Entrevistas
Beto Novaes: “A imagem tem um poder de compreensão muito maior do que a escrita”
Por Marcela Figueiredo Com o objetivo de despertar a atenção e indignação, Beto Novaes produz filmes contando como é a vida no campo e nas periferias dos grandes centros urbanos. Espera que as pessoas, ao ver a realidade, se sensibilizem com as péssimas condições de vida de grande parte da população brasileira. A partir das pesquisas feitas no Instituto de Economia da UFRJ, Beto percebeu a necessidade de divulgar os resultados obtidos para quem está fora da vida acadêmica. A melhor maneira encontrada foi fazer isto através da imagem. Para ele a história das lutas sociais, a exploração infantil, a vida dos trabalhadores, as péssimas condições de trabalho na agricultura, têm uma maior repercussão quando é transformada em imagem. “A imagem tem um poder de comunicação muito maior que a escrita”, afirma. Foi seu histórico envolvimento com os movimentos sociais e como assessor da CUT que o despertou para produção desse tipo de filme. Para ele as produções exibidas na grande mídia estão voltadas muito mais para clip e novela. “Hoje em dia tudo é muito rápido, as pessoas não têm tempo para pensar”, disse ele. Através do tipo de produção feita por Beto Novaes podemos garantir que a história da classe trabalhadora não seja esquecida. Podemos resgatar o passado de milhares de trabalhadores que não aparecem em nossos livros escolares. Podemos contar a história do ponto de vista dos dominados. Quem sabe assim, um dia poderemos reverter o quadro de opressão em que vivemos e construir um Brasil melhor. O cinema e os Movimentos Sociais Sobre a utilização do cinema pela esquerda, Novaes afirma: “Os movimentos sociais não usam o poder de reflexão que o cinema é capaz de promover, só utilizam filme quando é para preencher um tempo que está sobrando”. Na sua opinião, obviamente, deveria ser diferente: “Não basta mostrar o filme às pessoas. É preciso dar os instrumentos necessários para que elas desenvolvam um pensamento crítico sobre sua realidade. Assim elas terão capacidade de perceber as contradições da sociedade em que vivem”, esclarece. A paixão pelo povo, e pelo cinema, ficam explícitas nos tipos produções feitas. Entre elas estão: Conversas De Crianças, que fala sobre a vida de crianças que vivem em acampamentos do MST; Meninas Mulheres, onde adolescentes contam suas experiências de criança, adolescente e mãe; Califórnia À Brasileira, fala sobre a realidade dos cortadores de cana de Ribeirão Preto (SP); entre outros belíssimos.
Música e fotografia Beto Novaes não trabalha somente com filmes. Em suas palestras e cursos ministrados pelo Brasil, ele utiliza também a fotografia como uma das formas de sensibilizar as pessoas. Uma outra ferramenta que também acredita ser importante é a trilha sonora usada. Em o premiado filme Expedito - Em Busca De Outros Nortes, uma das maiores preocupações foi com as músicas que seriam escolhidas. Sobre isso, Beto afirma: “As músicas têm que ser de fácil compreensão e ter o poder de tocar as pessoas”. O povo brasileiro Vidas Secas e O Pagador De Promessas são alguns dos bons filmes brasileiros indicados por nosso entrevistado que “podem ser utilizados como instrumento pedagógico” e “apresentar as relações contraditórias da sociedade”, finaliza o amante do povo.
Núcleo
Piratininga
de Comunicação
—
Voltar —
Topo
—
Imprimir
|