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Por NPC
Tia Eulália: "Não conheco samba no alto, só conheço samba no pé" (02.2001)

Não conheço samba no alto,
só conheço samba no pé

Conquista - Tia Eulália, conta um pouco sobre a fundação do Império...

Tia Eulália - Nós tínhamos uma Escola na Serrinha, chamada Prazer da Serrinha. Nós queríamos nos divertir e competir com a Portela e a Mangueira que eram as duas Escolas poderosas. Teve um ano que nós tínhamos condição mas o presidente não deixou tocar o samba do enredo que nós tínhamos preparado e nós fomos desclassificados. Foi uma tristeza só. Então decidimos criar uma nova escola. Nesta reunião foram escolhidas as cores da bandeira, verde e branca. E o nome. O primeiro presidente do Império Serrano foi meu irmão, João de Oliveira, o João Gradim.

C - A Prazer da Serrinha se dividiu?

Tia Eulália - Sim, mas o Império deve muito às pessoas de fora da Serrinha. Principalmente ao pessoal do cais do Porto. Com a divisão, veio gente da Serrinha, da Portela e da estiva. Meu pai era da estiva, meu marido, Mano Décio da Viola, mestre Fuleiro e o Elói Antero Dias.

C - E como foi a estréia de vocês?

Tia Eulália - Ganhamos os quatro primeiros carnavais que disputamos. Nosso primeiro enredo foi sobre Antônio de Castro Alves.

C - É verdade que a Portela se recusou a batizar o Império Serrano, chateada por ter perdido o carnaval de 1948 para o Império?

Tia Eulália - A Portela não aceitou.

C - E quem batizou a Escola?

Tia Eulália - São Jorge. O Império é padrinho da Santa Cruz e da Beija Flor.

C - Sua função sempre foi a diretoria de harmonia.

Tia Eulália - Harmonia é as pessoas cantarem o samba. Trazer o samba em harmonia. O que adianta o samba bonito mas sem o pessoal cantar. Esta é a parte mais importante, mas também as evoluções são importantes. As escolas têm que mostrar o carnaval, as baianas têm que rodar.

C - Quais os três quesitos mais importantes no desfile de uma escola?

Tia Eulália - A bateria com a harmonia, as baianas, mestre sala e porta-bandeira

C - Vai desfilar este ano?

Tia Eulália - Sim, vou.

C - Qual a principal mudança que houve na vida das escolas?

Tia Eulália - Hoje tem os carros. Antigamente eram as grandes sociedades que tinham carros alegóricos. Agora eles passaram para as escolas. Eu não conheço samba no alto, eu conheço samba no chão. Mudou o dinheiro. Quando começamos não tinha subvenção, tinha que ir de casa em casa com o livro, pedindo ajuda.

C - O que mudou para melhor no carnaval do Rio?

Tia Eulália - A passarela do samba e a comodidade para se chegar ao desfile. Antigamente era difícil.
Só os ricos tinham carro. Hoje, tem mais trem.

C - O samba deste ano está bom?

Tia Eulália - O enredo é muito bom. Eu tive dúvida do enredo e do samba no início, não tive vibração. Mas depois eu gostei.

C - O que a senhora acha da participação dos turistas e de tanta gente de fora das comunidades nos desfiles?

Tia Eulália - Eu acho bom que as pessoas gostem de se divertir. Isso é bom para a escola.

C - O que significa o Império para a senhora?

Tia Eulália - O Império é o meu filho. Dei toda a minha vida por aquela bandeira. Meu marido morrendo, muito ruim e eu ensaiando e cantando. Meu marido morreu num dia 9 de fevereiro e era carnaval.

C - E o Carnaval?

Tia Eulália - Carnaval é a festa nossa. É a festa de pobre. Nós não temos outro lugar para nos divertirmos. Não temos dinheiro para ir aos clubes e nem para passar dias na praia. Pobre se diverte é nas escolas de samba. A maior festa do mundo para o pobre é o carnaval. A Escola de Samba é o nosso lugar.

C - Mas o rico também vai...

Tia Eulália - Vai agora porque tem camarote.

C - Quem você destaca no carnaval do Rio?

Tia Eulália - Nelma, Zica, Dodô da Portela. Natal. Gosto daqueles que amam o que é seu. Natal amava a Portela com aquele tamanco e aquele chapéu, ele foi sempre Portela.

C - Então... até já, este ano eu vou desfilar com a senhora no Império Serrano.

O Brasil quase todo brinca o carnaval

Com honrosas exceções, como por exemplo, a Paraíba, o Ceará e o Sergipe, de 24 a 29 de fevereiro o país vai parar. É carnaval. Para quem gosta ou quem não gosta, é carnaval. Não há como ficar impune aos soar das cuícas, dos tambores e tamborins.

Quem não gosta, quer fugir deles. Agora, para quem gosta...o peito já começa ficar apertado esperando a grande hora. No caso do Rio de Janeiro, pode ser o momento das concentrações dos blocos, onde tudo acontece, de colocar a máscara de clóvis (foto ao lado) e brincar sem ser reconhecido e vestir-se de mulher. Ou então, a hora fatal do grito de guerra que avisa aos integrantes das escolas de samba que chegou o que é, para muitos, o momento mais esperado do ano.

A inglesa Bene Spencer é um exemplo. Desde que chegou ao Brasil no final de janeiro sua maior preocupação tem sido aprender o enredo das Escolas, principalmente a Mangueira, onde vai desfilar.


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 NPC - Núcleo Piratininga de Comunicação * Arte: Cris Fernandes * Automação: Micro P@ge