Por Marcela FigueiredoBoletimNPC- Quais as principais diferenças entre modelo digital e o usado atualmente, o analógico.
Gustavo Gindre - A gente abre duas possibilidades, duas potencialidades. O que não significa que elas irão se cumprir. O que será, ainda não está definido. A gente trabalha com hipóteses. O que está acontecendo no Brasil é que existe tão pouca diferença do atual modelo de TV que, na verdade, a TV digital vai ter a cara da TV analógica. A gente corre esse risco.
A TV digital abre duas potencialidades que vão depender muito mais de questões políticas que de questões técnicas.
Primeiro é a possibilidade de multiplicação dos canais disponíveis. O espaço ocupado hoje para uma transmissão poderá ser ocupado para várias transmissões simultaneamente. Pode ser ocupada, inclusive, por operadoras diferentes. O que aumentaria significativamente a possibilidade de abrir espaço para programas diferente simultaneamente. Por exemplo, o que hoje é o canal 4 no Rio de janeiro, poderá vir a ser ocupado também por outras diferentes operadoras.
A outra possibilidade é introduzir a interatividade. A televisão passaria a ter um canal de retorno, aí teria que ter algum sistema de banda-larga ligado à televisão que permitiria agregar a televisão serviços que hoje não são típicos da rádio-difusão. Essas seriam, para a população, as duas grandes diferenças: a interatividade e a possibilidade de multiplicar os canais hoje disponíveis. O que não significa que ela vai apresentar.
BoletimNPC- Os aparelhos que estão a venda no mercado, os mais modernos, como os de plasma e LCD, poderão receber o sinal digital?
Gindre - As pessoas terão que comprar o seu próprio “box” [decodificador]. Porque será preciso processar dados. Na verdade o que se pode comprar hoje é uma boa tela. A Tv digital é mais que uma boa tela. Na medida que você está trabalhando com dados, os de interatividade, por exemplo, você vai ter que ter processador, vai ter que ter chip. Na verdade, o que a gente está começando a assistir é o casamento entre televisão e Internet. TV digital não é Internet, mas vai começar um processo aproximação. A televisão vai começar a assumir um processo parecido com o da Internet.
BoletimNPC- Parecido com o que o celular já faz hoje?
Gindre - Sim. Na verdade o que você tem é um processo de convergência. A tendência é fazer com que no futuro, você possa fazer uso diferenciado de uma mesma rede. A gente está assistindo um processo de convergência.
BoletimNPC- Os modelos de televisão que a grande maioria da população já tem em casa, poderão receber o sinal digital, caso ela compre o decodificador?
Gindre - O que vai ter de imediato é o desaparecimento do chuvisco. Na TV digital, se tiver interferência você não recebe sinal. A TV digital ou é qualidade de DVD, ou é tela azul, não mostra nada. O cidadão comum, que não tem uma televisão maravilhosa, de alta definição, o que ele estará recebendo será uma televisão com qualidade de DVD, sem chiado, desde que ele compre o conversor. O grande problema é saber se a emissora transmitirá em alta definição ou não.
BoletimNPC-Isso fica a critério da emissora?
Gindre - Isso não está definido ainda. Há uma equação aí. Alta definição significa uma imagem muito melhor, o que em tese é melhor para o consumidor. Em compensação você encarece o receptor, porquê o receptor tem que ser capaz de decodificar o sinal em alta definição. Se transmitir em alta definição, ou sua tela é de alta definição, isso significa uma televisão de no mínimo 10 mil reais. Ou o seu conversor tem relativa sofisticação capaz de pegar o sinal em alta definição e reduzir esse sinal para que a televisão comum possa ver. De qualquer maneira o consumidor final vai pagar mais por isso. Ou ele vai pagar muito mais pela televisão de alta definição, ou vai pagar um pouco mais pra fazer essa conversão pra televisão dele. Então, alta definição significa encarecer pro consumidor final. Um outro problema é que um canal de alta definição significa ocupar mais espaço no espectro. Um canal de televisão, hoje, se você transmitir com qualidade de DVD você consegue transmitir 4 ou 5 programações simultaneamente. Se colocar com alta definição terá dificuldade para colocar 2. Quanto melhor a definição, menos quantidade de programação. Eu acho que a prioridade no Brasil é aumentar o número de canais disponíveis. A prioridade não é alta definição. Em um país como o Brasil, com problema de renda que a gente tem, sabendo que boa parte da população não terá acesso a alta definição tão cedo, e sabendo que a gente tem um oligopólio privado de meios de comunicação, ou seja, está concentrado nas mão de poucas pessoas, o que eu defendo é que a TV digital deveria ser usada para desconcentrar os meios de comunicação. Se falar para qualquer pessoa, “eu vou te dar uma TV com qualidade de DVD”, ela achará ótimo, se disser que terá uma televisão com qualidade de DVD e vários canais será muito melhor pra ela. É melhor para ela ter uma televisão com pouca definição e vários canais do que uma televisão com poucos canais e alta definição que ela não vai conseguir acessar porque ele não vai ter 10 mil reais para pagar a tela de alta definição. Então, pro cidadão comum é melhor multiplicar o número de canais.
BoletimNPC- Dependendo do valor do aparelho para conversão, será difícil pra grande maioria da população ter acesso ao sinal digital...
Gindre - Vai existir um período que você vai ter o sinal digital e ao mesmo tempo o sinal analógico. Esse período, na Europa, demorou em torno de dez anos. Aqui, provavelmente vá durar até mais. Só vai poder desligar o sinal analógico depois que todo mundo tiver o sinal digital, até porque a constituição define a rádio-difusão como um serviço a ser universalizado, ou seja, um serviço aberto, universal. Você não pode privar o cidadão de receber esse conteúdo. Então, só poderá desligar o analógico depois que todo mundo tiver o digital. Eu acho que isso não vai acontecer em menos de 12 anos. Tem o problema de renda. Tem pessoas que a gente sabe que não poderá, de imediato, comprar esse equipamento novo. Vamos pensar o aparelho de DVD. Não são todas as casas no Brasil que têm um aparelho de DVD.
BoletimNPC- O preço do equipamento dependerá da qualidade dele?
Gindre - Esse é um outro problema. Se deixar com o mercado, provavelmente terá o excluído da TV digital. Terá o cara que comprará o top box baratinho, que o dará apenas a direito de trocar de canal. Ele vai receber o conteúdo da TV digital, mas não vai ter nenhum serviço interativo. Quanto mais serviço interativo armazenado no top box, maior terá que ser a capacidade dele. Ele vai ter que ter um chip mais robusto, um HD maior, uma memória mais potente. Tudo isso vai encarecer o aparelho. Existe risco de se criar um paradoxo no Brasil. Você oferece pro cara que tem grana serviços que ele não precisa porque ele já tem Internet banda larga. Você não vai chegar pra ele dizer “compre uma televisão interativa que você vai poder acessar home banking, serviços de governos eletrônico, comércio eletrônico”. Ele vai dizer: “isso eu já tenho na minha casa. Pra que eu vou gastar dinheiro se eu já tenho Internet banda larga na minha casa?”. Quem precisa desses serviços é o cara que não tem esse serviço de Internet em casa. E esse também não terá dinheiro pra comprar o seu top box.
BoletimNPC- Com isso a tendência é demorar ainda mais para o preço do aparelho diminuir?
Gindre - Claro! O que vai acontecer em um determinado momento é que as rádios-difusores começarão a fazer uma pressão enorme no governo para ele subsidiar isso. Tudo bem. Não teria nenhum problema que o governo subsidiasse isso, desde que subsidiasse um projeto de inclusão digital. Na verdade o que o pessoal vai querer subsidiar é o que chamam de zapper, que só permite ficar trocando de canal. Inclusive pra poder desligar logo o sinal analógico, pois terá o momento que o analógico pro rádio-difusor vai ser custo. Ele não vai querer manter o analógico se ele vai estar ganhando dinheiro com o digital. Aí vão vender por R$ 50,00 o aparelho porquê o governo vai subsidiar. Só que ele vai subsidiar o zapper, que é o top box baratinho. Ou seja, aquele top box que beneficiaria a população é o que permiti a interatividade. Aí sim existiria a inclusão digital. A população poderia, não apenas fazer compras no shoptime, mas poderia também ter educação a distância, ter acesso a serviços de governo eletrônico, o pequeno agricultor poderia ter acesso a informações sobre financiamento da safra agrícola, tele medicina.
BoletimNPC- Com a chegada da TV digital haverá uma democratização dos meios de comunicação?
Gindre - Pode haver. Se você me perguntar se eu acho que isso vai acontecer eu responderia que não. Quero dizer, mantidas as condições normais de pressão e temperatura, não. Esse governo não tem a menor intenção de tocar nessas questões. E sinalizou isso claramente quando colocou o Hélio Costa com ministro. O Miro Teixeira [ex-ministro da comunicação] sinalizou isso. O primeiro decreto [4.901/2003] sobre TV digital é um decreto razoável, criou um conselho consultivo formado por representantes da sociedade, financiou pesquisa de tecnologia nacional, definiu como princípio a democratização da comunicação. A entrada do Hélio Costa, com a sacramentação do decreto 5.820/2006, que é horroroso, é ilegal, a gente está brigando na justiça contra esse decreto, aí prova que houve uma guinada no governo.
BoletimNPC- A sociedade está sendo ouvida pelo atual ministro das comunicações, o Hélio costa?
Gindre - Ele nem nos recebe. A gente fez um documento com 38 páginas, com propostas concretas para três áreas: política pública, produção de conteúdo e política industrial. Entregamos esse documento em mãos do ministro Gilberto Gil, conversamos longamente com ele. Entregamos ao ministro de Ciência e Tecnologia. Entregamos ao ministro da indústria e comércio. Entregamos a vários parlamentares da comissão de Ciência e Tecnologia, Luiza Erundina, Jandira Feghali... Entregamos ao pessoal da ANCINE. Entregamos ao pessoal da ANATEL. Nós temos três pedidos de audiência protocolados no Ministério das Comunicações. Nem resposta nós tivemos pra entregar esse material. Então a sociedade, com certeza não é ouvida. O ministro das comunicações não dá entrevista, se fizer um debate eles não comparecem. Isso é sonegar informação mesmo.
BoletimNPC-Existia urgência na aprovação do modelo de TV digital?
Gindre - Não. O negócio era a Copa do Mundo. Tinha que ficar pronto porque o Lula queria ver os jogos em TV digital. Aí, nós falamos o seguinte: “a gente paga a assinatura da Sky”. A Sky já é digital e vai transmitir a copa do mundo. A gente faz um “ratata”, paga a assinatura de TV digital pro Lula, ele assiste a Copa do Mundo em TV digital e não enche o saco da gente. Conclusão, não era a copa do mundo nada porque a primeira transmissão digital só vai começar em dezembro desse ano, em São Paulo. Só em São Paulo. Só deve chegar no Rio de Janeiro em 2009. Então não tinha essa urgência, até porque você não define um negócio e põe pra funcionar no dia seguinte. Então a urgência era a urgência dos rádios-difusores
BoletimNPC- Por que a escolha do modelo de TV digital japonês, se no Brasil existia uma pesquisa para desenvolver seu próprio sistema?
Gindre - Eu acho que por três motivos. O primeiro é que a nossa elite ainda tem uma lógica de elite colonial do tipo: “aqui eu ganho, lá fora eu gasto”. Enquanto nós tivermos essa lógica nós não teremos pesquisa no Brasil. O segundo motivo: a Globo foi dona da NEC no Brasil durante 12 anos. A Globo já tinha esses contratos. Para a Globo era muito mais vantagem fechar contrato com os japoneses. O terceiro motivo é um pouco mais técnico. Nos outros modelos, o que hoje seria o canal 3, você teria que dividir esse mesmo canal em três segmentos com tamanhos diferenciados. Qual a vantagem? A vantagem é que a Globo que transmitir para telefone celular, pra transmissão móvel, é uma aposta comercial da Globo por quê ela acha que as pessoas vão comprar aparelhos que funciona em metrô, ônibus. É um novo mercado. Só que pra isso não precisa transmitir em alta definição o que o sujeito vai ver em uma tela pequenininha. Você vai transmitir em baixa definição. E pra transmitir a mesma programação em baixa e alta definição só a tecnologia japonesa.
BoletimNPC- Você acredita que as emissoras terão interesse em transmitir uma programação diferenciada, usando o exemplo da Globo, simultaneamente?
Gindre - Ela diz que não. Pra ser sincero, eu acho que tirando a Globo e a Record, as outras emissoras não têm a menor idéia sobre o que vão fazer com a TV digital. Primeiro é que são mal gerenciadas. As únicas que têm projeto de longo prazo são a Globo e a Record. Por motivos diferentes. A Record porque aquilo é a sustentação do negócio igreja, é dali que vem a grana, e a Globo porque tem uma gestão profissional, da qual eu discordo integralmente, mas eles têm uma visão de longo prazo.
A Globo diz que não vai fazer a programação segmentada, primeiro porque ela não teria de onde tirar recurso pra isso, a receita publicitária continuaria sendo a mesma e ela teria que gastar mais pra produzir conteúdo. Isso significa que ela perderia recurso. Ela gastaria mais com a mesma receita. A outra solução, seria pegar a programação acervo e começar a transmitir. Ela diz que não vai fazer isso. Eu até entendo. Ela vai fazer isso no globo.com. Ela vai começar a vender isso por demanda. Vai fazer DVD e colocar pra vender em locadora, banca de jornal. Ela não vai transmitir isso em televisão aberta por quê vai “queimar” o conteúdo dela. Ela diz que, na verdade ela vai transmitir três vezes o mesmo sinal. Ela vai transmitir em alta definição, transmissão standard e em baixa definição uma mesma grade. É um absurdo porque nesse espaço eu poderia colocar várias outras emissoras, públicas, estatais, privadas. Você vai ter três Globos transmitindo a mesma coisa.
BoletimNPC- Você acredita que a sociedade está bem informada sobre o que vai ser a TV digital e suas possíveis implicações?
Gindre - A sociedade em geral não. Ela não tem a menor idéia. Já a sociedade civil organizada, os movimentos sociais, eu diria que estão bem mais informados que estavam a dois, três anos atrás, mas bem menos informados que deveriam. A gente advoga há anos que a nossa luta só vai andar no dia que ela deixar de ser uma luta corporativa, de jornalistas, de radialistas, e virar uma luta da sociedade. Assim como reforma agrária não é uma luta do MST, é uma luta da sociedade. Luta por saúde, educação são lutas do conjunto da sociedade. Então, eu acho que a TV digital ajudou a gente a dar um passo nesse sentido. Uma série de movimentos sociais que não são especificamente da comunicação começou a se envolver com esse tema. A gente deu um passo, e esse passo nos fez caminhar bem mais que a dois, três anos atrás. Mas a gente está bem longe do que a deveria. Se agente pensar, por exemplo, nos movimentos sociais da área da saúde, que as pessoas têm bem clara a idéia de que aquilo não é uma luta de médico, é uma luta de toda a sociedade, a gente vai ter que comer muita poeira pra chegar até lá. Mas estamos caminhando.
BoletimNPC- Com relação à qualidade do conteúdo exibido. Você acredita que vai ter uma melhora?
Gindre - Se ficar nas mãos dos mesmos emissores, não. Com certeza, não. Uma das necessidades para melhorar o conteúdo é segmentar o conteúdo. Por que a televisão generalista, a televisão que tem que atender o pobre da favela e o rico da mansão, que tem que atender ao homossexual, ao heterossexual, ao branco, ao pobre, ao negro, a mulher, o que ela faz? Ela apela para as duas coisas que são universais: dor e prazer. Então ela caminha para sexo e violência. Ela sabe que o cara mais pobre da favela e o cara mais rico do mundo gozam e sentem dor. Na hora que você segmenta a televisão, quando ela deixar de ser generalista, você permite que surja o cara que diga: “Vamos fazer uma televisão comunitária voltada para aquela população que têm demandas tais”, “vamos fazer um canal que atenda às minorias homossexuais”, “vamos fazer um canal que atenda ao movimento negro”. Aí é que o conteúdo começa a se diversificar. Na verdade, segmentar é uma coisa fundamental pra que você possa produzir um conteúdo de qualidade. Enquanto a televisão for generalista você vai ficar na novela, vai ficar no noticiário, como disse o Lalo (Laurindo Leal Lalo Filho) na Carta Capital (14/12/2005), feito o Homer Simpson.
Você vai ficar com esse tipo de programação.
Uma outra coisa que tem que ter é financiamento pra poder diversificar o conteúdo. Não adianta ter uma televisão segmentada se quem vai produzir esse conteúdo são as mesmas pessoas de sempre. O mecanismo hoje de audiovisual é o seguinte: você é um cara famoso da Globo, vai em uma empresa e diz pro gerente de marketing da empresa, “não esquenta não. Você não vai gastar um tostão, você vai pegar o seu imposto devido, tirar ‘X’% do seu imposto devido” ou seja, dinheiro publico, porque a empresa já ia pagar esse imposto. “desconta isso via lei Rouanet e investe em filme que vai dar retorno de marketing para a empresa”.
Então, você vai financiar um filme que tem Toni Ramos, Glória Pires. Aí o diretor que queira fazer um filme que tenha um tema político, um tema social, um tema que não tenha grandes atores, porque a Globo não estará por trás dizendo: “tudo bem financia o meu filme que eu vou botar o Toni Ramos no Faustão, no Vídeo Show, na capa do O Globo, aí todo mundo vai querer ver esse filme porque eu vou dar divulgação para esse negócio”.
Se você não tem esse esquema, você vai estar fora do negócio. Se você não tem esse esquema, você está fora do mercado de conteúdo audiovisual. Na verdade é a verba pública, financiando o oligopólio de meia dúzia que mantém esse negócio. Ou você diversifica e faz como na França, por exemplo, que recolhe o dinheiro, esse dinheiro vai para um fundo público, gerenciado publicamente, e lá tem regras.
Lá é ‘X’% para diretores consagrados, mas ‘X’% pra quem nunca produziu filme, pra justamente ter o cara iniciante, pra curtas, pra médio, pra documentário, desenho animado, produção regional, você diversifica. Se não for com esses pré-requisitos a televisão no Brasil vai continuar do jeito que está. Aí a gente vai ter um problema. Você perguntou: “a Globo vai ter várias programações?” Mas você jamais perguntaria: “a CNT vai ter várias programações?” Ela não consegue ter uma programação. Você liga a televisão à noite, o cara está vendendo tapete, anel. O cara não consegue ter uma grade. O que vai acontecer? Ele vai começar a alugar esse negócio. A televisão vai virar um supermercado. Vai começar a alugar pra igreja, vai ter culto da Renascer, Reviver, Reflorescer, começando a cada cinco minutos, por que ele não consegue ter uma grade de programação.
BoletimNPC- Então, em princípio, serão as emissoras que decidirão como utilizar a potência que a TV digital abre possibilidade?
Gindre - Sim. As emissoras privadas decidirão como utilizar um bem público. A rigor ela pode, inclusive, ocupar só uma parte do espectro. Você dá, por exemplo, o canal digital 38 para a CNT. Ela não tem condições de usar e também não quer que ninguém use. Vai ser um desperdício de bem público enorme. Você vai deixar nas mãos de oito ou nove rádios difusores que já controlam. Nós estamos falando não só das famílias que controlam comercialmente as geradoras. Nós estamos falando também dos coronéis políticos que controlam politicamente as emissoras. A gente também está falando do Collor que retransmite a Globo em Alagoas; do ACM (Antônio Carlos Magalhães), na Bahia; do Albano Franco, em Sergipe; do Jader Barbalho, que retransmite a Bandeirantes no Pará; Siqueira Campos em Tocantins. São os políticos que têm todas as concessões. Esses caras não querem saber se vai entrar um outro cara com outra opinião, com a TV do sindicato, com a TV das ONG’s. Ele controla aquilo com mão de ferro a anos. É aquilo que elege os deputados dele, o governador. Ele não quer ter esse espaço fragmentado.