Entrevistas
Entrevista com Kjeld Jakobsen – em 02.12.2006
Por Kátia Marko e Marcela Figueiredo
Boletim NPC - Como é o trabalho do observatório social? Kjeld Jakobsen - O observatório basicamente investiga. Investiga, no sentido da pesquisa, como as empresas, principalmente as multinacionais, se comportam em relação às normas básicas em relação à Organização Internacional do Trabalho (OIT), normas de saúde e segurança do trabalho, meio ambiente e quando elas declaram que têm responsabilidade social e empresarial, se essas políticas são coerentes ou não, principalmente com o cumprimento dos direitos trabalhistas. Então, nós temos que desenvolver uma metodologia para fazer essas pesquisas que levanta dados a partir de fontes secundárias e, posteriormente, por meios de entrevistas com dirigentes sindicais, com os trabalhadores, e, quando as empresas se dispõem, e não é sempre que isso acontece, com a própria gerencia ou com pessoas ligadas à gerencia das empresas. Isso se torna um relatório onde nós fazemos um parecer sobre se há problemas, ou não. E, caso haja, de que tipo em relação a esses temas e a expectativa de que essas informações sejam utilizadas pelos sindicatos nas suas reivindicações. Temos tido alguns resultados interessantes. Boletim NPC - Por exemplo Kjeld - Em alguns casos onde as empresas se dispuseram a participar da pesquisa desde o começo, isso indiretamente acabou provocando um contato maior entre a própria empresa e o sindicato e, na medida em que os problemas iam surgindo ninguém tinha como dizer que não existiam. Os atores estavam presentes. Ai, indiretamente, isso acabou gerando um processo de negociação e solução de alguns problemas. Por exemplo, a empresa Sistem Crupe, que tem uma siderúrgica no estado do Rio de Janeiro, tinha uma planta extremamente antiquada, com péssimas condições de trabalho, e a partir do que foi detectado na pesquisa realizada nessa siderúrgica, a empresa, que é alemã, decidiu realizar um grande empreendimento no sentido de modernizar e de tornar as condições melhores. Boletim NPC - Quais os principais problemas detectados? Kjeld - Primeiro é bom considerar que para essa pesquisa ter sucesso nós precisamos considerar também a cadeia produtiva. Hoje, as empresas terceirizam parte da sua produção ou têm como terceirizar seus suprimentos. Quando temos recursos, nós estendemos essa pesquisa por toda cadeia produtiva, mas, mesmo assim, na empresa principal, onde dificilmente você encontra problemas como trabalho infantil ou trabalho escravo, ainda encontramos muitos problemas relativos à liberdade sindical, proibição de acesso aos locais de trabalho por parte dos dirigentes, problema de saúde e segurança no trabalho. A incidência de LER no setor de serviço é enorme e praticamente todas as empresas têm problemas com relação de gênero, e aquelas que atendem diretamente ao publico em geral têm problemas com relação à discriminação de raça. Em um país com a diversidade racial que é o Brasil é muito estranho que bancos, supermercados só tenham brancos fazendo esse tipo de trabalho.
Boletim NPC - Vocês trabalham por demandas ou desenvolvem as pesquisas? Kjeld – Principalmente, por demandas. Essa demanda pode vir do sindicato brasileiro, normalmente sindicatos ligados à CUT. Nós tentamos trabalhar não com sindicatos individuais, mas de preferência com sindicatos ligados a determinadas empresas. Inclusive contribuindo para que se estabeleçam redes entre sindicatos, para que aja uma cooperação maior entre eles. Então, quando há essa demanda aqui, nós atendemos. Essa demanda pode vir também do exterior porque só 60% do financiamento do observatório é de solidariedade sindical internacional e as vezes acontece, como já aconteceu por exemplo, de a central sindical da Finlândia ter interesse em saber como as empresas finlandesas se comportam por aqui. O que é conveniente também do sindicalismo brasileiro porque isso nos dá um parceiro político na Finlândia. Ou seja, se nós temos que tentar contato com a empresa matriz talvez isso é facilitado. A terceira maneira é uma opção do próprio observatório, pelo fato de nós sabermos ou tomarmos conhecimento de um determinado problema que provoca necessidade de uma pesquisa, nós fazemos. Mas sempre em conjunto com o sindicato. Aí somos nós que provocamos o sindicato pra se engajar no trabalho. Boletim NPC - Qual a estrutura do observatório? Kjeld - Hoje temos a sede, que fica em São Paulo. Antes essa sede ficava em Florianópolis, mas mudou. O escritório de Florianópolis fechou. Temos um escritório no Rio de Janeiro. São, basicamente, vinte e dois funcionários, a maioria deles pesquisadores. São economistas, sociólogos, pessoas formadas em relações internacionais, enfim, alguma formação acadêmica relacionada ao tema. Temos uma área de comunicação social, que cuida dos nossos “sites”, da revista trimestral que nós temos, outras publicações, relatórios, etc. E temos também um projeto que promove dois cursos: um sobre o que é responsabilidade social empresarial e o outro sobre inclusão digital para sindicalistas. Boletim NPC - As pesquisas estão disponíveis no “site”? Kjeld - Todos os relatórios e as pesquisas concluídas estão no site www.observatoriosocial.org.br. E dentro do programa de inclusão digital, que nós chamamos de conexão sindical, existe inclusive um mecanismo para que as pessoas se credenciem gratuitamente e passe a fazer parte de uma comunidade virtual da conexão sindical, onde há troca de informações sobre o que está acontecendo na sua empresa, articulação de solidariedade, enfim, tudo que é possível ser feito por esse meio eletrônico. Boletim NPC - E os sindicatos já estão cientes da importância da pesquisa como ferramenta? Kjeld - Eu diria que está melhorando, mas ainda tem muito pra avançar. Quem teve a oportunidade de participar e ser beneficiado pelo serviço não se arrepende.
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