Menu NPC
 
 Conheça o NPC
 Quem somos
 O que queremos
 O que fazemos
 Equipe
 Fotos do NPC
 Fale conosco
 Serviços do NPC
 Cursos
 Palestras
 Agenda
 Clipping Alternativo
 Publicações
 Livros
 Cartilhas
 Apostilas
 Agendas Anuais
 Nossos Jornais
 Dicas do NPC
 Dicionário de Politiquês
 Leituras
 Documentos
 Músicas
 Links
 
 
Por NPC
Lúcia Freire: Reestruturação gerou demissões e doenças. (06.99)

por Claudia Santiago

Lúcia Freire é professora da UERJ. É autora do Livro "Saúde do Trabalhador e Serviço Social". A reestruturação produtiva e suas conseqüências na vida dos trabalhadores é um dos aspectos abordados em sua tese de doutorado. Conquista foi recebido pela professora que falou sobre o resultado de sua pesquisa realizada na maior empresa estatal brasileira, em uma ex-estatal privatizada e em uma empresa privada.

C - Professora, como começou o seu trabalho sobre a reestruturação produtiva?
Lúcia Freire -
Eu a senti na pele quando trabalhava no Serpro. Todo este processo começa em 89, com a entrada do Maílson da Nóbrega no governo Sarney. Não foi à toa que naquele momento o Sarney disse: agora começa o meu governo. Maílson implantou no Serpro a reestruturação neoliberal, com terceirização, redução de quadro e fim de programas de forma autoritária.

C- Por que você escolheu uma empresa estatal, uma ex-estatal e uma privatizada?

Lúcia - Porque eu queria pesquisar o universo do Rio de Janeiro e aqui nós temos a maior empresa estatal, uma ex-estatal totalmente privatizada e uma empresa privada estratégica. Todas muito poderosas e muito ricas. O grande poder das primeiras é que elas produzem insumos básicos, petróleo e aço. E a privada, fundada em 1912, produz gases industriais. A privada representa os primórdios da industrialização. A privatizada representa o início da independência industrial do Brasil no pós-guerra. Eu vi que no Rio nós tínhamos três casos que representam a história das relações de produção no Brasil.

C - Quais os efeitos da reestruturação na vida dos trabalhadores da estatal privatizada?

Lúcia - A empresa usou primeiro a repressão durante a greve de 88 e depois o convencimento. Usou o discurso de que tudo vai melhorar se houver colaboração. O Sindicato, filiado à Força Sindical, ajuda muito nisso. O discurso do Sindicato é o da colaboração, da parceria, do consenso. Como se houvesse interesse semelhante entre empresários e trabalhadores. O representante do Sindicato que tem assento no Conselho diretivo da empresa, compactua com as demissões.

C -  Como assim?

Lúcia - Houve um período, próximo a uma eleição no sindicato. A entidade entrou na justiça contra o número excessivo de demissões depois que já havia um acordo negociado com a empresa. Bom, este fato gerou a demissão de um diretor executivo da empresa. O que acontece? O representante do Sindicato ofereceu ao diretor demitido, o lugar dos trabalhadores no conselho da empresa.

C - Qual era o discurso da fábrica?

Lúcia - De que havendo o consenso não haveria mais demissões. Todos ficariam em situação melhor. O resultado é que de 89 a 96 quase 50% dos trabalhadores foram demitidos. E os trabalhadores foram percebendo que com a parceria eles começaram a adoecer mais. As demissões geraram uma sobrecarga do trabalho. Um supervisor me disse que a cada vez que vinha uma leva de demissão, ele pensava: não, não é possível, agora vai parar. Seis meses depois vinha nova ordem para mais cortes.

C - E os salários?

Lúcia - Os engenheiros desta empresa chegaram a ter o menor salário de engenheiro metalúrgico do país.

C - Outro exemplo, além das demissões?

Lúcia - Os benefícios, além de serem reduzidos, saem do critério social para o critérios de méritos. São beneficiados os colaboracionistas.

C - Quais os efeitos da reestruturação na saúde do trabalhador?

Lúcia - A saúde é onde se manifesta a realidade independentemente de qualquer discurso. Os trabalhadores começam a adoecer mais, quer pelas novas tecnologias, quer pelo aumento do caso de doenças que já existiam, como é o caso do benzenismo.

Outro efeito é a doença mental e o alcoolismo. Tanto nos que ficam quanto nos que saem. E também a dependência química.

C - Como é isso na privatizada?

Lúcia - Na privatizada, os casos de pessoas vítimas de alcoolismo e dependência química foram multiplicados por cinco. No hospital local constatei que 90% das pessoas internadas por problemas psíquicos são funcionários da empresa.

Neste caso, os efeitos são ainda mais sérios porque a cidade gira em torno da fábrica. Então aumenta a violência e a prostituição, inclusive a prostituição infantil.

C - E na estatal?

Lúcia - Dependência química, alcoolismo, stress e desarticulação sindical. Nas terceirizadas, o trabalhador é mal remunerado, sem direitos, sem sindicatos.

C - O que é desarticulação sindical?

Lúcia - A reestruturação e novas formas de gestão dividem a classe trabalhadora entre trabalhadores centrais e periféricos. É um tipo de nazismo. Divide a classe trabalhadora entre superiores e inferiores. Os superiores são os indispensáveis, os que têm um conhecimento nobre ou gerentes, que são os que fazem a ponte da idéia neoliberal com a produção. É uma fragmentação interna da classe trabalhadora. Os centrais recebem treinamento, incentivo e até benefícios. O outro não tem direito a nada. Na Petrobras, por exemplo, o funcionário das plataformas trabalha 8 dias e folga 15. O das empreiteiras trabalha 15 dias e folga 8. Este é um dos principais problemas.

O outro, é que o petroleiro hoje não sente mais orgulho em trabalhar na Petrobras. Eles se sentem como se estivessem devendo à sociedade.

C - E na multinacional?

Lúcia - A multinacional é competente na exploração e no obscurecimento. Ela camufla o conflito dos interesses. Não age como na privatizada acabando com o trabalhador, não cumprindo os compromissos. Ela impede o desenvolvimento social e político do trabalhador. O discurso é o mesmo: colaboração, parceira e todos os engodos atuais. É uma participação gerencialista. Tem os assuntos que podem ser debatidos e os que não podem. Só entra o que é para aumentar a produção e diminuir custos. Não entra nem a qualidade. Agora, eles sabem que precisam dos trabalhadores. Por isso, cuidam para que não ocorram grandes acidentes. Não ter acidente é também uma questão de marketing.

C - Qual o perfil do trabalhador desta multinacional?

Lúcia - Já na seleção começa o pro–cesso. São escolhidos aqueles que têm uma ficha tranqüila, que vêm de em–presas piores e se encantam com uma empresa onde haja, por exemplo prevenção contra acidentes. Com o desemprego a valorização de não ter acidente aumenta.

C - Mesmo com salários baixos?

Lúcia - Os salários são abaixo da média do mercado.

C - E a organização sindical?

Lúcia - Na privatizada nunca deixaram acontecer nenhum movimento sindical. Um grande complicador é o fato de haver mais de 120 categorias profissionais, com 120 sindicatos e com 120 acordos.

C - O que se conversa nas reunião dos gerentes com os trabalhadores?

Lúcia - O que o gerente permite. Na Petrobras antes se discutia salário. Debatia-se além dos muros da empresa. Hoje, a idéia é que só se pode discutir o que o gerente pode resolver.

C - Com a reestruturação, sabemos que o trabalhador perde. O que as empresas ganham?

  As empresas vão ficando muito mais ricas. Elas vão comprando, comprando. Vão se fundindo e se tornam mega empresas. Se elas eram enormes, elas se tornam megas. A filosofia é se tornar a melhor do mundo. Isto é uma meta nazista. Como todas podem ser a maior? Destruindo o trabalhador e umas às outras. As maiores, que eram 300, que fazem as leis do mercado e que dominam os países, já viraram 210. É uma concentração absurda. 


Núcleo Piratininga de ComunicaçãoVoltar Topo Imprimir Imprimir
 
 NPC - Núcleo Piratininga de Comunicação * Arte: Cris Fernandes * Automação: Micro P@ge