Claudia Santiago entrevistou Pedro Ivo
De olho no Mercosul, a Renault, estatal francesa, escolheu a Região Metropolitana de Curitiba para instalar sua fábrica de automóveis. A decisão da Renault acaba com uma intensa disputa entre vários estados que prometiam todas as condições necessárias para a instalação da fábrica. Começa agora a luta da CUT e ONGS para impedir que isto seja feito numa área de mananciais. Pedro Ivo, diretor da CUT nacional responsável pela questão do meio ambiente fala nesta edição sobre os riscos deste projeto à população e ao meio ambiente.
C - Pedro Ivo, por que o Paraná venceu a disputa pela instalação da fábrica da Renault?
PI - Porque, além das vantagens de praxe - insenções tributárias, infra-estrutura, participação de capital local, inclusive público, colocou um adendo "verde". A área destinada à fábrica é absolutamente livre de poluição, um verdadeiro distrito industrial ecológico.
C - Onde fica está área?
PI - No Distrito Industrial de São José dos Pinhais, que fica dentro da Bacia do Alto Iguaçu, principal manancial de abastecimento da Região Metropolitana de Curitiba. Este projeto coloca em risco todos os investimentos feitos até agora para proteger a área.
C - Que investimentos são estes?
PI - O Bird investiu US$ 45 milhões de dólares na proteção do manancial. Isto, sem falar nos investimentos já realizados no atual sistema de abastecimento, que devem cerca de 120 a 150 milhões.
C - Quais os prejuízos ecológicos que a região vai sofrer com a instalação da fábrica?
PI - 1) O uso total, pela indústria, de um dos rios definidos como manancial futuro
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C - A CUT está tomando alguma medida para proteger o manancial?
PI - O Fórum das ONG’s Ambientais de Curitiba entrou com uma solicitação de Es–tudo de Impactos Ambientais (EIA) tanto do distrito industrial, quanto da Renault. O governo com pressa tentou marcar a audiência pública antes da entrega do Relatório de Impacto ao Meio Ambiente (RIMA). Ouve muita pressão das entidades ambientalistas e a audiência foi adiada. No dia 31 de março houve uma reunião entre governo e Fórum, quando o governo apresentou o RIMA só do distrito, que aborda a bacia do Rio Pequeno e não da fábrica, que aborda toda a Bacia do Alto Iguaçu, que vai ser muito afetada. Nós questionamos o RIMA, e também o fato de a instalação da Renault na Bacia do Alto Iguaçu estar sendo anunciada como fato consumado.
C - E não é um fato consumado? Há como mudar o local?
PI - Sim. Ainda há tempo de redefinir a localização. Existem outras áreas fora do manancial, onde o empreendimento poderá ser instalado, com danos bem menores ao meio ambiente.
C - Qual a importância desta área para o meio ambiente?
PI - Esta é uma área que tem como vocação principal o fornecimento de água de boa qualidade para o abastecimento público. Portanto, qualquer uso deveria estar subordinado a esta propriedade.
C - Existe alguma legislação que impeça a instalação da fábrica nesta região?
PI - Sim Existem aspectos legais, que não permitem este tipo de empreendimentos em bacias mananciais, que devem ser objeto de estudo de impacto ambiental e de discussão com a sociedade civil, particularmente suas entidades representativas, para depois definir sobre a autorização do início das obras.
C - A instalação da fábrica numa área de manancial não vai incentivar outros municípios, que estão nas mesmas condições, a também tentar burlar a legislação?
PI - Acredito que muitos municípios que hoje se sentem prejudicados por abrigarem áreas de mananciais, usarão este precedente como argumento para fugir das limitações impostas pela legislação.
C - Qual a proposta da CUT e das ONGs?
PI - A CUT, através da Comissão Nacional do Meio Ambiente (CNMA) e da CUT Paraná, junto com o Fórum das ONG’s Ambientalistas de Curitiba farão todos os esforços para que a instalação da Renault não seja na área de mananciais. Nós defendemos a participação da sociedade nesta discussão.
Esta fábrica não poderia ser instalada em outra região?
PI - Sim, inclusive é bom lembrar que Curitiba tem uma cidade industrial e que existem outros municípios da região metroplitana longe dos mananciais importantes, onde já existe atividade industrial. A ocupação e o adensamento das áreas em torno, pela população que virá atrás dos milhares de empregos anunciados. O precedente que vai levar todos os municípios da região dos mananciais a quererem também seu parque industrial, com tudo o que têm direito A atração de um número muito grande de fornecedores que também irão se instalar no manancial, pois já foi criado um distrito industrial para isso