Entrevistas Prefeitura e Governo do estado segregam pobres com a alegação de ‘ecolimites’
Por
Katarine Flor
Com a justificativa de atender aos interesses da
sociedade, autoridades planejam construir muros no entorno de favelas cariocas.
Alegam que essas construções, que chamam de ecolimites,
vão conter o avanço desordenado das favelas sobre as matas que ainda cobrem os
morros.
Mas, para a socióloga Vera Malaguti, “o muro
representa a vitória de um projeto fascista. Escondida sob o
manto da proteção ecológica, é uma política de apartação social, que
trata a pobreza como um entrave ao meio ambiente e os pobres como sujeira”,
declara em entrevista ao BoletimNPC.
Para ela, está
em jogo um projeto de confronto, e não há coragem de se dizer que vai emparedar
a favela. “Enquanto isso, o pau começou a comer em cima dos pobres”.
O frágil argumento utilizado pelo governador, Sérgio
Cabral, e pelo prefeito do Rio, Eduardo Paes, pode ser derrubado com os
indicadores da pesquisa feita pelo IPP (Instituto Pereira Passos). A pesquisa
aponta que 69,7% das áreas à cima dos 100m de altitude são ocupadas pelos ricos
ou pela classe média-alta. E, até o momento, nenhuma autoridade falou em murar
os ricos para impedir o crescimento desordenado de mansões sobre a Mata
Atlântica. “As favelas que estão murando não foram as que cresceram mais. São
as que possuem grande especulação imobiliária”, diz Malaguti.
Recentemente, o Datafolha publicou uma pesquisa de
opinião, que diz que 47% dos moradores de favela apóiam a construção dos muros,
enquanto 46% são contra. Malaguti acredita que “foi uma fraude feita por um
sociólogo de plantão. Isso foi desmascarado pela a associação de moradores da
Rocinha. Eles fizeram um plebiscito, que revelou que 1.056 pessoas mostraram-se
desfavoráveis à construção do muro, contra 50 votos a favor”, conta a
socióloga. O prefeito Eduardo Paes considerou o plebiscito suspeito. E disse
achar que os moradores da Rocinha estão satisfeitos com a medida.
Segundo Vera
Malaguti, “existem empresas eleitorais, nas quais Sérgio Cabral é o grande
empresário de um grupo de interesses econômicos, do qual também faz parte o
prefeito”. Para ela, este grupo defende os grandes negócios imobiliários, esportivos
e de transporte. Negócios que envolvem a mídia e a publicidade, que às vezes se
revelam com um projetinho de marketing
como o do morro Dona Marta. “São projetos pontuais, que buscam pasteurizar e
esconder a pobreza. Mostram pobres quietos e submissos, quando o Rio sempre foi
de grande resistência. Uma cidade rebelde e negra que nunca escondeu nada. Foi
sempre um grande ‘quilombão’”, conclui Vera.