conferência (CNPC), participam 33 entidades que somaram forças para
garantir a convocação da Conferência. Além desta, existem comissões estaduais
que estão em diálogo com a nacional na tentativa de garantir a mobilização nos
estados.
Em fevereiro
deste ano, a Comissão Nacional teve uma reunião com o Ministério das
Comunicações, na qual apresentou uma proposta de composição da Comissão
Organizadora. A proposta apresentada destina doze vagas para o segmento não
empresarial da sociedade civil, dez para o poder público (considerados governo,
parlamento e judiciário), cinco para entidades empresariais, duas para a mídia
pública e uma para a academia.
“Na ocasião,
foi solicitado que o governo agendasse novo encontro para apresentar sua
avaliação sobre a proposta de modo a avançar no debate sobre o formato final do
que viria a ser a Comissão Organizadora. Porém, após apresentação da proposta,
a CNPC só conseguiu uma reunião com representantes do Executivo dois dias antes
da publicação do decreto que convocou oficialmente a Conferência e cinco dias
antes da publicação da Portaria 185, quando recebeu a notícia de que a
composição da Comissão Organizadora já estava definida”, relata o Intervozes. O
coletivo ressalta ainda que a composição estabelecida pela portaria está em
desacordo com a proporção adequada em outras conferências, como a de saúde.
O que fazer?
Em carta para o
ministro das Comunicações Helio Costa, no dia 27 de abril, a Associação Mundial
de Rádios Comunitárias (AMARC) apresenta algumas sugestões para que a
Conferência seja transparente e participativa. Entre as indicações está a de
que a proposta de composição da Comissão Organizadora feita pela Comissão
Nacional Pró-Conferência seja considerada. E também que a Conferência seja
deliberativa.
A Comissão Paranaense
Pró-Conferência defende a revisão da portaria e a indicação de suplentes pela
Comissão Nacional.
“Reconhecemos e legitimamos
as entidades já indicadas por sua história de luta e compromisso com as nossas
bandeiras, mas avaliamos como um desrespeito ao processo democrático conduzido
pela Comissão Nacional Pró-Conferência de Comunicação que esta indicação tenha
sido feita pelo governo e sem levar em conta a subrepresentação social que tal
composição significa”, aponta a Comissão paranaense.
Para
Noeli Godoy, representante do Conselho Regional de Psicologia (CRP 05) no
Comitê Rio Pró-Conferência Nacional de Comunicação rever a portaria é uma
possibilidade difícil de ser aceita pelo governo federal. Ela avalia que essa
composição não é a que os movimentos esperavam, mas também não é das piores. “Apesar
de muitos parceiros terem ficado de fora, existe uma possibilidade de diálogo
com essa comissão”, acredita. Noeli
ressalta que, embora o Conselho Federal de Psicologia (CFP) tenha ficado de
fora da comissão, o CFP faz parte do FNDC, então, de certa maneira, está
representado. O CFP historicamente vem atuando no campo da democratização da
mídia.
Mobilização
Para além da discussão em
torno da composição da Comissão Organizadora, os comitês nacionais e estaduais
também precisam agora jogar peso na mobilização para que muita gente participe
direta ou indiretamente das etapas da Conferência. Ainda não foi definido pelo
governo federal o regulamento para a realização das conferências em todas as
etapas - municipal, estadual e federal. Mas os movimentos precisam correr
contra o relógio porque com o atraso do decreto presidencial, o tempo para
realizar as etapas está apertado.
Para Luis
Gonzaga da Silva, o Gegê, da Central de Movimentos Populares do Brasil e do
Movimento de Moradia do Centro de São Paulo, a realização da Conferência é um
grande avanço, já que no Brasil há um grande cerceamento do direito de voz do
povo pobre. “Talvez se democratize a
comunicação, o debate vai estar presente e com certeza poderemos aprofundar. Vai
ser muito pesado porque os meios de comunicação [comerciais] vão jogar pesado
para não serem atrapalhados”, opina.
Ele também
critica a composição da comissão organizadora, mas alerta: “Precisamos nesse
momento pegar esse pássaro que já está na mão para depois correr atrás do outro
que está voando”. Gegê diz ainda que os movimentos nos quais atuam tentarão
participar das conferências de comunicação, mas ao mesmo tempo também terão que
participar de conferências de outras áreas que serão realizadas nesse ano, o
que pode dificultar um pouco a presença em maior número.
“O tema da
comunicação é muito espinhoso, temos que insistir com os movimentos, não
esperar que eles venham até nós, que comecem a participar das reuniões. Nós é
que temos que ir até eles e contagiá-los, seduzí-los, aposta a psicóloga Noeli
Godoy.
Núcleo
Piratininga
de Comunicação
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