M�dia
A verdadeira face da Folha de S. Paulo
Hamilton Octavio de Souza - jornalista e professor
da PUC-SP Depois
de cometer um erro político histórico imperdoável e de agredir grosseiramente
seus leitores – inclusive dois respeitados professores universitários e
intelectuais - a Folha de S. Paulo – o jornal diário brasileiro de maior tiragem
– tem sido alvo de justo e indignado protesto democrático, por meio de cartas,
mensagens na internet e abaixo-assinados. Poucas vezes um jornal foi tão
repudiado nos últimos tempos, embora tenha deixado de publicar em suas páginas
as inúmeras manifestações de pessoas e entidades.
Primeiro, no dia 17 de fevereiro, em um editorial
raivoso contra o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, chamado o tempo todo de
“ditador”, o jornal se referiu à ditadura civil-militar brasileira (1964-1985)
pela alcunha de “ditabranda”, como se os 21 anos de terror do Estado vivido
pelo povo brasileiro pudesse ser amenizado ou apagado da história.
Segundo, nos dias seguintes a redação do jornal
contestou leitores que prostetaram contra o termo “ditabranda” dizendo que a
ditadura brasileira não havia atingido níveis de violência como outras
ditaduras na região – mais uma vez para amenizar e minimizar o estrago do
regime que vitimou o Brasil de 1964
a 1985 e que deixou feridas não cicatrizadas e danos
políticos, econômicos e sociais não superados até hoje.
Terceiro, em nota sobre as várias cartas enviadas
para a coluna dos leitores, o jornal chama de “cínica e mentirosa” a legítima e
corajosa indignação dos professores Fábio Konder Comparato e Maria Victória
Benevides, ambos da USP, conhecidos e respeitados por seu brilhante trabalho
acadêmico e sua intensa militância democrática.
Essa “Nota da Redação”, no dia 20 de fevereiro,
serviu como estopim em
pleno Carnaval: em poucas horas, inúmeros protestos e
abaixo-assinados começaram a circular na internet, inclusive cópias de cartas e
de mensagens enviadas à própria Folha de S. Paulo – todas contendo
manifestações indignadas contra a distorção histórica do jornal e contra o
tratamento autoritário e desrespeitoso dado aos seus leitores.
Ao mesmo tempo foram veiculados em diferentes sites
e blogs de jornalistas políticos notas e artigos sobre a própria trajetória
histórica da Folha de S. Paulo, lembrando que o jornal apoiou o golpe de
1964, colaborou com a ditadura civil-militar, emprestou carros para o
transporte de prisioneiros e torturados da Oban-Doi-Codi, entregou o controle
do jornal Folha da Tarde para policiais ligados à repressão política e
defendeu a candidatura do general “linha dura” Silvio Frota – no momento em que
a sociedade brasileira lutava pela redemocratização do País.
Na verdade, entre os jornalões da grande imprensa
empresarial burguesa, a Folha de S. Paulo tem sido o mais
eficiente na arte da enganação de seus leitores e admiradores – em especial
daqueles que desde o início dos anos 80 consideram o diário paulistano um
veículo mais democrático e mais aberto às idéias progressistas do que os seus
concorrentes O Estado de S. Paulo, O Globo, Jornal do Brasil, Zero Hora,
Correio Braziliense e outros de menor
expressão.
Puro engano. O marketing do jornal incorporou a
exploração do projeto de distensão da ditadura como um ingrediente para
alavancar as vendas, ampliar o leque de sustentação política ao jornal (“à
esquerda do Estadão”) e “limpar a
barra” de sua ligação íntima com a ditadura civil-militar. Fez parte desse
esquema de marketing a abertura das páginas de opinião do jornal para
articulistas e colaboradores do campo democrático durante algum tempo e o apoio
ao movimento das eleições diretas, em 1984 – quando a Folha de S. Paulo superou
seus concorrentes em tiragem e vendas.
No entanto, qualquer observação mais cuidadosa das
páginas do jornal, hoje, permitirá identificar que a grande maioria dos
articulistas e colaboradores está organicamente vinculada ao pensamento de
direita, neoliberal – entre os quais vários empresários, executivos de
multinacionais, acadêmicos conservadores e jornalistas confessadamente
alinhados com o pensamento dominante. A Folha de S. Paulo não é nem de longe
um jornal democrático, muito menos um jornal que tenha a ver com as lutas dos
trabalhadores e com as transformações políticas, econômicas, sociais e
culturais que o povo brasileiro precisa e merece.
A verdadeira face da Folha ainda tem a ver com
a ditadura civil-militar de 1964-1985, que só é “ditabranda” nos editoriais do
próprio jornal.
Núcleo
Piratininga
de Comunicação
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