Comunica��o Alternativa Movimento pela democratização insiste na revisão das concessões de rádio e TV
Como
anunciamos no último boletim, o Governo finalmente definiu o tema da primeira
Conferência Nacional de Comunicação. A temática do encontro será Comunicação: Direito e Cidadania na Era
Digital. A definição do tema era a peça que faltava para a publicação do
decreto presidencial convocando a conferência.
Como
lembra a militante do coletivo Intervozes, Carolina Ribeiro, a Comissão
Pró-Conferência havia sugerido ao Governo outro tema: Comunicações - meios para a construção de direitos e de cidadania.
“Nós
sabíamos que o Governo poderia focar nas novas tecnologias. Mas esperamos que
isso não signifique a ausência de debate sobre a questão analógica, que é a
demanda atual da sociedade. Achamos que, por um lado, eles acataram nossa
reivindicação, incorporando no tema a questão do direito e da cidadania”.
Para
ela, essa é a questão mais importante no momento: “Precisamos tratar com
urgência nessa Conferência das rádios e TVs comunitárias, transparência e
democracia nas concessões públicas etc”.
Carolina disse ainda que o Intervozes
está tentando, por várias frentes, fazer o Governo soltar o decreto. “O que
sabemos é que ele está pronto, falta apenas a autorização do presidente. Estamos
tentando marcar inclusive uma audiência com assessores do Ministério das
Comunicações, Casa Civil e da Secretaria Geral para poder cobrar a publicação
imediata do decreto, já que o tema já foi definido”.
O
foco da discussão nas tecnologias não ocorre apenas no campo da comunicação. Em
outras áreas, os avanços tecnológicos acabam sendo privilegiados, em detrimento
de outros setores “considerados menos importantes”. Essa é a opinião da
pesquisadora em educação da Fiocruz, Lucia Neves. Ela lançou, juntamente com
Marcela Pronko, o livro O mercado do conhecimento
e o conhecimento para o mercado.
A
obra, como ela explica, fala sobre a tendência das políticas governamentais contemporâneas
de focarem nas novas tecnologias: “Para os liberais (neo ou não), o progresso virá pelo desenvolvimento e investimento nas
tecnologias. E hoje em dia, é claro que essa discussão passa pelo campo das
comunicações. Já para os socialistas, como eu, as novas tecnologias são fundamentais
sim, mas elas sozinhas não significam uma melhoria. A verdadeira transformação
da sociedade só vem com a superação das relações de poder atuais e a emancipação
da classe trabalhadora.”
Como
ela conclui, os liberais costumam usar o tema das tecnologias para desviar o
foco da questão central, que é a luta de classes. “É por isso que hoje só vale
investir no desenvolvimento dessas forças que significam o progresso. E é por
isso que a educação, por exemplo, não tem sua vez”. O receio de Carolina
Ribeiro, do Intervozes, e dos militantes Pró-Conferência Nacional de
Comunicação é que a comunicação popular e democrática também não tenha sua vez.
Por isso é importante que os movimentos sociais e de comunicação insistam neste
tema.