Por NPC Ivo Lebauspin fala ao BoletimNPC sobre a Ditadura Militar
O
ex- frei Ivo Lebauspin é sociólogo. Atuou contra a ditadura militar. Foi preso
e torturado. É mestre em sociologia pelo IUPERJe fez doutorado na França. Começou a atuar na política na década de 60,
na JEC (Juventude Estudantil Católica). E depois na JUC (Juventude Universitária
Católica). Entrou na Ordem dos Dominicanos aos 18 anos, por considerar uma
Ordem mais comprometida com a visão de transformação social. “Mais crítica”,
diz.
Foi
professor na Faculdade de Educação da UFRJ e depois na escola de Serviço
Social. Deixou a Ordem dos Dominicanos aos 30 anos, em 1977. Escreveu sobre
classes populares e direitos humanos e sobre experiências de prefeituras.
Prefeituras do povo para povo. Depois Poder local x exclusão social.
Seustrabalhos mais recentes foram sobre
o período FHC:O desmonte da nação e o
Desmonte da nação em dados.
Teve
sua história representada no filme Batismo de Sangue, baseado no livro,
homônimo, de frei Betto. O filme conta sobre a participação de frades católicos
na luta contra a ditadura. Lebauspin será um dos debatedores do projeto Domingo
é dia de cinema, no dia 19/04 às 9h da manhã no Cine Oden.
Nesta
entrevista, o sociólogo analisa o período da ditadura militar e movimentos
populares. Para Lesbaupin, a ditadura civil-militar brasileira foi completa.
Tinha um projeto para o país e calou os trabalhadores e a imprensa.
Por Katarine
Flor
BoletimNPC- O que a Ditadura Militar representou para o nosso país?
Ivo
Lebauspin -Foi tanta coisa... Primeiro vou entrar nessa polêmica que está
correndo sobre “ditabranda” ou ditadura. Eu achei curioso porque eu usava essa
expressão para definir aos primeiros quatro anos da ditadura, que foi de 64 até
a edição do Ato institucional número 5, em 13 de dezembro de 68.
Depois do AI-5, nós descobrimos que até então
tínhamos tido uma “ditabranda”. A tortura não era sistemática. Ocorria, houve
mortes, assassinatos nesse período, mas ainda havia a possibilidade de
manifestação pública. A imprensa
era relativamente livre. Época das passeatas do movimento estudantil.
Era repressão, mas não era a ditadura plenamente
estabelecida, como foi a partir do AI-5. Daí para frente a tortura torna-se
sistemática. É o método de interrogatório usual. É inclusive o critério da
verdade. Eles primeiro torturam, depois verificam se cometeram algum engano.
Depois de torturar é que eles verificavam que a pessoa não era aquela. Era
outra. Pediam desculpas, mandavam embora independente do estado que tinham deixado
a pessoa.
Depois do AI-5 ocorreu a suspensão das garantias
constitucionais, dos direitos individuais, da possibilidade de reunião e a
censura à imprensa total... Aí realmente nós tivemos a experiência da ditadura.
No conjunto foi uma intervenção política para impedir que as reivindicações
populares fossem em frente.
O golpe que instaura a ditadura militar começou a
ser planejado três anos antes, quando Jânio Quadros renuncia ao mandato, com
sete meses de governo. João Goulart deveria assumir no lugar dele, como vice-presidente.
Neste momento, os militares tentam impedir sua posse. Aproveitam que ele está
na China, até voltar ao Brasil demoram alguns dias. Eles proíbem a volta de
Goulart. Como há uma reação popular, os militares acabam cedendo, mas impondo
uma condição: que era o congresso votar o parlamentarismo.
Então João Goulart volta como presidente em um
sistema parlamentarista. Não tendo conseguido impedir a posse dele, os
militares começam a preparar o golpe. Os três anos seguintes são de um governo
democrático, mas por debaixo dos panos estão criando condições para um golpe
militar e a instauração da ditadura. E quando esse golpe é dado, quando se
instaura a ditadura, já há um plano pra 20 anos no mínimo de controle.
Bloquear a reforma agrária que era a principal
motivação do golpe. A outra era levar à frente as reformas que eles achavam
fundamentais para o domínio da burguesia na época.
Então, na comparação entre as ditaduras brasileira,
Argentina (1973) e chilena (1976) há uma diferença evidente. Primeiro que a
ditadura brasileira foi praticamente a primeira. O Golpe de 64 vai servir de
escola para as outras. A chilena e a Argentina, do ponto de vista da repressão,
foram muito mais violentas. O número de torturados e mortos foi muito maior. Calcula-se 10
mil no Chile e 30 mil na Argentina. Se incluirmos a Guatemala nas histórias das
ditaduras, chegaremos a 150, 200 mil mortes.
BoletimNPC
- Que outras diferenças o senhor aponta entre as
ditaduras brasileira e outras na América Latina?
Ivo
Lebauspin -Os militares tinhamuma preocupação de desenvolvimento nacional.
Na questão da energia elétrica eles estabeleceram um parque de produção que
impediu que houvesse qualquer apagão até 2001. Mais de trinta anos de garantia
de energia elétrica.O que a
ditadura Argentina não teve. A ditadura Argentina foi ditadura militar, mas sem
um projeto de desenvolvimento do país. Foi muito mais destruição. Garantiu-se o
domínio da burguesia, mas sem um projeto de desenvolvimento nacional, como o
Brasil teve.
A gente chama a ditadura de militar no Brasil, por
hábito, é uma ditadura “civil-militar”. Os militares foram pontas de lança
desse processo. O braço armado, podemos dizer, para o domínio da
burguesia.O empresariado, que já é
nessa altura um empresariado internacional, passa a dominar completamente. Os
planos econômicos são feitos em função dos seus interesses. O famoso milagre
econômico, de 68 a 73, vai atender a seus interesses. Então os militares na
frente, mas quem está determinando, quem está produzindo ideologicamente
sustentando este regime foi o empresariado. Tanto na cidade quanto no campo.
Houve a modernização do campo. Investimento
agrário, agrícola. A mecanização do campo. Um tipo de dominação bem mais forte
do que o que havia anteriormente e que impedia a mobilização popular. Não é sem
razão que a igreja católica, especialmente, vai se tornar um pouco a defensora
dos camponeses. Porque não podendo mais funcionar o movimento sindical e o
Estado estando completamente sobre o domínio da ditadura, a única maneira que
restou para se mobilizar foi a igreja. Durante um bom tempo foi ela a forma dos
camponeses se organizarem. Como foi a forma dos índios se mobilizarem. Foi com
o apoio da igreja católica, particularmente, mas não só, a Igreja Luterana e
algumas outras igrejas evangélicas.
Então se nós tomarmos a ditadura não só no sentido
da repressão física, no número de mortos, de torturados ela é uma ditadura
completa. Se estabeleceu uma forma de governar que impediu as classes populares
de se manifestarem durante muitos anos. Só do movimento operário foram dez anos
sem greve, de 68 a 78. As últimas greves importantes foram em 68, antes do AI
5. E só se vai ouvir falar novamente em greves a partir de 78 no ABC.
Calaram o movimento operário. Com o movimento
camponês a repressão foi ainda mais forte do que nas cidades. Houve, mesmo no
período de 64 a 68, maior perseguição e um domínio ideológico muito forte.
Nesse período, as escolas serviram para a difusão da ideologia da segurança
nacional. Tem toda uma ideologia que sustenta a ditadura que vai ser difundida
durante esse período. E que vai condicionar os desenvolvimentos posteriores.
Nós estamos ainda sofrendo as consequências de toda uma geração que não teve
uma formação mais crítica neste período.
Com a censura à imprensa e com a escola dominada
ideologicamente por esse pensamento tivemos muita dificuldade das pessoas
formarem um pensamento crítico. No final dos últimos anos da ditadura a
abertura que vai se produzindo vaipermitir
a formação de um pensamento mais crítico nas universidades, nos colégios, no
ensino médio. Mas passou-se um bom período sem esse espaço de liberdade
crítica.
Então você tem um movimento estudantil muito
mobilizado até 68 e pouco a pouco vai sendo desbaratado, impedido de se
manifestar. E tanto o movimento operário é reprimido, que as primeiras
manifestações de movimento popular vão se dar nos bairros. Nas periferias
urbanas vão surgir os movimentos contra o custo de vida, que vão ser a forma
dos trabalhadores se organizarem. Como não podiam se organizar nas fábricas,
vão se organizar nos bairros. Essa vai ser a primeira brecha de organização
popular que vai se manifestar para, em seguida, passar para o movimento
operário. A partir das greves de 78,79,80 foram as grandes greves do ABC que
vão se espalhar um pouco pelo país inteiro. Com novas formas de organização
sindical. É um novo sindicalismo que surge e assim por diante.
BoletimNPC- A dificuldade atual de organização dos movimentos sociais vem
desse período?
Ivo
Lebauspin - Eu não diria isso. A ditadura condicionou o tipo de organização
naquela época, mas o movimento operário sindical dos trabalhadores vai
conseguir se organizar nos últimos anos da ditadura. Inclusive derrotar a
ditadura. Foi uma soma de fatores. Foram os trabalhadores, a igreja, igrejas,
outros setores sociais, Organização dos Advogados do Brasil. Foi toda a
sociedade civil que estava reagindo. Até a imprensa burguesa, anti-ditatorial,
o Estado de São Paulo vai um pouco nessa linha, pela liberdade de imprensa vão
contribuir para o final da ditadura.
Nos anos 80 vem toda uma discussão de democracia
que o Carlos Nelson Coutinho puxou. Democracia com valor universal, que é um
texto de 79, o ano da anistia. Foi publicado em 80 como livro.
Acho que a dificuldade atual do movimento sindical
se organizar é muito mais condicionado pelos desenvolvimentos posteriores da
hegemonia neoliberal. Que é uma fase posterior à ditadura. No nosso caso começa
a partir do governo Collor, em 1990. O desemprego em massa gerado pelas
políticas neoliberais vão desorganizar fortemente os movimentos sindicais. Vai
haver uma desindicalização fortíssima.
Os governos vão privilegiar os direitos das
empresas em lugar dos direitos dos trabalhadores. O desemprego vai contribuir
para isso e as leis trabalhistas vão ser diminuídas, flexibilizadas. O que vai
dificultar enormemente a organização. Eu digo isso porque o problema da
organização sindical não é exclusivo do Brasil. É assim no mundo inteiro. Nos
anos 90 ou 2000, no mundo inteiro o movimento sindical sofreu as consequências
dessa hegemonia neoliberal. Por conta do massivo desemprego estrutural que é
produzido.
Então parte da classe trabalhadora empregada
formalmente em empresas passa para a economia informal onde é muito mais
difícil se organizar. Além dos trabalhadores terem muito menos tempo. Porque
tem que trabalhar em dois, três empregos, ou bicos. Então organizar-se tornou
muito mais complicado.
O que a ditadura vai influenciar é mais
ideologicamente porque toda uma geração não teve uma formação mais crítica.
Pouco se soube da ditadura posteriormente, não se supera imediatamente o tipo
de educação, o tipo de escola, o tipo de universidade que se tinha
originalmente.
E logo em seguida entre o período de hegemonia
neoliberal que já é uma outra forma de ditadura. A ditadura do pensamento uno,
uma ditadura ideológica. Que também impede as pessoas de pensar. Todo mundo
passa a pensar daquele outro jeito, desse jeito. Individualista, consumista,
anti-coletivista. Que não favorece a organização coletiva.
BoletimNPC- Quando o senhor começou a militar na esquerda?
Ivo
Lebauspin - Eu começo a atuar na política a partir da JEC, nos anos 60. E
depois na JUC. Quando os jovens cristãos começam a atuar na política estudantil.
Então com 15, 16 anos começava a organizar o grêmio estudantil no colégio onde
eu estudava. Isso vira uma palavra de ordem na JEC, que os militantes deveriam
organizar grêmios em seus colégios, para fazer militância estudantil. E a gente
vai atuar na União Brasileira de estudantes secundários, aqui no Rio, UBES a
nível nacional.
E era uma época quentíssima. Época de João Goulart.
E a própria igreja, embora majoritariamente conservadora, tinha uma pequena
minoria muito crítica. Alguns bispos, Dom Hélder Câmara e esse grupo de JEC e
JUC que vai se engajar mais politicamente a fundo. Em pouco tempo em dois, três
anos cresce um engajamento muito forte até o golpe militar.
Então a gente já vinha de um envolvimento anterior.
Quando eu entrei na Ordem dos Dominicanos eu tinha 18 anos. Entrei nos
Dominicanos porque era uma Ordem mais comprometida com essa visão de
transformação social, mais crítica. Entrei eu e Frei Betto na mesma época. E
outros que viemos da JEC. Nós éramos doze dessa turma de 65, seis vinham da JEC,
de vários lugares do país. Começa a crescer a resistência à ditadura. E começa
a surgir a idéia de resistência armada. Essa idéia já vinha correndo no meio da
esquerda, da qual eu já fazia parte.
BoletimNPC- O senhor era a favor da revolução pela luta armada?
Ivo
Lebauspin - Nesse tempo, antes mesmo da ditadura militar, nós já
discutíamos revolução. Porque já tinha havido a Revolução Cubana, em 1959.
Então vivia no ar essa idéia. O golpe militar veio trazer um pouco mais de
urgência para isso. Não há somente a necessidade de revolução contra o sistema
capitalista, mas agora a única maneira de derrubar a ditadura é através da luta
armada.
Se isso não estava evidente até o Ato Institucional
número 5, a partir deste momento não havia dúvidas. Pelo menos para uma parte
da esquerda, mais jovem, ficou claro que a única saída era a luta armada.
Então grupos de cristãos que se envolvem com a de
esquerda ou vão se engajar em organizações de luta armada, ou vão apoiar à
distância. Uma ou outra parte da esquerda vai achar que isso é uma aventura e
que não há condições para a luta armada. Mas o clima na época era esse. A saída
era essa. Quanto mais a ditadura radicalizava na repressão mais achava que esse
era o caminho.
BoletimNPC- O senhor ainda acredita na luta armada?
Ivo
Lebauspin - Não, isso foi em 1964, 65, 66...Pela influência da Revolução Cubana, em 59, a Revolução Chinesa ainda estava
próxima, 1949. Nós estávamos em 64, 65. Havia a idéia de que era possível fazer
essa revolução. E também parecia uma dedução lógica do marxismo de que a única
maneira de superar o capitalismo era a revolução. Nós ficamos quatro anos
presos, o meu grupo. Frei Beto, Fernando e eu. Os outros que foram presos
conosco foram soltos em menos de um ano. Nesse período a gente estava em
congresso permanente. Porque nós estávamos presos. Não poderíamos ser presos
por falar coisas subversivas. Já estava na prisão então podia falar vontade.
Era uma grande vantagem que tínhamos sobre os que estavam do lado de fora. Do
lado de fora, só se podia falar escondido. Tomando cuidado para não falar mais
alto. Lá dentro, não se podia falar em voz alta. Então era um congresso
político permanente.
Durante este período, nos dois primeiros anos por
exemplo, nós ainda acreditávamos na luta armada. Fui preso em 69, então seria
em 70 e 71.Ainda acreditávamos na luta
armada, só pensávamos em como corrigir os erros cometidos para que a luta
armada desse certo. De 72 em diante nossa cabeça começa a mudar.
A gente começou a perceber que houve um erro na
nossa análise. Que era achar que a vanguarda indo, o povo vai junto. E
esqueceu-se de que a condição fundamental para fazer a revolução é o povo. E
isso vai mudar a nossa cabeça. Nos dois últimos anos de prisão a reflexão foi
caminhando no sentido em que: primeiro a luta armada estava totalmente
desbaratada. Não totalmente porque a do Araguaia só vai terminar em 74. Mas já
se percebia que a ditadura era vitoriosa. Só conseguiu se salvar quem foi para
o exterior. Quem voltou, ou quem ficou, com raríssimas exceções, acabou sendo
morto ou preso.
Então começa a reflexão sobre um outro tipo de
saída. E tem que partir do povo. Nós temos que estar no meio do povo. E é da
organização popular que vai vir a saída. E não somos nós que vamos ditar esse
processo, pelo menos não nós sozinhos.
Começa a crítica mais dura ao vanguardismo. Ainda líamos
Marx e os autores marxistas de uma forma um pouco ortodoxa. Quer dizer, você lê
Marx e acreditar. Nós chamamos isso de uma espécie de religião marxista. Tem
sua fé e você tem que acreditar em Marx. Tem os seus dogmas. Tem que repetir
Marx. E totalmente contrário ao espírito científico do próprio Marx, que fez a
crítica da ciência da época.
E nós, marxistas daquele tempo, éramos muito pouco
científicos nesse sentido. Ou seja, criticar os próprios textos do Marx. Ler a
realidade com a cabeça crítica. E isso demorou, veio e começou a acontecer
nessa época. Uma leitura mais crítica. Você ser capaz de dizer o contrário do
que Marx diz.
Olhei a realidade com uma visão mais crítica.
Inclusive foi essa leitura que permitiu que a gente mudasse o governo. A
revolução não é mais o caminho, ou só será mais adiante, em outras condições.
Entre 73 e 75 saem muitos presos políticos. Em 79
voltam os exilados e os últimos presos políticos são libertados. Vem uma fase
de muita participação popular. E de uma certa euforia porque a ditadura está se
esvaindo. Período de abertura, lenta, gradual e segura.
A liberdade de impressa já começa em 76. Uma
liberdade maior. Os movimentos começam a aparecer mais fortemente a partir
desse ano. 78 os movimentos operários, as greves. Na década de 80, mesmo nos
primeiros anos já é uma época mais participativa mesmo antes do final da
ditadura. Vem o movimento pelas diretas.
A esquerda começa a ter a idéia de que deve
participar na política institucional. Coisa que durante dez anos não se tinha
pensado. Era só luta armada revolução. Se repensa a questão do partido
político. Vem o PT em 1980. Outros acham que é o PMDB porque é mais amplo.
Uma parte da esquerda vai se engajar no PT como uma
forma de saída de participação junto aos trabalhadores. Vai se pensar cada vez
mais em uma saída institucional. Movimentos sociais e partido político.
Respeitando a autonomia dos movimentos sociais. Isso é uma novidade na
esquerda. Porque a esquerda anterior não pensava em autonomia de jeito nenhum.
Os movimentos sociais tinham que ser atrelados ao partido. O partido que
determina o caminho. Já é a esquerda se repensando.
BoletimNPC- Como acontece essa ditadura ideológica dos anos 90?
Ivo
Lebauspin - É um outro tipo de ditadura que tem liberdade de imprensa
total, participação, eleições. Mas onde você já não pode debater nada. Porque a
mídia não permite o debate. É só o pensamento único. Não tem censura. Eles são
auto-censurados.
É uma ditadura ideológica. Como diz o Milton Temer,
que era jornalista nesse período, diz: “no meu no meu tempo de jornalista
jovem, os jornalistas eram de esquerda, os repórteres eram de esquerda. Os
donos dos jornal eram de direita. Nos anos 90, os donos eram neoliberais. Os
jornalistas também eram neoliberais”.
Então, quando eles me entrevistavam, não me
entrevistavam como quem tem uma visão crítica. Eles entrevistavam como que é
crítico a que é crítico ao neoliberalismo. Eles eram também neoliberais. Eles
tinham a mesma cabeça do patrão. Com raras exceções tinha algum jornalista
crítico. Mais os jornais eram neoliberais e não apenas os artigos assinantes.
Então você tem a maior dificuldade de fazer passar
um pensamento crítico. Não tem meios de comunicação públicos massivos onde
passa essa crítica. Essa crítica passa em jornais alternativos, pouquinhos, que
tem a maior dificuldade de se manter. Toda a mídia, Jornal do Brasil, Folha de
São Paulo, O globo, O Estadão, Bandeirantes, Manchete, Globo, SBT, tudo é o
mesmo pensamento. Você pode mudar de canal. Eventualmente pode ter notícias
diferentes, mas a visão sobre a notícia é a mesma.
BoletimNPC- E como mudar essa estrutura?
Ivo
Lebauspin -Foi preciso chegar setembro de 2008. Foi preciso que eclodisse
a crise mundial para que se abrisse uma brecha. Foi a primeira vez que no
jornal começou a sair alguma coisa crítica ao neoliberalismo. E olha que está
difícil.