MÃdia
A TV sob controle
Nos últimos anos aumentou o questionamento sobre conteúdo dos programas de televisão. Aos poucos vai se formando uma oportuna e necessária massa crítica capaz de exigir mais qualidade da programação da TV, sem propor qualquer tipo de censura. A TV se tornou algo influente demais na vida cotidiana para se desconsiderar a relevância de suas mensagens. Mais do que isso: adquiriu um poder quase incontrolável. Em A TV sob controle – A resposta da sociedade ao poder da televisão, lançamento da Summus Editorial, o jornalista e professor da USP Laurindo Lalo Leal Filho analisa situações contemporâneas e dá voz aos inúmeros movimentos que pedem maior responsabilidade na programação, que muitas vezes é nociva à educação e à cultura brasileira. Em artigos, ele apresenta argumentos mais que suficientes para que se discuta o poder dado às concessionárias e mostra a necessidade de se modernizar a legislação que regula o setor. “Numa democracia não pode haver um poder incontrolado. É esse controle que se reivindica como forma de estabelecer limites ao poder quase absoluto exercido pela TV sobre a sociedade. Sem censura, mas com a responsabilização dos seus operadores”, afirma Lalo. Como profissional e estudioso do tema, ele reconhece o grau de importância que o assunto vem ganhando e apresenta artigos que trazem questionamentos, idéias, sugestões e outros posicionamentos diante do que se assiste na televisão. “O que se quer incitar é a participação de educadores, formadores de opinião e outros profissionais que, sendo também espectadores, almejam o uso mais democrático da televisão, como instrumento colaborador na formação de um povo mais civilizado”, diz o autor. Lalo reuniu no livro os textos que publicou durante cinco anos, de 1999 a 2005, na coluna sobre televisão da revista Educação, com exceção do primeiro, publicado na revista Comunicação e Educação, e do último, escrito para a revista CartaCapital. Os artigos discutem a relação entre a TV, o estado e a sociedade e sugerem uma legislação moderna, que possa impor algum controle em benefício de uma programação mais democrática, voltada para a cidadania. O autor apresenta também parâmetros internacionais que permitem comparações com a televisão de outros países. Em “Educar para a TV”, Lalo fala do espaço que a televisão tomou na família e na proporção que a discussão assumiu na sociedade – tornando-se inclusive assunto de seminários nas faculdades de comunicação –, da criação de uma comissão permanente no Congresso Nacional para estabelecer critérios de bom uso da programação e das dificuldades que o poder Executivo enfrenta para conseguir das concessionárias a elaboração de um código de ética. Sem esquecer, é claro, da participação efetiva do público, parte mais interessada em colaborar com a elaboração da Lei. Há também elogios entre os textos do autor, como em “A boa televisão”, em que ele se refere ao esforço de algumas emissoras de adaptar a linguagem televisiva à dramaticidade teatral. E cita como exemplo produções da TV Globo, como O auto da compadecida e A paixão segundo Ouro Preto, na parceria realizada com o grupo teatral O Galpão, de Minas Gerais. Essas seriam mostras de que é possível, sim, ter algum prazer com a televisão. A mesma TV Globo, entretanto, é protagonista de um episódio lamentável retratado num dos artigos mais polêmicos do livro, intitulado “De Bonner para Homer”, publicado pela revista CartaCapital no final de 2005. Nele, Lalo, que foi convidado a participar da reunião de pauta do Jornal Nacional, conta de que forma o maior telejornal do Brasil “molda” o noticiário e faz a seleção de notícias para um suposto espectador-padrão, que seria semelhante ao personagem Homer Simpson, pai de família alienado e mal-informado do seriado americano Os Simpsons. O autor Laurindo Lalo Leal Filho é sociólogo e jornalista. É professor do Departamento de Jornalismo e Editoração da Escola de Comunicações e Artes da USP e do Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da Faculdade Cásper Líbero. Fundou e presidiu a ONG Tver, voltada para o acompanhamento da qualidade da televisão brasileira. Também integra a Comissão de Acompanhamento da Programação de TV da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados e é membro da ONG Midiativa. Atualmente apresenta o Ver-TV, primeiro programa de análise da televisão brasileira, transmitido pela TV Câmara e pela TV Nacional de Brasília. Durante cinco anos, assinou a coluna de televisão da revista Educação. É autor dos livros Atrás das câmeras – Relações entre cultura, Estado e televisão e A melhor TV do mundo, ambos publicados pela Summus Editorial.
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