Entrevistas
1ª Mostra CineTrabalho incentiva filmes e vídeos que tratam do mundo do trabalho
Kátia Marko - Como surgiu a idéia de realizar a 1ª Mostra CineTrabalho? Giovanni Alves - A idéia da Mostra CineTrabalho é parte do Projeto Tela Crítica (www.telacritica.org), projeto de extensão universitária que coordeno, desde 2004, e que nos últimos anos tem sido voltado para análise de filmes numa ótica crítica e buscando abordar - sempre que possível, mas não exclusivamente - questões ligadas ao mundo do trabalho. Na verdade, a Mostra CineTrabalho é um desdobramento da idéia do Tela Crítica. Agora iremos não apenas analisar filmes, mas estimular (e incentivar) sua produção - filmes e vídeos que tratam do mundo do trabalho.
Kátia Marko - Quais os objetivos da Mostra? Giovanni Alves - O objetivo da Mostra CineTrabalho é, primeiro, como dissemos acima, estimular (e incentivar) sua produção - filmes e vídeos que tratam do mundo do trabalho. Hoje é muito fácil produzir vídeos e filmes - basta ver o fenômeno do You Tube ou do Google Vídeo na Internet. Não basta ter uma filmadora na mão. É preciso ter uma idéia na cabeça. O que queremos dizer dizer é que é importante expor o mundo do trabalho. Deste modo, o CineTrabalho possui um sentido político: dar visibilidade, através do filme e do vídeo, às condições de vida e de trabalho de homens e mulheres da sociedade do capital. A idéia-chave é dar visibilidade ao mundo do trabalho, lutar contra a invisibilidade dos explorados em suas múltiplas dimensões de vida e trabalho.
Kátia Marko - Como e quem pode participar? Giovanni Alves - Todos podem participar, enviando seus vídeos ou filmes de curta, média ou longa-duração, ficcional ou documentário, que tratem de algum modo, do mundo do trabalho em seus múltiplos aspectos. O importante é participar e dar a sua mensagem midiática. Estamos apenas começando. Todo começo é difícil. Tentaremos buscar apoio para dissiminar esta idéia.
Kátia Marko - Como você vê a utilização do cinema na organização dos trabalhadores? Giovanni Alves - O cinema ou o vídeo é um recurso midiático da mais alta relevância na prática política de construção da consciência de classe. Não apenas a formação política ou sindical propriamente dita. Mas a formação humana. Isto é, através da arte podemos nos redimir da barbárie social, cultivando outra sensibilidade. Mais do que nunca, a emancipação social do século XXI é uma emancipação estética e não apenas política no sentido estrito. Vivemos numa sociedade midiática e devemos utilizar recursos midiáticos na prática pedagógica de formação humana, política e sindical. Mais do que nunca se exige capacidade de inovação nesta área de educação popular, política e sindical. A burguesia faz isto diariamente. É claro que a utilização do filme de cinema ou vídeo exige uma reflexão metodológica. Não basta exibir e pronto. É preciso elaborar uma metodologia - é isto o que o Tela Crítica se propõe a fazer.
Kátia Marko - Na Sessão de Encerramento da Mostra será concedido o Prêmio Luis Espinal aos três primeiros filmes colocados. Quem foi Luis Espinal? Giovanni Alves - Luis Espinal foi um padre jesuíta boliviano-catalão, jornalista, cineasta e crítico de cinema, liderança social ativa da Teologia da Libertação na luta pela justiça social e pelos direitos humanos na América Latina. No decorrer da década de 1970, Luis Espinal escreveu na Bolívia vários livros tratando da utilização do cinema como instrumento de conscientização popular. É de sua autoria os livros “Consciência crítica diante do cinema”, “Sociologia do cinema” e “Cinema e seu processo psicológico”. Em 21 de março de 1980, Luis Espinal foi seqüestrado e brutalmente torturado até a morte. O assassinato do padre Espinal se inscreveu nos fatos do “terrorismo preparatório” do golpe de Estado de Garcia Meza, ocorrido em 17 de julho de 1980 na Bolívia. Ao adotar Luis Espinal como patrono da Mostra CineTrabalho resgatamos a memória de uma liderança social que demonstrou a importância da utilização do cinema como recurso midiático de construção de uma consciência crítica. Esta é proposta do Projeto Tela Crítica. Quando elaboramos a proposta do Projeto Tela Crítica em 2004 não conhecíamos Luis Espinal. Conhecê-lo foi confirmar a validade do cinema como experiência crítica. Além disso, instituir o Prêmio Luis Espinal salienta algo importante: a solidariedade às lutas sociais e populares na América Latina.
Kátia Marko - Qual a expectativa com a Mostra? Giovanni Alves - Ótimas expectativas. Estamos apenas começando. Não acredito que iremos ter muitos filmes e vídeos inscritos nesta I Mostra. Mas o importante é sedimentar a marca "CineTrabalho". Divulgar a idéia e buscar futuros apoios institucionais ou não-institucionais. O Projeto Tela Crítica também vem aos poucos se consolidando, pelo menos em sua proposta metodológica.
Kátia Marko - Outras considerações que achar necessárias: Giovanni Alves - Agradeço a oportunidade de dar está entrevista ao NPC. E peço que divulguem a idéia do Tela Crítica (www.telacritica.org) e da Mostra CineTrabalho. Conheçam melhor a proposta e opinem. Acessem nosso site e conheçam nossos cd-roms. Procurem criar nos seus bairros, escolas, sindicatos e associações dinâmicas Tela Crítica de análise de filmes. Vamos participar! Afinal, esta é nossa frente de batalha.
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