Por NPC
Fernando Amaral: "Eles o ajudaram a se eleger. Agora é hora dos dividendos". (05.96)
SISTEMA FINANCEIRO "Eles o ajudaram a se eleger. Agora é hora dos dividendos" FHC se sustenta com apoio dos banqueiros Fernando Amaral é ex-presidente do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro, e foi recentemente eleito membro do Conselho de Administração do Banco do Brasil, representante dos funcionários. Aqui nos dá sua visão da situação política atual C - O sistema financeiro nacional está quebrado? FA - Não. Não está quebrado. Está precisando ser rediscutido, redefinido, replanejado e regulamentado de acordo com as novas necessidades do país e a nova realidade econômica. C - O que são essas necessidades do país? FA - O Brasil enfrenta sérios desafios com relação aos direitos sociais e à necessidade de retomada da produção com geração de empregos e renda. O plano econômico de FHC vem conseguindo manter os índices de inflação bastante baixos às custos de altos índices de desemprego, grande número de falências e concordatas, e elevadíssima taxa de juros. C - A concessão de ajuda ao Nacional por parte do governo, via PROER é correta? FA - Quando um banco "quebra", significa que ele não tem mais capacidade de honrar compromissos assumidos quando de suas captações. Os recursos de todos os depositantes e aplicadores ficam retidos, inicia-se o processo de cobrança dos tomadores de recursos. Caso não haja garantias para os depositantes, seus recursos podem ficar presos, provocando uma inadimplência em cadeia, e pode ocasionar uma quebradeira generalizada. Quando o governo criou o PROER era sua preocupação evitar a quebradeira geral que poderia, segundo seu entendimento, levar ao caos econômico. C - A preocupação do governo é correta? FA - É correta, porém suas medidas me parecem equivocadas. Seria aconselhável que ao se dar socorro ao sistema financeiro, se garantisse a superação dos problemas estruturais que levaram ao problema emergencial. Deveria-se acelerar os trabalhos da comissão que regulamenta o Artigo 192 da Constituição, que trata do sistema financeiro. Deveria-se também debater a questão do cumprimento do dispositivo constitucional que limita os juros a 12%. Poderia-se ainda negociar, com cada banco ou com o sistema como um todo a troca do socorro contra uma redução global das taxas de juros. O proer serve para cobrir rombos e dar fôlego ao sistema para que os bancos se fundam ou se incorporem uns aos outros, adiando um novo e mais grave problema. C - O governo teria condições políticas de adotar as medidas que você sugeriu? FA - Não tenho expectativas sobre à tomada dessas decisões por parte do governo. O governo foi eleito com o apoio desse segmento que já concentra renda há muito tempo no país. É muito difícil, diria quase impossível, que o governo adote medidas necessárias que possam "prejudicar" aqueles que o sustentam. C - O governo divulgou que tinha dificuldades para cumprir seus compromissos no campo social, uma vez que só dispunha de R$ 4 bilhões para satisfazer todas as necessidades sociais, como saúde, educação, por isso precisava reduzir os gastos de pessoal do governo. FA - O Governo gastou em 1995, R$ 33 bilhões com juros e serviços da dívida interna. Transferiu para os tubarões do setor financeiro, oito vezes mais recursos do que disse que dispunha para atender ao povo, nas suas necessidades básicas. Além disso, concedeu mais R$ 13 bilhões a título de socorro a esse mesmo segmento perfazendo um total de R$ 46 bilhões. Me diga você. Qual é a verdadeira prioridade do Governo? C - Amaral, você falou na regulamentação do artigo 192. Em que pé anda o trabalho da Comissão? FA - Não anda. O Governo tomou a decisão de impedir o seu prosseguimento até que as oposições desistam de discutir a questão dos juros. Até parece que essa questão não interessa aos cidadãos, ao setor produtivo e à sociedade. C - Quais são as principais propostas defendidas pelos trabalhadores nessa regulamentação? FA - A criação de uma Comissão Permanente de Acompanhamento do Sistema Financeiro, para que o Banco Central possa ser supervisionado pelos representantes do povo. A adoção de uma lei de Prioridades e Metas, anual ou bianual onde o Congresso Nacional, que conta com representantes de todos os segmentos da sociedade, possa definir quais seriam as áreas prioritárias de investimentos no País. O sistema financeiro como um todo, bancos públicos e privados, teriam que investir parte de seus recursos nessas áreas, obrigatoriamente. C - O ministro da Fazenda fala em privatização do Banco do Brasil. O que você acha ou sabe disso? FA - Alguns parlamentares já apresentam projeto para incluir o Banco do Brasil na lista de empresas privatizáveis. Os acontecimentos recentes na área financeira apontam para o sentido contrário. A diretoria do Banco do Brasil defende que o Banco seja uma mera empresa prestadora de serviços, deixando a sua função de banco, de conceder crédito e financiamento, que, segundo a eles envolve "muito" risco. Na quebra do Econômico, o governo viu que a população recorreu ao BB e à CEF, em busca de segurança. Quando o Econômico ou o Nacional, e até mesmo o Bamerindus precisaram de ajuda, foi o BB que foi chamado a socorrer. É difícil crer que o governo ainda não tenha percebido a importância desse banco como instrumento de política creditícia e como regulador do mercado. C - O governo diz que privatiza para fazer caixa. FA - Ora com os prejuízos que o Banco do Brasil vem apresentando, se a idéia fosse de privatizar, seria melhor vendê-lo apresentando prejuízo, por alguns milhões de reais, do que colocar R$ 6 bilhões no banco para vendê-lo por mais ou menos R$ 4 bilhões. C - Vai ser possível convencer a sociedade desses argumentos? FA - O país precisa de financiamento, de crédito produtivo, de gerar empregos, de gerar rendas. O BB, com sua rede de agências é o melhor instrumento para ajudar o Brasil a crescer e a superar suas desigualdades regionais. É preciso ficarmos atentos pois a irresponsabilidade de alguns, a incompetência de outros, e os mal intencionados já fizeram muito mal ao Banco do Brasil, ao país e à sociedade. Está na hora de sermos cada vez mais propositivos e atuantes.
Núcleo
Piratininga
de Comunicação
—
Voltar —
Topo
—
Imprimir
|