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Entrevistas
Telesur completa três anos em julho

 

A gente quer saber um pouco da sua história. Como você escolheu esse caminho da mídia alternativa? 

Eu sou vascaíno, tocador de cavaquinho, mineiro, morei no Rio, fui criado aqui, estudei no Colégio André Maurois, que era uma experiência muito libertadora e lá eu escrevia muito. Eu tinha uma professora que se chamava Stela Gladis, eu até gostaria muito de reencontrá-la. Naquela época, é claro, eu me preocupava muito mais com o samba e o futebol e ela dizia: ‘se você prestasse atenção nas aulas, você tem um texto interessante’. Aí eu fui me apaixonando por escrever, eu me lembro que eu escrevi uma redação sobre a morte de Martin Luther King e o comentário que ela fez me estimulou a fazer a opção pelo jornalismo de combate, eu não sabia de nada disso, mas imaginava que era tudo isso que eu queria fazer. Aí eu entrei na luta contra a ditadura no movimento estudantil, fui expulso da Universidade de Brasília por causa daquela greve de 77, eu era uma das lideranças da greve, nós fomos 30 expulsos, tive um mandato de prisão, aí precisei me esconder por um tempo, fui para são Paulo e fui me envolvendo sempre com a imprensa alternativa, sindical. Agora sou do conselho editorial do Brasil de Fato, do coletivo de comunicação do MST, fui vice-presidente da Fenaj, depois da Federação Internacional dos Jornalistas. Eu vinha acompanhando desde 2002 a experiência da Venezuela. Eu estive lá como jornalista sindicalista em 1996, aí eu procurei pelo presidente Chávez, mas não foi possível encontrá-lo porque ele estava pelo interior do país. Depois ele esteve em Brasília e nós apresentamos a ele um documento do sindicato dos jornalistas que propunha concretamente uma integração latino-americana na área da informação e da comunicação. Ele gostou muito da idéia e disse que me chamaria, e chamou de fato quando surgiu a idéia da Telesur.  

Como foi a sua formação como jornalista na UNB? 

A UNB naquela época era muito politizada, eu estava no movimento estudantil, fazíamos debates incessantes muito fortes sobre a questão da comunicação, eu lembro de um deles muito marcante para mim, com Dom Luciano Mendes, que falou uma coisa que ficou marcada. Ele era um jornalista brilhante. Eu era o presidente do centro acadêmico e levamos ele lá para um debate sobre o Dom Oscar Romero, um bispo do Equador que tinha sido metralhado. Nós defendemos sempre, como defendo até hoje, uma aliança das forças progressista do Brasil contra o imperialismo, e ai é movimento operário, movimento camponês, intelectuais, artistas, clero e militares progressistas. Sem isso não vamos sair do lugar, e aí precisamos superar esse sectarismo que tem de todo lado. Por exemplo, uma parte da esquerda nunca entendeu até hoje o Chávez, por que? Preconceito, porque ele é militar. Então, quem é antidialético? Essa esquerda ou o Chávez que exatamente veio preencher a falta de um movimento de esquerda capaz de se vincular ao povo? Se a esquerda não se credencia, a história não vai parar por causa disso, a história inventa, por isso tivemos tantos militares revolucionários, como o general Alvarado, do Peru, que nacionalizou todos os meios de comunicação e entregou para o movimento sindical. Como o movimento sindical só ficava falando: ‘sou contra, sou contra’, quando eles tiveram os meios de comunicação nas mãos, não sabiam o que fazer com aquilo, porque não tinham um projeto de país. A decomposição das estruturas do capitalismo é tão profunda que permite que dentro do exército haja correntes de esquerda, mas aí alguém diz: ‘ah, mas no Brasil não vai acontecer’. Já aconteceu! O Prestes é o que por acaso? O que é a Comuna de Manaus? Vocês sabiam sobre a Comuna de Manaus?  

Não... 

Pois é, não estou falando de vocês, mas a esquerda tem um grau de desinformação tão profundo, que atribui a incapacidade do país de realizar determinadas experiências pelo fato de medir as condições objetivas a partir de um grau de desinformação. A Comuna de Paris durou 71 dias. A Comuna de Manaus, feita 56 anos depois, durou 35 dias e nacionalizou os frigoríficos, estatizou os bancos, criou salário igualitário, fez um sistema igualitário de alimentação. E quem conhece isso no Brasil?  

Mas o que Dom Luciano falou?

A esquerda sectária perguntou: ‘Ah, o senhor acha que a revolução vai vir pela via pacífica, rezando’? Dom Luciano disse: ‘olha, quando começaram a metralhar o Dom Romero e mais oitenta pessoas, eu não sei o que faria se estivesse com uma arma na mão’. Na visão cristã dele, progressista, a comunicação tem que ser uma espécie de comunhão, para usar um termo cristão. A privatização dos fatos é individualista, uma ótica enferma, anti-social. Os fenômenos são sociais, não podem ser rebaixados à mercadoria. Uma informação não pode ser uma mercadoria, tem que ser um bem simbólico da agregação da civilização, da educação das pessoas, não é verdade?  

Como você avalia a Telesur nesses três anos de existência? 

Vamos completar três anos no dia 24 de julho. Primeiro, é uma TV inédita, não existe outra TV com a missão de integração, exclusivamente, então, só o fato dela ter conseguido resistir por três anos já é uma façanha. Hoje, pelas telas da Telesur, você vê a presença de Evo Morales explicando o seu governo, por que ele é a favor da reforma agrária, por que ele nacionaliza, enquanto toda a outra mídia o mostra como um governo caótico, que está tomando atitudes temerárias. Até dizem claramente que ele, por ser cocaleiro [produtor de folha de coca], é vinculado ao narcotráfico, o que é uma completa e grosseira distorção dos fatos porque o consumo da folha da coca é uma tradição ancestral dos povos originários. Eu ouvi até pouco tempo atrás que a ONU teria feito uma recomendação aos povos para que deixassem de consumir a folha da coca. E eu me perguntei: ‘engraçado, eu nunca vi a ONU propondo que se deixasse de consumir coca-cola’. Que me digam qual é o malefício para a saúde que tem a folha da coca! Pelo contrário, realmente ela te normaliza para você suportar as adversidades das alturas. Então, a Telesur consegue entrar nesses problemas jogando luz com informação, não com panfleto, aí está a outra diferença, porque uma coisa que diziam de nós é que a Telesur seria incapaz de fazer jornalismo, faria panfletarismo. Panfletarismo quem faz é a mídia do capital, para ela quem questiona a privatização é terrorista, isso é panfleto, isso não é jornalismo. Os povos ficaram melhor atendidos, se desenvolveram economicamente, socialmente com a privatização? Vamos discutir objetivamente os temas. A Telesur faz essa discussão.  

Você considera que houve avanços nessa proposta da Telesur de integração dos povos latino-americanos? 

Eu te dou alguns exemplos. Médicos e professores de Cuba estão espalhados pelo Equador, Bolívia, Venezuela, Argentina. No norte da Argentina há províncias nas quais não existem mais as mazelas do analfabetismo graças a presença de professores cubanos. Quem deu essa noticia? A Telesur. Aí é que está, não é porque nos damos a noticia que a integração acontece, é claro que sem a ação não existe a notícia, nós não substituímos a política, mas nós revelamos e ajudamos para o crescimento de uma consciência que permita compreender que a integração é uma possibilidade histórica. A Telesur divulga o Banco do Sul, que já vai fazer seus primeiros aportes de capital. Se nós, os países da América do Sul, temos recursos, por que não depositar nossos recursos num banco nosso? Por que depositá-los num banco americano que vai nos pagar um juro baixo, e quando vamos pedir empréstimos eles cobram um juro alto? O Timor Leste acumulou um grande fundo a partir da riqueza do Petróleo e depositou num banco americano, todo esse dinheiro não rendeu praticamente nada. Imagine, você pode trazer o Timor Leste, o Irã para o Banco do Sul! O Irã já declarou que vai depositar suas reservas no Banco do Sul. A Telesur não substitui a tomada dessas medidas, mas ela gera com a informação aquela convicção de que há medidas de integração que podem e devem ser tomadas. E nós não fazemos panfleto, assim: ‘Viva o Banco do Sul, viva!’. Fazemos assim: para que serve? Como funciona? É viável? Fazemos isso através de critérios jornalísticos, não através de torcida, porque não adianta você levantar uma bandeira, isso não é jornalismo. Todo valor a toda a militância, mas nós temos que explicar porque as pessoas fazem militância, em torno de que causas. 

De que maneiras se deram as tentativas de se bloquear essa proposta da Telesur? 

Elas se dão de várias maneiras, dificultando a repetição do sinal, por exemplo. Você sabe que hoje o cabo no Brasil é controlado por alguns grupos multinacionais, a Net, a Sky, a Sky é do [Rupert] Murdoch, a Net é mais ou menos da Telmex, do Slim, e a TVA é daquele grupo da Telefônica, ou seja, isso é uma ilegalidade, mas esses contratos são de gaveta, Então, como é que eles vão se interessar por absorver o sinal da Telesul, correto? Será que o Murdoch vai querer passar? Por isso que a nossa tese é a do fortalecimento do campo público da comunicação, das TV’s públicas. A Telesur está ajudando a formatar com equipamentos e assessoria técnica a TV pública do Equador, da Nicarágua, da Bolívia, e estamos fazendo linhas de cooperação com os países que querem desenvolver o campo publico. Aqui no Brasil temos um convênio com a Radiobrás, que foi absorvida pela TV Brasil, ela usa matérias da Telesur.  

O satélite que a Venezuela está construindo viria no sentido de contribuir para essa integração? 

É o satélite Simon Bolívar, ele já esta pronto, vai começar a operar por esses dias, ele já dá uma liberdade muito grande, porque, veja, o Brasil não tem mais satélite, tem que alugar de uma empresa americana, porque a Embratel hoje é uma empresa americana de capital externo. Construir satélites próprios é um grau de soberania comunicativa, informativa muito importante. A partir desse satélite nós estamos com outras condições, inclusive a Venezuela poderá oferecer aos países que também não tem satélite próprio a possibilidade de fazerem uso compartilhado desse satélite. O Simon Bolívar é um passo a mais nessa integração que está em curso.

Perto do aniversário da Telesur, Beto Almeida, diretor da emissora, avalia os três primeiros anos da TV multiestatal criada por Venezuela, Cuba, Argentina e Uruguai. Para ele, o objetivo da Telesur de integração dos países da América do Sul está se concretizando. “Não é porque nos damos a noticia que a integração acontece, é claro que sem a ação não existe a notícia, nós não substituímos a política, mas nós revelamos e ajudamos para o crescimento de uma consciência que permita compreender que a integração é uma possibilidade histórica”, afirmou. Confira a entrevista.

 Por Jéssica Santos, Leandro Uchoas e Raquel Júnia


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