Entrevistas
Entrevista com Joaquim Palhares, em 01.12.2206
“O Brasil é um país tremendamente autoritário e machista” Por Marcela Figueiredo
Marcela – Durante sua fala você disse que não é jornalista, você está jornalista. Disse ainda que o que você gosta de fazer é política. Na Agência Carta Maior você faz política? Joaquim Palhares – Claro. Com certeza. A nossa vida é política. A política é a mãe das ciências. É ela que define o básico, o elementar, o fundamental e o essencial. É a política que dá o rumo. Então, a gente faz política em tudo. Eu acho que um jornalismo comprometido com o interesse do povo brasileiro, com o povo da América Latina, com todas as questões que envolvem o interesse do planeta, ele tem que ser tratado politicamente.
Marcela – Uma das coisas que se fala muito com relação a grande mídia é a questão da imparcialidade. Existe possibilidade de imparcialidade na mídia? Palhares – Não. O jornalismo nunca vai ser imparcial. Por o Arbex (José Arbex Jr. Professor de comunicação/ PUC-SP) lançou aqui a questão de Rede Globo de esquerda. Eu não proponho isso. Agora é ledo engano achar que o jornalismo não tem lado. Claro que tem. Agora qual é o problema? É que a grande maioria não diz o lado que esta. E vende a notícia como se ele fosso isento.
Marcela – Comunicação e publicidade no governo estão sendo confundidas? Palhares - Não tem nada haver uma coisa com a outra. O governo Lula, lamentavelmente fez essa confusão entre publicidade e comunicação.
Marcela – Você falou também sobre a importância da transparência em um país democrático. O Brasil é um país democrático? Palhares - Não. O Brasil, como todo país Latino Americano, é um país tremendamente autoritário. Machista e autoritário.
Marcela - Qual a importância da mídia nesse processo de democratização? Palhares – Esse é o grande papel da comunicação. Seria explicitar todos os lados dos temas. Sempre se posicionando. Dizendo: olha, eu sou a favor disso, mas existe isso, isso e isso. Para poder informar as pessoas. Hoje, o bem mais caro no mundo é a informação. Quem domina a informação domina o mundo. Esse é o tema. Veja como o Estados Unidos chegaram onde chegaram. Eles dominam absolutamente tudo. O cinema, talvez junto com a televisão, seja uma dos maiores instrumentos de invasão e de ofensa à soberania de todos os povos. Porque eles entram no seu país, entram na sua cidade, entram na sua casa com todos os canais fechados, vendendo uma quantidade imensa de quinquilharias para as televisões de cada país. Os desenhos animados que eles vendem é uma coisa abusiva. São bonecos matando bonecos. São bonecos horríveis. Eu fico chocado quando vejo isso na televisão. São todos enlatados que as televisões aqui são obrigadas a comprar. Quero dizer: isso tudo faz parte da comunicação. Comunicação não é só dar notícias. Comunicação é também divulgar a cultura dos povos. E é através desse instrumento que o grande capital internacional se utiliza para ter esse domínio do mercado. Por isso que hoje na palestra eu insisti muito, pois dou muito valor, a discussão da macroeconomia. Porque é ela que faz a pauta da imprensa, no mundo e no Brasil.
Marcela – Você falou sobre a construção de uma comunicação popular em 2007. Pode falar um pouco mais sobre isso? Palhares – Eu acho que tem aí argumentos armazenados com um grande potencial, que é nas rádios comunitárias, nos blogs, nos inúmeros sites, experiências em universidades, em sindicatos. Isso tudo tem que ser incentivado.
Marcela – Como você mesmo disse, você gosta de política e falou muito disso na palestra. Queria que você falasse um pouco sobre a divisão dos movimentos sociais no primeiro governo Lula. Palhares – A posição dos movimentos sociais durante o governo Lula foi de total apoio ao governo. Não houve grandes divisões. A posição foi de apoio ao governo. Agora, o movimento social tirou uma pauta dizendo que o apoiaria desde que aquela pauta fosse atendida.
Marcela – A criação da CONLUTE, por exemplo, rompendo com a UNE, não seria uma divisão?Palhares – Eu acho que não tem poder de massa para poder fazer alguma diferença. Mais é bem vinda. Eu acho que toda discussão tem que existir.
Marcela – Você comentou sobre segundo mandato do Lula. Qual seria o substituto ideal do Lula, já pensando nos próximos quatro anos? Palhares – O que eu disse foi que existe mais a possibilidade de uma outra reeleição do Lula. Esse é o problema. Nós precisamos discutir caminhos para saber o que se faz no pós Lula. O PT ainda vai existir? É esse o caminho? Se for esse o caminho o que precisa ser feito para que ele atenda as necessidades do povo brasileiro. Uma coisa é certa, o PT que esteve aí nos últimos quatro anos, esse, está completamente equivocado. Agora eu acho que é possível resgatar o PT. Vai ter muito trabalho. Mas é possível.
Marcela – E a participação dos jovens nos movimentos sociais e na comunicação social.Palhares – Onde mais o jovem está participando é no movimento social. Mas o jovem tem resistência em participar dos partidos políticos. Ele evita a prática dos partidos políticos que é autoritária, é machista, que é feita por pessoas que têm muita pouca coisa a dar hoje aos jovens. É uma outra linguagem. Os jovens falam outra língua. Os jovens pensam de outra maneira. E o PT como o maior partido de esquerda do mundo não se adequou a esta nova linguagem.
Marcela - Você acha que os jovens se desmotivaram com o primeiro governo Lula? Palhares – Eu não sei se chegaram a esse ponto. Nós estamos falando de todos os jovens. Se você pega os jovens de esquerda é uma coisa. Se pegar todos os jovens eu acho que se decepcionaram. Com o quê? Nem eles sabem. Por que? Porque essa decepção não foi explicitada publicamente. As pessoas estão se sentindo enojadas com o mensalão, mas ele existiu? Quem fez? O que aconteceu? Houve a tentativa de compra de um dossiê? Existia esse dossiê? Se ele era tão importante, o que tinha nesse dossiê? Então, o que eu quero dizer: nós estamos perplexos. Não com o PT ou com o governo Lula. Nós estamos perplexos com o momento que nós estamos vivendo. E como eu vivi dois momentos extraordinários, que foram as mudanças na década de 60 e agora a mudança que ocorreu na década de 90, eu fico tentando entender a cabeça de um jovem. Como é que ele entende essas coisas que nós lá atrás tivemos a capacidade de entender porque nós vivemos o problema. Nós fazíamos parte do problema. Bem, o jovem de hoje ele vive no momento do problema, mas ele não fez parte do problema. Então, ele fica decepcionado com o que? O que na verdade acaba interessando é o seguinte: O Lula foi eleito com 60% dos votos. É uma coisa impressionante. Marcela – O fato de a eleição presidencial ter ido para o segundo turno... Palhares – Foi o que de melhor aconteceu. Se ele ganhasse com uma diferença de 1% do Alkimin no primeiro turno, ele estaria sendo questionado hoje, mesmo antes de assumir. Seria um governo ilegítimo. Então, se a esquerda brasileira tem dificuldades, a direita brasileira é muito burra. Eles não sabem fazer a discussão.
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