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Esquerda francesa acusa ‘Um G20 para quase nada’

Para as organizações francesas reunidas no coletivo "Não pagaremos a crise deles", o G20, "como se temia, não traz nenhuma resposta para a crise global que abate todo o planeta". O  texto, que aponta soluções de fundo e também medidas emergenciais contra a crise econômica, é assinado por 36 entidades nacionais e sete partidos políticos. Veja a íntegra de Um G20 para quase nada.


"
A reunião do G20 em Londres na quinta-feira, 2 de abril, pariu, como temíamos, conclusões simbólicas que vão contra a nova dinâmica global pretendida pela opinião públicado mundo inteiro.

É óbvio que os chefes de Estado e de governo dos 20 países considerados os mais
poderoso escolheram, através da sua declaração final da relegitimar um sistema que no entanto está em crise estrutural e reforçar o papel de suas mais contestadas instituições.

FMI, Banco Mundial, OMC e do Fórum de Estabilidade Financeira: através dos seus US$ 1,1 trilhão, o G20 escolheu para estruturar sua resposta à crise quatro instituições cujas políticas são desde há muito denunciadas pela sociedade civil por seu impacto negativo sobre o desenvolvimento e acesso a direitos das populações do mundo inteiro.

Ao dar ao FMI e ao Banco Mundial a responsabilidade pelas operações de crédito para países violentamente atingidos pela crise (chegando a decidir um aporte de US$ 750 bilhões ao FMI), o G20 recoloca de pé duas instituições amplamente desacreditadas pelos fracassos de suas políticas, que, há menos de um ano, concentravam as críticas de toda a comunidade internacional. Esta reabilitação se opera sem que tenham lugar compromissos satistatórios no que se refere à sua reforma interna ou à mudança de rumo de sua política, nem à sua integração no quadro institucional e legal do sistema das Nações Unidas.

O comércio internacional é apresentado como a principal fonte de criação de riquezas e  relançamento econômico, apesar do evidente impasse a que levou a liberalização comercial e a desenfreada globalização dos mercados. A responsabilidade dos tratados de livre comércio na desregulamentação financeira e a multiplicação de produtos e práticas especulativas de alto risco sequer são questionadas.

O G20 não oferece nenhum compromisso específico quanto ao fim da ditadura dos mercados financeiros, via drásticos instrumentos públicos de controle e regulação. Os bancos e instituições financeiras deverão ser salvos por todos os meios, ao preço do financiamento público, sem qualquer garantia às populações (de crédito, serviços bancários...) e sem que sua estatização tenha sido sequer sugerida. Nenhuma interdição da especulação com matérias-primas foi sequer esboçada.

A colocação dos territórios não-cooperativos no plano bancário e fiscal (paraísos fiscais) numa lista suja não responde às exigências da cidadania, que pretendia ver banidos, ao menos por parte dos países do G20 e suas grandes empresas, qualquer forma de domicílio ou de trânsito dos seus ativos em paraísos fiscais.

Os slogans sobre a necessidade de uma maior vigilância e uma melhor regulação das agências de classificação de instituições bancárias e dos atores financeiros virarão, sem dúvida, letra morta.

Vale lembrar que, após a crise asiática do final dos anos 90, medidas inéditas de proteção do mercado interno foram introduzidas em muitos países abertos à liberalização financeira. Posteriormente, elas foram alegremente desmontadas sob pressão dos Estados europeus e os Estados Unidos, particularmente no contexto das negociações comerciais regionais e bilaterais.

Por fim, os compromissos com a luta contra a desigualdade social, a criação de empregos e a proteção sustentável dos ecossistemas não vêm acompanhados por qualquer medida específica. São tratados em parágrafos tão genéricos como marginais: nem novos instrumentos de redistribuição, nem investimentos maciços em uma verde economia e geradora de empregos decentes e justamente remunerados.

O G20 não traz qualquer proposta de criar novos instrumentos a serviço de uma outra globalização, solidária e ecológica, tais como impostos globais ecológicos e sobre as transações financeiras. O G20 emudece sobre o reconhecimento e promoção de bens públicos mundiais, tais como saúde, água, educação e saber, indispensáveis para se reconstruir a globalização sobre novas bases.

Todos nós, organizações de solidariedade internacional, sindicatos, associações de proteção do meio ambiente ou de defesa dos direitos, sabemos que as mesmas políticas conduzidas pelos mesmos atores conduzirão ao mesmo efeito: desigualdades crescentes e pregarização dos "não-ricos"; drenagem sistemática dos recursos naturais e degradação do equilíbrio ecológic; sucateamento da solidariedade e proteção social; concentração do poder econômico nas mãos de um punhado de multinacionais que só cuidam de proteger os interesses das suas elites.

O mundo da solidariedade, da paz e da justiça social. pretendido por nosso coletivo, reunido sob a bandeira "Não pagaremos a crise deles", não foi sequer esboçado em Londres neste 2 de abril de 2009.

A operação cosmética londrina tenta, ao contrário, restaurar um pouco o lustre de um sistema fundamentalmente injusto e decididamente desacreditado.
Nossas organizações permanecerão mobilizadas para informar os cidadãos, fazer ouvir nossa análise e nossas propostas e somar-se aos movimentos globais de resistência e  solidariedade que terão lugar França, na Europa e no mundo."

Publicado orginalmente no Portal Vermelho
3/04/2009


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 NPC - Núcleo Piratininga de Comunicação * Arte: Cris Fernandes * Automação: Micro P@ge