Era uma vez um mundo onde se trabalhava muito e não se tinha nenhum direito.
Naquele tempo não existia carteira assinada, folga aos domingos, salário fixo ou férias. Também não tinha jornada de trabalho de 8 horas.
Desde o começo do século passado houve várias greves de operário exigindo redução da jornada de trabalho. Um belo dia, o pessoal da cidade de Chicago que já estava conversando sobre toda esta exploração, se revoltou e entrou em greve, entre outras coisas, pela jornada de trabalho de 8 horas.
Era o dia 1º de maio de 1886.
Para contar a história desta data, Conquista criou uma personagem: a professora Vera Dias, que freqüentemente retornará às paginas do jornal, inclusive para responder perguntas que cheguem à nossa redação.
As respostas da professora são frutos de pesquisa no livro "1º de maio: cem anos de luta", de José Luiz Del Roio.
C - Professora, o que se comemora no dia 1º de maio?
VD - No dia 1º de maio comemoramos a história de um dia. Este dia representa a luta de milhões de seres humanos pelo pão, pela dignidade, pela educação e pelo direito à felicidade. E está diretamente ligado à luta pelo limite de 8 horas de trabalho. Em quase todos os países do planeta comemora-se esta data.
C - Quando os trabalhadores começaram a lutar pela jornada de 8 horas?
VD - Durante a passagem do feudalismo para o capitalismo ocorreram muitas revoltas de camponeses e artesãos por uma vida mais justa. Em 1378, os trabalhadores têxteis de Florença, na Itália, chegaram a dominar a cidade por dois meses. Entre suas reivindicações estava a redução da jornada de trabalho. No dia 1º de maio de 1531, os aprendizes da cidade de Lucca, também na Itália, fizeram uma manifestação pedindo a redução da jornada.
C - Quantas horas se trabalhava no iníco do século?
VD - Podia se chegar a 17 horas por dia, num ambiente muito ruim para a saúde.
C - Quando os operários começaram a se revoltar?
VD - O ano de 1819 foi muito rico em manifestações de protesto. Ainda naquele ano, os trabalhadores conseguiram fazer aprovar uma lei que limitou a jornada de trabalho para crianças entre 9 e 16 anos a 12 horas por dia.
C - Em que ano os sindicatos foram reconhecidos na Inglaterra?
VD - Em 1824. E mesmo com uma estrutura incipiente muitas greves foram realizadas exigindo a jornada de 8 horas. Foi assim que eles conseguiram que as crianças passassem a trabalhar 9 horas. Deu um tremendo rebu. Os patrões até entraram em greve exigindo que a jornada da meninada fosse pelo menos de 10 horas. Diziam que não iriam suportar os prejuízos. A mesma lenga-lenga que a gente ouve até hoje. A pressão dos empresários não deu em nada. A luta dos operários estava crescendo. E em 1847, conquistaram uma lei que determinou em 10 horas a jornada dos adultos. Esta lei passou a vigorar na Inglaterra em 1º maio de 1848.
C - A luta dos operários só era forte na Inglaterra?
VD - Não. Na cidade de Bordeaux, na França, no dia 1º de maio de 1831, os serradores destruíram as novas serras-mecânicas e um quebra-quebra geral aconteceu em diversos municípios. No mesmo ano milhares de operários, com a colaboração de alguns segmentos da guarda nacional, ocuparam a cidade de Lyon. Em 1840 uma greve abalou a França exigindo a jornada de trabalho de 8 horas. Os gráficos colheram o fruto desta greve, e em 1843 a sua jornada foi estabelecida em 10 horas.
C - Essas lutas não eram reprimidas?
VD - Claro que eram. No dia 22 de fevereiro de 1848, as autoridades francesas resolveram proibir uma reunião de trabalhadores. Assim que souberam da proibição estudantes e operários levantaram barricadas por todos os cantos de Paris. Naquele dia Paris foi totalmente dominada pelo proletariado e a jornada de trabalho definida em 10 horas para todos os trabalhadores.
C - Professora, fale um pouco sobre a luta pela redução da jornada de trabalho nos EUA
VD - Os EUA surgem como nação independente da Inglaterra em 1776. Para lá foram muitos migrantes, principalmente alemães, escandinavos e irlandeses. A vida dos trabalhadores dos EUA não era diferentes da dos trabalhadores europeus. Tanto que em agosto de 1886, o congresso operário da cidade de Baltimore adota a seguinte resolução: "A primeira e grande necessidade do presente, para libertar o trabalho deste país da escravidão capitalista é a promulgação de uma lei em que 8 horas devem se constituir a jornada de trabalho normal em todos os Estados da União norte-americana. Nós estamos decididos a empenhar toda nossa força até que seja atingido esse glorioso resultado". Em 1868 o Senado americano chegou a aprovar uma lei que determinou 8 horas de trabalho para todos. Essa lei nunca foi respeitada.
C - Mas essa lei não veio de graça
VD - Lógico que não. Em 1884, um congresso de trabalhadores em Chicago já havia determinado que os trabalhadores deveriam considerar normal a jornada de trabalho de 8 horas e parar nas fábricas onde elas não fossem respeitada
C - É, professora estamos chegando nos mártires de Chicago
VD - É verdade. No dia 1º de maio de 1886, em Chicago, milhares de pessoas abandonaram as fábricas e realizaram enormes manifestações pela jornada de 8 horas, que realmente passou a vigorar em vários estados. No dia 3, uma segunda-feira a greve continuou em vários estabelecimentos. E foi aí, que inconformados com tanta organização e disposição de luta, a repressão se abateu sobre os trabalhadores. Diante de uma fábrica a polícia disparou contra um grupo de operários. Seis morreram, cinqüenta ficaram feridos e centenas foram presos. Bem parecido com o que aconteceu aqui no Pará, com os trabalhadores Sem-Terra.
C - Como os trabalhadores reagiram aquele massacre?
VD - Uma nova manifestação é realizada com a presença de milhares de trabalhadores. Quando a concentração começa a se dispersar um grupo de 180 policiais ataca com violência. Uma bomba estourou no meio dos guardas e a carnificina começou. Nunca se soube quantos morreram naquele dia. Como não sabemos quantos morreram no massacre do Pará. Os trabalhadores foram acusados. Cinco líderes do movimento foram condenados a morte. Dois à prisão perpétua e um a 15 anos de prisão.
C - Pois é professora, e agora o Fernando Henrique vem com esta história de mexer nos direitos trabalhista, pelos quais tanta gente morreu.
VD - Exatamente. O governo de Fernando Henrique está implementando um projeto no Brasil que acaba com a jornada de 8 horas, com a carteira assinada, com as férias, com o FGTS e com o 13º salário. Este projeto acaba com o mínimo que temos. Os trabalhadores do início do século lutaram para conquistar direitos que nós agora temos que lutar para manter. E vamos fazer isso, meus amigos.