Entrevistas Carmen Lozza: Se o aluno não entende a influência da mídia, está desconhecendo a si próprio
Por Katarine Flor
O
curso de Jornalismo de Políticas Públicas Sociais da UFRJ, coordenado pelo
professor Evandro Ouriques, recebeu no dia 27 de abril a professora aposentada
da UFF Carmen Lozza, diretora do Programa Jornal e Educação. Ela ressaltou a
importância de se levar o jornal para as escolas, e incentivar a leitura
crítica da mídia. “É um recurso didático, que precisa ser conhecido, lido e
interpretado”. Para ela, é necessário buscar a reflexão crítica dos alunos
sobre a influência da mídia nos indivíduos, para que eles saibam fazer
escolhas. E enfatizou o compromisso social da escola nesse processo.
Leia
a entrevista feita com Carmen Lozza.
BoletimNPC
-A senhora falou sobre a influência da mídia
nas escolhas individuais e que é importante trabalhar uma visão crítica com os
alunos. Por que isso é tão importante?
Carmen Lozza
- Se o
aluno começa a perceber que ele não é o dono total de sua vida, e que sofre uma
influência enorme da mídia, ele vai se conhecer melhor. Vai entender seus
limites e suas possibilidades para intervir. Não adianta formar um aluno que acha
que é o “bam bam bam”, e que pode tudo. Ele vai ter uma avaliação de conjuntura
completamente equivocada, porque ele não pode tudo não. Também não é positivo
um aluno que acha que tudo é determinado, e que não pode nada. Este aí então
vai ficar alienado.
Por isso é fundamental contribuir para que ele faça
essa análise crítica. Quando ele começa a entender a influência que sofre da mídia,
ele vai se assenhorando dele próprio, das suas próprias capacidades e das suas
condições de intervenção.
A expectativa que eu tenho é que ele possa fazer
escolhas melhores. Não só em relação à leitura, mas tudo em sua vida. E que ele
possa escolher em quem vai votar, o que pode fazer no grêmio dele, qual a
proposta mais adequada. Ele vai ficar mais lúcido em relação aos seus limites e
possibilidades. Se ele não entende a influência da mídia, ele desconhece a si
próprio.
BoletimNPC
–Ao trabalhar essa questão nas escolas, como
a senhora percebeu essa mudança?
Percebo alterações quando eles começam a ter
atitudes na própria escola, e tentam mudar alguma coisa. Quando o aluno, por
exemplo, lê no jornal sobre uma vala que está fétido do lado da escola, e ele
vai se informar sobre aquilo. Que vale é aquela? Por que está assim? Aí ele descobre
que não é um valão, mas sim um rio que está completamente poluído. E vai tentar
buscar uma solução para aquilo. Vai falar com os colegas, com os professores, e
tentar se juntar para fazer alguma coisa para mudar.
BoletimNPC
–A senhora acredita que os professores já
estão muito conformados e desestimulados, e que, por isso, não buscam esta
leitura crítica utilizando os jornais?
Tem tido muito desânimo, sim. Claro que existem
aqueles que não desistem, mas o professor está muito empobrecido. Muito
entristecido. É isso que eu tenho visto na maioria das vezes.
Ou então, quando a escola é particular, ele está
sem espaço, sem opção. Tem que trabalhar em instituições onde não tem poder
nenhum. Então ele tem que seguir aquela cartilha. Oferece um ensino apostilado,
onde tem que passar o conteúdo daquele dia. Não tem espaço nenhum para
trabalhar jornal, nem nada diferente daquilo que está naquela apostila.
BoletimNPC
–Durante o curso, a senhora falou sobre o
pensamento crítico, mas que ele vai além de estimular a opinião. Como é isso?
A opinião não tem compromisso com a verdade, com a
ciência. Eu posso ter a opinião mais diversa sobre vários assuntos. Agora, se
eu me disponho a tentar entender uma determinada questão, não é mais uma
opinião que fique na mera vontade de cada um. Eu tenho que buscar indícios mais
científicos, fazer relações, localizar melhor aquilo, estudar muito. Eu não
posso fazer uma crítica sem ter uma base teórica que possa me dar uma
fundamentação para entender melhor aquele assunto. A opinião é uma questão de
gosto. Pensamento crítico é outra coisa.