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Por NPC
Álvaro Brito, professor de comunicação de Barra Mansa, defende formação crítica

Em entrevista ao Boletim NPC, o jornalista e professor de comunicação Álvaro Brito fala sobre a multiplicação de cursos privados de jornalismo, o que seria uma preocupação por formarem profissionais “exclusivamente para o mercado”. Para o jornalista, é complicada uma formação com pouco acúmulo crítico, porque o resultado é a reprodução do modelo que está aí: “a serviço da manutenção da ideologia dominante e criminalizando cada vez mais os movimentos sociais”. Ele ainda disse ser, a princípio, contrário à saída de jornalismo do curso de comunicação social.

O Ministério da Educação (MEC) anunciou no início deste ano a formação de uma comissão do MEC para rever as linhas pedagógicas do curso de jornalismo. De onde vem essa necessidade?
Essa discussão surgiu justamente no momento em que está em alta a discussão da obrigatoriedade do diploma de jornalismo. No meio desse debate surgiu essa proposta do MEC de se avaliar e discutir as diretrizes curriculares. O Fernando Haddad já declarou ser a favor de uma especialização em jornalismo. O estudante com um diploma de alguma área afim faria apenas a pós em comunicação.

Creio que essa proposta do MEC de rever as diretrizes curriculares, que valem desde 2001, é menos por necessidade do que para dar uma resposta à discussão da exigência ou não do diploma de jornalista. É óbvio que é positivo rever e repensar o currículo sempre que possível, mas creio que foi mais para dar uma resposta do que uma demanda de professores e estudantes.

O que você acha da formação do profissional de comunicação hoje?
Há cursos e cursos. A proliferação dos cursos de comunicação afetou a qualidade. Houve estímulo do MEC, autorizando e validando esses novos cursos, mas não houve um esforço para fiscalizar. Então foram surgindo muitos cursos, e hoje a maioria do ensino é privado. A principal questão é que os cursos privados, ao contrário de alguns públicos, têm apenas o compromisso com o lucro. Formam um profissional exclusivamente para o mercado. Nelas existe pouco acúmulo crítico, e não são estimuladas outras discussões teóricas no campo da comunicação – ao contrário do que ocorre, por exemplo, em algumas universidades públicas.


Então há deficiência na qualidade de formação do comunicador...
A maioria dos cursos têm formado jornalistas para reproduzir o modelo que já está aí. E isso é muito complicado no quadro da comunicação em que vivemos: de concentração dos meios, monopólio, a serviço da manutenção da ideologia dominante e criminalizando cada vez mais os movimentos sociais. Os alunos, sem uma formação crítica, saem meros reprodutores dessa lógica excludente. Percebemos isso quando vemos que as iniciativas de comunicação livre surgem mais da sociedade civil, dos militantes de rádios comunitárias, dos movimentos sociais e sindicais do que da Universidade. A universidade podia estar mais presente nesse debate, inclusive a pública.

 

E a proposta de jornalismo deixar de ser uma habilitação do curso de comunicação social e passar a ser um curso específico. O que você acha?
Estou aberto para o debate. A princípio eu não simpatizo com essa idéia, apesar de a maioria da comissão estar favorável. Inclusive essa é a posição da FENAJ. Acho que vamos perder muito. Estamos vendo a emergência de profissionais cada vez mais focados, especializados. Acho que o jornalista tem que saber a discussão geral da comunicação. O jornalismo como um curso específico, desvinculado das outras questões, acaba se aproximando de um curso técnico – como  aprender as técnicas de reportagem, de entrevista, ou então como escrever um release... O que mais falta hoje é aprofundar certas questões, como a ética, as políticas e os rumos da comunicação, dentre outros. Temo que desvincular jornalismo de comunicação abre também a possibilidade de se adequar mais à lógica do mercado. Mas, estou aberto ao debate.

E a sua opinião em relação à exigência do diploma?
Eu defendo a formação completa em comunicação social. Mas, como um grande defensor da comunicação alternativa/comunitária, acho que a exigência do diploma é válido para as empresas, assessorias, grandes corporações, poder público, ou seja, de acordo com o grau de responsabilidade do veículo de comunicação de massa.

É necessário criar formas de flexibilizar essas exigências para favorecer a comunicação alternativa e comunitária, como formar comunicadores populares que sejam bem treinados. Porque essa é a maneira de gerar a contra-hegemonia necessária para mudarmos um pouco o que está aí.

 


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 NPC - Núcleo Piratininga de Comunicação * Arte: Cris Fernandes * Automação: Micro P@ge