C - Então, não foram os interesses imediatos que o levaram ao Conselho mas sim uma visão de transformação social?
Artur - Já entendia, naquela época, que era preciso atuar do ponto de vista político participativo. Não era filiado a um partido político, mas já sentia a necessidade de participar efetivamente de uma entidade seja ela sindical ou partidária. Entrei para a chapa de oposição e depois para o PT. Demorei uns três anos para decidir a me filiar ao PT.
C - O que você estava avaliando?
Artur - Estava saindo da faculdade. Queria conhecer as várias tendências, as várias idéias, pensar e estudar antes de me filiar.
C - E hoje, o que você está estudando? Que livro você está lendo?
Artur - Leio tudo. Estou lendo a biografia de Fidel Castro, escrita pelo Ignácio Ramonet. Muito boa. Li recentemente O Mundo Plano da globalização, e também O Código da Vinci.
C - Além de ler e fazer política o que mais você gosta de fazer?
Artur - Ir ao cinema, jogar baralho, tomar cerveja com os amigos.
C - Por que tipo de sociedade você luta?
Artur - Pela sociedade socialista, sem exploração, onde os seres humanos tenham lazer, descanso, trabalho. Sem que o trabalho seja explorado por alguém ou por uma empresa, mas exercido em prol da sociedade e da comunidade. Luto pela transformação da sociedade nesta linha de se viver coletivamente.
C - A CUT tem em seus estatutos a luta pelos interesses imediatos e históricos da classe trabalhadora. Como você traduz isto hoje?
Artur - Os interesses imediatos são os latentes, por melhores condições de vida e de trabalho. É diminuir os efeitos do capital.
Os históricos são os interesses da própria transformação da sociedade, da necessidade de construir consciência a crítica dos trabalhadores e, através da luta cotidiana, mostrar a necessidade de se superar valores que nos foram incutidos historicamente através da educação e da mídia, como a competitividade e o individualismo. Na década de 90 isso foi muito forte. São valores da sociedade capitalista competitiva que precisam ser transformados para outros valores, de solidariedade, de construção coletiva, de transformação.
Os interesses históricos hoje, em 2006, estão relacionados com entender o que está em jogo na disputa eleitoral e o papel da classe na disputa de projetos. Temos de analisar as propostas colocadas para o país, a visão do Estado, de nação, saber que país a gente quer. Temos o papel histórico de convencer os trabalhadores, através da luta cotidiana, da necessidade de se engajar nesta luta pela transformação e que uma forma de se fazê-la é eleger deputados, vereadores, presidente da República comprometidos com os projetos históricos da classe trabalhadora. Fazer a unificação entre as reivindicações diárias e transformar isso na luta dos trabalhadores para transformar a sociedade é lutar pelos interesses históricos da classe.
C - E a luta pelos interesses imediatos? Como deve ser dirigida hoje?
Artur - A Campanha Salarial Unificada dos Trabalhadores é um instrumento. Ela não significa abandonar ou dizer que os sindicatos deixaram de ter o seu papel na negociação coletiva e na OLT. Na década de 80, fizemos um sindicalismo combativo, mas de porta de empresa. Isso precisa mudar do ponto de vista organizativo. Precisamos de um sindicalismo organizado nos locais de trabalho, nos bancos, escolas, farmácias, postos de saúde. É necessário estar mais presente junto aos trabalhadores. As mudanças que vêm ocorrendo no mundo do trabalho têm de ser acompanhadas de perto, nos locais de trabalho. Vamos construir uma campanha que supere o corporativismo, que crie noção de classe. Nesta campanha vamos lutar por emprego, salário, jornada, intervenção no orçamento público, pela ratificação pelo governo brasileiro da Convenção 158 da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Por essa Convenção, assinada por 172 países, todas as demissões só podem ocorrer se houver uma justificativa. Ela assegura o direito de defesa do dispensado em caso de acusações que lhes são feitas. É uma campanha que interessa a todos os trabalhadores independentemente de onde eles estejam. As negociações devem ocorrer por ramo de atividade e não mais isoladamente por grupos organizados de uma determinada profissão. Não trataremos de campanhas salariais específicas, mas de assuntos que sejam de interesse geral da classe. A central tem o papel de construir a campanha nacional e fazer uma luta geral, construir o sentimento de classe. Isso significa um grande salto de qualidade na organização e na construção do sentimento de classe.
C - Explique alguns pontos da campanha
Artur - Além dos já falado, a idéia é que exista um piso salarial igual para trabalhadores que exerçam a mesma função, independente da cidade onde trabalhe, para acabar com as diferenças salariais regionais. Uma outra reivindicação é a aprovação da Emenda à Constituição, em tramitação no Congresso Nacional, da redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais e ainda a limitação das horas extras.
C - E como vai ser construída a pauta das campanhas?
Artur - Em conjunto pelas diversas categorias que compõem um ramo de atividade.
C - Como a CUT pretende levar a campanha até os trabalhadores?
Artur - Através do jornal que produzimos, adesivos, banners. A direção nacional vai visitar todos estados para divulgar a campanha e preparar a entrega da pauta aos governos federal, estaduais e municipais e a representantes patronais.
C - Qual o principal desafio da classe trabalhadores, hoje?
Artur - Não tem um principal, são vários. O central é a distribuição de renda. Apesar de 96% das categoriais terem conseguido aumento acima da inflação, o que é positivo, 70% da população ganha até dois salários mínimos. É preciso ampliar participação do trabalhador na distribuição de renda nacional construindo mecanismos de diminuir a desigualdade social e através dos quais a população possa consumir mais produtos. Com isso a indústria vai produzir mais. Isso é fazer um ciclo vigoroso de desenvolvimento. Distribuição de renda, violência, educação são problemas da classe. É necessário priorizar a educação e melhorar a qualidade do ensino. Um outro problema é perseguição a dirigentes sindicais e a criminalização dos movimentos sociais. Ainda acontecem assassinatos de dirigentes sindicais no Brasil. Assassinatos sem solução. E isto não é só no campo, mas também nas cidades.
C - Para alguns sindicalistas, a reforma sindical que a CUT defende abre caminho para a flexibilização dos direitos trabalhistas. O que você tem a dizer sobre isso?
Artur - Que este raciocínio coloca uma visão falsa para os trabalhadores de que se não houver a reforma sindical, pode ser que a flexibilização não aconteça. Ela já está acontecendo através da terceirização, do banco de horas, das novas formas de contratação, da nova tendência de contratação e da demissão dos trabalhadores. 50% dos trabalhadores não têm a carteira assinada.Está para ser votado um projeto do deputado Sandro Mabel (PFL) que acaba com qualquer garantia sobre a terceirização. Permite às empresas terceirizar todos os setores.
Precisamos de uma legislação que coíba práticas anti-sindicais. Queremos uma reforma sindical que fortaleça as entidades sindicais e não admitimos mudanças na legislação trabalhista que prejudiquem os trabalhadores. Queremos manter os direitos que estão na CLT e na Constituição e ampliar esses direitos para a grande massa que não os tem.
Hoje, se criam dois sindicatos por dia. É mais fácil do que abrir uma micro-empresa e não quer dizer que mais trabalhadores estejam se organizando. É a divisão de base ou então a criação de sindicatos fantasmas que só servem para tirar dinheiro dos trabalhadores através do imposto sindical e de outras taxas.
C - Na última gestão a CUT fez grandes investimentos em comunicação, como a reformulação do Portal, e os programas de rádio e de televisão e, recentemente, a Revista do Brasil. Estes investimentos vão continuar?
Artur - Investir em comunicação é estratégico para quem quer disputar hegemonia. Vamos continuar usando a TV, rádio, a imprensa. Com a Revista do Brasil estamos construindo um veículo que possa disputar hegemonia. Hoje a tiragem é de 368 mil. Vamos chegar a 600 a 700 mil e vender a revista em bancas de jornal. Estamos lutando pela concessão de um canal de TV para que a CUT e as entidades filiadas possam utilizar deste veículo divulgando nossas idéias para as questões dos trabalhadores, mas também para a cultura, o teatro, o cinema, a arte.
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