Comunicao Alternativa
Jornal Em Tempo comemora 30 anos
PORTO ALEGRE – Filho da experiência do jornal Movimento e precursor do boletim da Democracia Socialista, corrente do Partido dos Trabalhadores, o jornal Em Tempo marcou época com capas memoráveis e denúncias contra a ditadura. O deputado estadual do Rio Grande do Sul e dirigente petista Raul Pont organizou, na capital gaúcha, um reencontro dos fundadores do jornal na década de 70. “Hoje nós vamos repartir os dividendos dos acionistas do Em Tempo”, comentou Pont, com a lista dos primeiros colaboradores do jornal em mãos.
“Brizola não é mais aquele”. “Gramsci na crista da onda”. “Transas de Roberto Carlos”. “Discutindo o eurocomunismo”. “Mais um operário sofre violência em Minas”. As manchetes do primeiro número do jornal Em Tempo, de 23 de janeiro de 1978, são uma boa bússola do que a esquerda pensava na época e do conteúdo que recheou o jornal nas décadas seguintes.
O Em Tempo é filho das primeiras experiências de imprensa alternativa que demarcavam espaço contra a ditadura. Distribuído de carro ou bicicleta pelos próprios colaboradores, em bancas de revistas que aceitassem colocá-lo à venda, o jornal teve circulação nacional, e foi referência para os setores de esquerda que tentavam sobreviver ao regime militar.
A matéria principal, da mesma primeira edição, intitulada “Racha no poder”, começa assim:
“Transformado pelas circunstâncias numa real dissidência burguesa que claramente contesta os planos de continuísmo no Planalto através da nomeação do general Figueiredo para a Presidência da República, o senador Magalhães Pinto reúne a cada dia que passa um número maior de adesões e já até estabeleceu o seu plano: rachar, numa primeira etapa, a convenção da Arena e em seguida conquistar o apoio do MDB, apresentando-se como o ‘candidato de União Nacional’”.
A ilustração é de Chico Caruso e a matéria segue nas páginas 4 e 5 com “ampla cobertura sobre Magalhães e a conjuntura”.
“A idéia e o projeto do jornal, apesar de oportunos e necessários, não garantiam uma coesão entre os responsáveis por consolidar sucursais, bem como os compromissos decorrentes da sustentação material do projeto. Desde a escolha do nome e a chegada das primeiras edições às ruas, a frente do jornal era um permanente tensionamento. O peso desigual das várias sucursais tornava a disputa editorial e a orientação de cada artigo ou matéria uma disputa de táticas e estratégias entre seus protagonistas”, analisa Pont.
As principais sucursais estavam baseadas em São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre e foram as equipes destas capitais que mantiveram o projeto e o engajamento editorial do jornal. Daí, para a contribuição decisiva na defesa da construção do PT foi um pulo, até o jornal se tornar a principal expressão de uma das correntes internas do partido, a Democracia Socialista. Segundo Pont, “a democracia interna, a definição pela perspectiva socialista e a luta e apoio à organização da classe trabalhadora fizeram com que a identificação editorial do Em Tempo com o movimento pró-PT fosse total.
Os primeiros passos do PT determinaram uma coesão mais firme e decidida da linha editorial do jornal. O projeto petista não aglutinava toda a esquerda brasileira, o que fez com que a frente jornalística do Em Tempo sofresse novas defecções e, num determinado momento, o próprio projeto esteve prestes a desaparecer”. A dificuldade de realizar e distribuir um jornal e as divergências políticas de linha editorial foram os grandes motivos para a redução de sucursais e pela troca de periodicidade do jornal, de semanal para mensal.
A história do periódico começa, na verdade, em 1977, com o número zero que seguiu costurando a História com cada matéria. Na edição que circulou entre 20 de fevereiro e 6 de março de 78, “Luta pela Anistia em todos os cantos” é a manchete. “Propondo-se a lutar, em todos os cantos, pela anistia ampla, geral e irrestrita, foi lançado no último dia 14, no Rio de Janeiro, o Comitê Brasileiro Pró-Anistia”.
Logo abaixo, em letras grandes: “Brasileiros no exílio. Existem atualmente cerca de 200 presos políticos no Brasil, além de 12 mil brasileiros exilados (incluindo familiares)".
E ainda: 4.582 cassados e 3.783 aposentados pelo AI-5 e demais atos de exceção”. “Todos de volta até o natal”, é a última frase da capa da publicação. No número 6, a manchete pergunta: “14 anos de regime militar! Até quando?”.
Em maio do mesmo ano, “A grande greve do ABC”, ocupa toda a primeira página do Em Tempo, com fotos de fábricas da região paulista. Em julho, foi publicada a lista de policiais e militares acusados por tortura. A capa acusa: “Presos denunciam 233 torturadores”.
“Foi assim, ainda, na luta pela anistia, no apoio à construção da CUT e na defesa das Diretas Já, as grandes manifestações populares que deram ao PT a vanguarda da luta pela democracia. Estivemos, também, no processo de defesa da Assembléia Constituinte, livre e soberana, como bandeira globalizadora na superação do regime militar, e na denúncia dos limites do Congresso Constituinte. O internacionalismo, bandeira tão cara aos socialistas, sempre encontrou no Em Tempo um veículo para sua difusão”, resume Pont.
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