Menu NPC
 
 Conheça o NPC
 Quem somos
 O que queremos
 O que fazemos
 Equipe
 Fotos do NPC
 Fale conosco
 Serviços do NPC
 Cursos
 Palestras
 Agenda
 Clipping Alternativo
 Publicações
 Livros
 Cartilhas
 Apostilas
 Agendas Anuais
 Nossos Jornais
 Dicas do NPC
 Dicionário de Politiquês
 Leituras
 Documentos
 Músicas
 Links
 
 
Pol�tica
O que o Jornal Nacional falou e não disse sobre a Reforma Tributária

(Sérgio Domingues)

A série especial do JN foi ao ar entre os dias 28 de abril e 02 de maio. Conseguiu falar sobre os impostos no país sem mencionar a dependência externa, a herança tucana e o pesado jogo de interesses que a questão esconde.

“Poucos temas neste país conseguem essa unanimidade: o Brasil precisa de uma reforma tributária.” Esta é a conclusão do primeiro programa da série especial do Jornal Nacional sobre os impostos no Brasil. Realmente, trata-se de um tema bastante discutido. Mas discutido nos termos que a mídia coloca. A série do Jornal Nacional é um bom exemplo disso.

No programa do dia 29 a mesma afirmação voltou a aparecer. “Sindicalistas e empresários têm reivindicações próprias, mas que se unem num mesmo ideal: um sistema de impostos progressivo, quem pode mais, paga mais. Um princípio de justiça social.” De novo a idéia de unanimidade. Mas a estrutura tributária do país não nasceu pura e simplesmente da ineficiência dos governantes. Ela reflete um jogo de interesses e poder. E nesse jogo, os patrões são os donos do baralho, da mesa do jogo, do cassino e mudam as regras à menor ameaça de derrota. Mas vamos a alguns aspectos da série.

Essa série do Jornal Nacional até que surpreende fazendo algumas afirmações bastante corretas. É o caso da reportagem com um gerente de vendas. Ele “vive só com a mulher, e de acordo com tributaristas, de tudo que ganha, 30% desaparecem na forma de impostos.” A esposa comenta acertadamente: "Pagar imposto e ver revertido em alguma coisa, na saúde, na educação você pagaria até com gosto”.

Pergunta nunca feita: para onde vão os recursos dos impostos?

Sensato, sem dúvida. Mas porque é que o programa não pergunta para onde vão os recursos que deveriam ser revertidos para a saúde e a educação? Provavelmente porque a resposta ficaria fora da estética do Jornal Nacional. Falar que verbas que deveriam ir para hospitais e escolas vão parar no bolso de grandes banqueiros credores do governo fica feio.

Melhor é dizer que “A carga tributária do Brasil é uma das mais altas do mundo. É estimada em 36,5% do PIB”. E colocar um especialista chamado Celso Martone para dizer que a tal carga “cresceu muito em dez, oito anos e hoje está num nível que inibe o crescimento do país”. Só não ficou explicado que os dez ou oito anos a que ele se referiu coincidem exatamente com a dinastia dos Fernandos, fiéis seguidores das receitas neoliberais. O segundo Fernando com a vantagem de ser muito mais competente no desempenho da rasteira função.

Aí é só arrematar dizendo que "a conseqüência mais séria disso é o desemprego. É a falta de condições de gerar novos empregos". Espertas palavras de um empresário que muito provavelmente apoiou o modelo de desindustrialização de Fernando Henrique e agora achou no peso dos impostos as razões para a tragédia do desemprego.

O terceiro programa da série mostra novamente um Jornal Nacional diferente. Falando coisas que prestam. É o caso da reportagem sobre a família de uma professora, que “paga, por exemplo, no preço do macarrão, 26% de impostos embutidos. No frango, outros 20%, segundo cálculos de consultores independentes.” Uma afirmação correta e que fica melhor ainda com a seguinte afirmação do tributarista Álvaro Taiar Júnior: “Há uma injustiça aqui. Porque classes de renda mais baixa consomem basicamente 100% de sua renda e, portanto, pagam esses impostos sobre o consumo, impostos escondidos, sobre 100% de sua renda”. Só deixou de mostrar o outro lado. Deixar mais claro que as famílias mais ricas, aquelas dos donos de fábricas e fazendas vivem a situação inversa. Gastam pouco de seu orçamento com a sobrevivência e ainda repassam o que pagam ao preço das mercadorias que vendem. Dizer que essa é a lógica capitalista. Uma lógica injusta por natureza.

Ao invés disso, o programa prefere falar de outra injustiça. Aquela apontada por empresários: “muitos impostos são cobrados sobre as vendas, sobre o faturamento da empresa. Paga-se mesmo quando há prejuízo. O ideal seria cobrar com base no lucro.” Do ponto de vista da micro e pequena empresa, podemos até concordar com esse raciocínio. Afinal, é este último segmento empresarial que mais sofre com as incertezas da economia. É só ver o elevado índice de mortalidade de pequenas empresas. Mas falar em prejuízo nos casos de grandes empresas é brincadeira. Não dá para generalizar.

Depois, duas informações interessantes apareceram no programa. Uma, a de que “nos Estados Unidos, os tributos sobre o consumo respondem por 16% da arrecadação e o Imposto de Renda de pessoa física, 41%. No Brasil, é o inverso. Os impostos sobre consumo representam 45% do total recolhido e o imposto de renda 14%.” A outra, “O governo também quer mexer em três impostos responsáveis por apenas 0,4% da arrecadação. O de herança e o de venda de imóveis terão alíquotas mais altas para os mais ricos. O imposto territorial rural passa da União para os estados.” O problema é que uma deveria completar a outra de forma lógica. Isto é, se no Brasil a taxação sobre o consumo é muito maior do que a que incide sobre a pessoa física, quem está se beneficiando é quem tem mais patrimônio. Daí, o governo corretamente querer elevar os impostos sobre heranças e venda de imóveis. Mas isso não é dito de forma clara.

A CMPF não pega todo mundo. O grande capital se safa.

Por fim, o programa do dia 1o de maio resolveu falar da CPMF e do Cofins. Diz a reportagem: “São pelo menos 14 cobranças de CPMF embutidas no preço [da mercadoria]. Assim, com um cheque de cada vez, a CPMF arrecadou R$ 22 bilhões no ano passado. O imposto do cheque foi criado há dez anos. Era para ser provisório, mas está aí até hoje, e pega todo mundo.” Em relação à Cofins, o programa diz que ela “abocanha 3% do faturamento das empresas, mesmo quando elas não têm lucro. A contribuição, antes chamada de Finsocial, surgiu há 20 anos com uma alíquota de 0,5%. Hoje é seis vezes maior.” E conclui: “Juntas, Cofins e CPMF arrecadaram R$ 74 bilhões no ano passado, 15,5% da receita total.”

Tudo isso dito de forma a esmagar o telespectador com números e siglas. O que a reportagem não diz é que o grande problema da CPMF não é ser provisório existindo permanentemente. O grande problema da CPMF é que ela foi criada para levantar recursos para a saúde pública. Mas cerca de 80% da CPMF não chega aos cofres da saúde. Quanto à Cofins, ela também teria que servir como fonte de receitas para a seguridade social. Mas a seguridade também fica esperando em vão esses recursos chegarem. E eles não chegam a seu destino porque o governo Fernando Henrique aprovou uma aberração chamada Desvinculação das Receitas da União (DRU). A DRU foi criada para desobedecer a Constituição de 1988. É que a Constituição determinou que certas receitas não poderiam ser desviadas de seus objetivos. Por exemplo, o que fosse arrecadado para a saúde teria que ser destinado à saúde. O mesmo acontecendo com a educação, a seguridade etc. Mas, a DRU simplesmente permite que até 20% dessas receitas sejam desviadas para gastos do governo. Desde então, recursos da educação, saúde, previdência, estão ajudando a pagar os juros das dívidas interna e externa. É o famoso superávit primário. E é por isso que as contas da previdência não batem e a saúde está na ala dos desenganados. Enquanto isso acontece, os servidores públicos pagam o pato pelo falso rombo da previdência e a população morre nas filas dos hospitais e laboratórios. Portanto, a CPMF não “pega todo mundo”. Alguns se safam e estes são os que se beneficiam do desvio da arrecadação da CPMF e da Cofins: os credores do governo, ou seja, o grande capital.

Falar tudo isso, no entanto, além de dar trabalho, não cabe no figurino do Jornal Nacional. O JN, admitamos, anda com cara de solidariedade. Coisas da era Lula. Mas, continua afirmando de um lado e omitindo de outro para direcionar as mentes hipnotizadas da maioria de seus telespectadores. Afastar a discussão para longe das contradições de capitalismo e mantê-la presa ao discurso liberal. Aquele que joga a culpa no peso do Estado e em seus impostos esmagadores e inúteis.

Seria pedir demais que o Jornal Nacional explicasse que impostos são resultado da existência do Estado. E que o Estado é conseqüência de sociedades desiguais. Sociedades baseadas na divisão e na exploração de classe. Que, enquanto não conseguirmos acabar com a divisão e a exploração de classe, temos que fazer justiça social arrancando dos ricos e poderosos. Devolvendo aos pobres e despossuídos aquilo que lhes foi tirado através da exploração de sua força de trabalho nas fábricas, fazendas, supermercados, lanchonetes. Devolver na forma de serviços básicos, como transporte, moradia, educação, saúde e aposentadoria.

Realmente, seria demais pedir ao JN que fizesse isso. Mas poderia pelo menos ter abordado a questão tributária mostrando sua relação com a dependência externa, a herança dos Fernandos e o pesado jogo de interesses que ela esconde. Ou seja, uma questão que está longe de ser o consenso pretendido pelo programa da Globo.


Núcleo Piratininga de ComunicaçãoVoltar Topo Imprimir Imprimir
 
 NPC - Núcleo Piratininga de Comunicação * Arte: Cris Fernandes * Automação: Micro P@ge