Pol�tica
Cai o controle estratégico dos EUA nos Cáucaso
[Por Achille Lollo]
Entre os dias 6 e 12 de agosto, TV Globo, SBT, Record e Bandeirantes prestaram um valioso serviço ao Departamento de Estado dos EUA, ao veicular em seus noticiários as manipulações da CNN e da Fox, que falsearam a realidade ao dizer que a Geórgia - colonial estadunidense no Cáucaso - havia sido atacada pela Rússia. Na verdade, foi o presidente georgiano, Mikhail Saakashvili, que lançou um sanguinário ataque para reconquistar Tskhinvali, capital da região rebelde Ossétia do Sul.
Provocações e sabotagens
A guerra relâmpago entre Geórgia e Rússia não eclodiu por acaso. A Geórgia, a mando dos EUA, pretendia, por um lado, esgotar a Rússia em uma guerra de fronteira e, por outro, reconquistar as duas províncias rebeldes, Ossétia do Sul e Abkhazia - que desde 1992 se autoproclamaram independentes mantendo estreitas relações com a Rússia. O ataque da Geórgia teve inicio na última semana de junho, quando o presidente da Ossétia do Sul, Eduard Kokoity, denunciava aos "peace keepers" russos, encarregados da manutenção da paz pela ONU, as infiltrações de tropas especiais georgianas nos arredores da capital rebelde Tskhinvali - operação igual se realizava também ao longo da fronteira de Abkhazia.
No dia 14 de julho, em várias províncias da Ossétia do Sul, houve sabotagens e mortíferas explosões. No dia 15, o Exercito da Geórgia e seus assessores estadunidenses realizavam a longo da fronteira da Ossétia do Sul (que fica a
estadunidenses - entre pára-quedistas da SETAF, "Marines" e unidades da Guarda Nacional - além de destacamentos de tropas especiais de Ucrânia, Azerbaijão e Armênia, cujos governo são monitorados política, econômica e militarmente pelos EUA desde os tempos de Clinton.
Homens do Pentágono
No dia 16 de julho, o governo georgiano aprovou o aumento em 26,8% do orçamento das Forças Armadas e a criação de mais uma divisão de tropas especiais, com 5.000 homens, treinados pelos homens do Pentágono. No dia 30 de julho eram mobilizados 100.000 reservistas que ficaram de prontidão à espera de um "ataque de surpresa da Rússia". Dia 4 de agosto, os "comandos" georgianos iniciam a limpeza étnica em várias aldeias da Ossétia do Sul, alvejando, sobretudo, homens e crianças. Milhares de camponeses fogiram em direção à capital Tskhinvali, o que fez com que o Comitê de Crise da Comissão Européia logo informasse as chancelarias da União Européia afirmando que "(...) Na prática, temos a plena certeza de que os serviços secretos da Geórgia estão por traz das provocações contra habitantes da Abkhazia e da Ossétia do Sul.".
No dia 5 de agosto, o presidente da Geórgia, Mikhail Saakashvili passou toda a tarde em videoconferências com a Secretária do Departamento de Estado dos EUA, Condolezza Rice e com Jaap de Hoop Scheffer, Secretário Geral da OTAN.
O ataque
Na madrugada de dia 6 de agosto, oito caças-bombardeiros da Geórgia começaram a bombardear a capital rebelde Tskhinvali. A seguir as unidades de artilharias com 70 canhões de
Diante desse massacre, o presidente da Rússia, Dmitrij Medvedev, já pediu que o Tribunal Internacional de L´Haja investigue e processe o presidente da Geórgia, Mikhail Saakashvili, por genocídio e limpeza étnica em Tskhinvali.
Capacetes azuis
Os correspondentes da TV Aljazira contam que os primeiros alvos dos caças georgianos foram os quartéis dos capacetes azuis da ONU, onde residiam 1.600 "peace keeepers" russos e o Centro de Imprensa. Conseqüentemente 10 oficias russos morreram e outros 150 ficaram gravemente feridos. Entre os jornalistas, 10 ficaram feridos e quatro foram atingidos mortalmente, entre eles, o operador de TV da RTL holandesa, Stan Storimans.
A certeza de que a Rússia não se atreveria em atacar um "aliado de Bush" generalizou a sanha assassina dos soldados georgianos, que priorizaram as operações de saque e de limpeza étnica em Tskhinvali, Kutaysi e Sakeni. Por isso, a missão de criar uma linha de defesa anti-tanques em todo o corredor rodoviário de Rokir - onde passa a única auto-estrada que vai até a fronteira russa - não foi cumprida. Um erro pelo qual o Exercito da Geórgia pagou um preço caro.
A Rússia contra-ataca
Quando o primeiro-ministro russo, Vladimir Putin - que estava em Pequim, assistindo aos jogos olímpicos - e o presidente Dmitrij Medvedev - que gozava férias de verão - receberam o informe do ataque traiçoeiro da Geórgia, não tiveram nenhuma dúvida em mobilizar o Exército para dar uma lição
Em 24 horas, a 58ª divisão de infantaria motorizada, com a devida cobertura aérea, penetrava em Ossétia do Sul, reduzindo a cinza os poucos destacamentos georgianos que patrulhavam o corredor de Rokir. Em seguida, os tanques russos atacavam as unidades georgianas que haviam ocupado Tskhinvali. Ao mesmo tempo em que a Marinha russa atacava o porto de Poti, no Mar Negro, outra divisão ocupava as regiões de Bas Kvaptchara e Kodori, empurrando o que sobrava do exército georgiano fora das regiões da Abkhazia.
Libertada Tskhinvali, a ofensiva russa parou a
No dia 10 de agosto, o Exército da Geórgia entrou
Neste contexto, o presidente dos EUA tentou levantar a voz, ameaçando a Rússia com retaliações nas relações bilaterais, tentando, assim, ganhar com a diplomacia do Departamento de Estado o que o Pentágono, a CIA e a OTAN haviam perdido com a guerra.
Os resultados foram miseráveis, e Condolezza Rice teve que sair de cena para que entrasse em campo o presidente francês Sarkozy, que, em nome da União Européia, definiu um cessar-fogo com o primeiro-ministro da Rússia, Vladimir Putim.
O documento, além de oficializar uma maior presencia dissuasória do Exército russo para proteger as populações da Abkhazia e da Ossétia do Sul, legitimava o status quo das duas províncias separatistas. Diante da iniciativa de Sarkozy e do posicionamento da maioria dos países europeus, o presidente georgiano teve que assinar o cessar-fogo que, na realidade, minimiza os sonhos de grandeza da Geórgia, bem como as projeções geoestratégicas de seu "aliado estadunidense".
Rússia e China
Outro elemento da derrota política dos EUA foi a incapacidade de inviabilizar com esta guerra o estreitamento das relações políticas, econômicas e estratégicas entre a Rússia e a China. De fato, o regime chinês, logo manifestou sua solidariedade ao primeiro-ministro russo, Putim. No campo geo-estratégico a derrota foi mais profunda por evidenciar o cinismo dos EUA, que utilizaram a Geórgia, em uma guerra-relâmpago mal planejada e pessimamente monitorada.
Além disso, a derrota militar sofrida pela Geórgia demonstra a incapacidade do Departamento de Estado dos EUA de resolver os conflitos separatistas que afligem todos os países do Cáucaso aliados dos EUA, nomeadamente, Uzbequistão, Armênia, Azerbaijão e Quirguistão. O único resultado positivo para os EUA foi a decisão da Polônia de aceitar a instalação do Escudo Anti-Foguetes, aumentando, no seio da OTAN, o grupo de países profundamente anti-russos (Estados Unidos, Grã Bretanha, Ucrânia, Estônia, Letônia e Lituânia).
Geórgia e o corredor energético das transnacionais
Em 2005, o presidente George W Bush, ao visitar Tibilisi, capital da Geórgia, enalteceu seu homologo georgiano ao dizer: "Hoje, a Geórgia, é um farol da liberdade para toda a região do Cáucaso". Na verdade, esse charme verbal foi utilizado por Bush para mascarar o contexto político-econômico da Geórgia, inteiramente norteado pelo Departamento de Estado e o Pentágono, enquanto uma centena de ONGs (controladas pela CIA) têm monitorado as instituições e os processos eleitorais daquele país. A presencia massiva dos EUA na Geórgia começou logo após a queda do Muro de Berlim, quando as transnacionais compraram o direito de explorar os imensos reservatórios off-shore de hidrocarbonetos no Mar Cáspio e no interior do Azerbaijão.
Porém, em 1997, para escoar o petróleo e o gás em direção do porto turco de Ceyhan - considerado o único porto estrategicamente seguro para os EUA e os países da União Européia - foi planejado construir o "corredor energético-BTC" de
O BTC se inicia no porto petrolífero de Baku, no Azerbaijão, cruza
O problema do BTC é que
Para defender o corredor e os interesses das transnacionais, em 2002, os EUA criaram o "Geórgia Train and Equio Program", que na realidade foi um programa para militarizar a Geórgia e com o objetivo deste pais passar a ser o "guardião" do corredor energético BTC e, sobretudo, do Cáucaso. (BRASIL DE FETO - Ed. 286 21/27 agosto 2008)
Achille Lollo é jornalista italiano. Diretor do filme "América Latina: Desenvolvimento ou Mercado?", também em DVD, em www.portalpopular.org.br. 55 km do corredor passam pela Ossétia do Sul, que reclama sua independência desde 1992, querendo se unificar a Republica da Ossétia do Norte, associada á Rússia.249 km da Geórgia e depois entra na Turquia até o porto de Ceyhan. Em 1999, o consorcio formado pelas transnacionais British Petroleum (30%); Chevron (8,90%); Staoil (8,71%); ENI (5,00%); Total (5,00%); TPAO (6,53%); Itochu (3,40%); INPEX (2,50%); Conoco-Phillips (2,50%); Amerada Hess (2,36%) e.AzBTC (2,50%); começaram a explorar o corredor com a implantação de oleodutos e gasodutos.1800 km.em colapso. Soldados e oficiais desertaram as posições, abandonaram os equipamentos e fogiram em direção à capital Tibilisi. Diante desse desastre o presidente Mikhail Saakashvili, pedia desesperadamente aos paises europeus da OTAN e, sobretudo, aos EUA de intervir militarmente contra a Rússia, para lançassem uma contra-ofensiva. Ninguém, no Ocidente, acreditou mais no falastrão Saakashvili.
O fracasso dos Estados Unidos
Bush e os falcões do Pentágono pensaram duas vezes em atender ao pedido do presidente Saakashvili, visto que CNN e a FOX não conseguiram impedir que as imagens e os relatos dos massacres praticados pelas tropas georgianas em Tskhinvali chegassem às televisões e aos computadores dos eleitores estadunidenses e europeus. Por outro lado, os russos não cometeram o erro de atacar a capital Tibilis e a cidade Gori, por onde passa o "corredor energético BTC" (o oleoduto Baku-Tblisi-Ceyhan).1 km da cidade de Gori e a 30 da capital Tblisi, sem deixar de bombardear várias vezes a grande base militar de Vazani.em Mikhail Saakashvili e ao próprio George W Bush.130 mm e 30 lança-foguetes, martelaram bairro após bairro de Tskhinvali, enquanto 20.000 soldados da infantaria, com o apóio de 50 helicópteros operavam um cerco mortal, fechando nos escombros da capital metade de seus moradores. Segundo as primeiras estimativas de observadores da ONU, cerca de 2.000 moradores de Tskhinvali morreram vitimas dos bombardeios ou executadas durante a limpeza étnica.100 km da fronteira com a Rússia) as manobras militares "Immediate Reponse 2008" (Resposta Imedita 2008). As mesmas que o embaixador estadunidense na Geórgia, Matthew Bryza, enfatizou nos canais da CNN e da Reuters revelando a participação de mil soldados
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