C - Senador, você assume seu mandato num período de grandes turbulências na economia brasileira. Como analisa a crise no Brasil?
Geraldo - Esta crise estava prevista. Discutíamos, quando ainda estava na direção da CUT/RJ, o risco de acontecer com a economia brasileira o mesmo que aconteceu com as economias mexicana e da Rússia. Este é um prenúncio de que o sistema capitalista está em decadência. Isto, apesar de muitos afirmarem ao contrário.
Apesar de muitos afirmarem que o socialismo acabou, que o marxismo está enterrado e que o neoliberalismo venceu. Agora vê-se que não é bem assim. A globalização da economia seria o coroação da grande vitória do sistema capitalista. O resultado é que o governo FHC queimou as nossas reservas econômicas, para tentar segurar a moeda. Esta crise era inevitável porque ela é inerente ao sistema capitalista. Estamos vivendo um momento muito parecido com a crise de 29 que levou à quebra da bolsa de Nova Iorque.
C - Na sua opinião, quais serão as conseqüências desta crise?
Geraldo - As piores possíveis. O desemprego é uma das piores chagas da sociedade. A tendência é que o desemprego aumente. Pode-se chegar, inclusive, a um caso de caos, de convulsão social. O Brasil está pagando um preço muito caro em função de uma política econômica que só favorece ao capital especulativo.
C - Que alternativas o PT propõe?
Geraldo - Uma das alternativas seria mudar o modelo econômico. Privilegiar o capital produtivo você vai gerar emprego e, conseqüentemente, melhorar as condições de vida da população. Mudar o modelo significa aumentar os salários dos trabalhadores. O Brasil precisa urgentemente de uma reforma agrária.
C - E a moratória da dívida externa seria uma solução?
Geraldo - O não pagamento da dívida externa fazia parte dos programas do PT e da CUT na época de sua fundação. Depois houve um certo recuo com relação a essa posição inicial. A proposta passou a ser a auditoria da dívida externa. Hoje, alguns setores partido do e da CUT estão sem posição definida. Nós, da esquerda da CUT e do PT continuamos defendendo nossa posição de não pagamento da dívida externa. Uma das forma de o Brasil sair desta crise é através da suspensão do pagamento da dívida externa. Esta dívida é uma sangria de nossas riquezas.
C - Ao propor a moratória você não teme que o país sofra algum tipo de retaliação do capital internacional?
Geraldo - Cuba é um pequeno país com 10 milhões de habitantes. Ela sobrevive há 40 anos a um cerco econômico. Se uma ilha, com poucos recursos naturais consegue sobreviver imagina um país como o Brasil, produtor de tudo quanto é tipo de matéria prima. Riquíssimo em recursos naturais.
C - Como a CUT deve agir nesta crise para conquistar as reivindicações que ela apresenta?
Geraldo - Assumindo para si a responsabilidade de dirigir a luta da classe trabalhadora.
C - Como será a relação do senador com a CUT?
Geraldo - Com uma grande interação não só com a CUT, mas com os movimento sociais no geral através de núcleos organizados por categorias, bairros ou regiões. Alguns assessores vão ter a tarefa específica de cuidar desta relação. Queremos total integração entre o mandato e os movimentos sociais.