Cidades
Moradores do Horto enfrentam fortes poderes e resistem na comunidade
Em
duas assembleias famílias decidem que não vão fornecer dados para cadastro.
Elas defendem direito constitucional à moradia e denunciam que questão
ambiental é pretexto para esconder interesse econômico pela área
Publicado em 16.05.13 - Por Marina Schneider - Colaboraram Alan Tygel, Aneci Palheta, Claudia Santiago e Sheila Jacob
O Ministério
do Meio Ambiente demarcou, pela primeira vez na história, a área que pertence
ao Jardim Botânico. A ação ocorreu após determinação do Tribunal de Contas da
União (TCU). A delimitação do perímetro do parque é mais uma forma encontrada
para tentar legitimar a remoção de 520 das 621 famílias que residem há décadas
no Horto Florestal. Agora, o terreno onde estão as casas passa a fazer parte
oficialmente do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro
(JBRJ).
A medida foi
anunciada à imprensa no último dia 7 pela ministra Izabella Teixeira. “O acordo
era que qualquer informação só seria dada à imprensa depois que os moradores
fossem comunicados, mas a ministra fez exatamente o contrário”, critica Emília
Maria de Souza, presidente da Associação de Moradores e Amigos do Horto
(Amahor).
“O que vai
acontecer aqui é o que está acontecendo em toda a cidade. Se chama ‘limpeza
social’. Ou seja, é tirar os pobres para valorizar os imóveis dos ricos”, diz
a presidente da Amahor. “Nós não vamos permitir que o capital venha e passe o
rodo. Dinheiro não tem poder para tudo. Quem tem poder é o povo, é a coragem do
povo de resistir e essa coragem nós temos”, completa Emília.
E a assembleia disse não
De acordo
com o assessor especial do Ministério, Luiz Carvalho, não existe um projeto
para realocar os moradores e cada caso vai ser tratado separadamente. Em
assembleia com a participação de 500 pessoas, na noite do dia 7, os moradores
rejeitaram a proposta do governo de recadastramento de seus dados. “Foi uma
comoção coletiva e de forma unânime nós resolvemos que não vamos aceitar essa
decisão. Primeiro pela falta da participação popular e, segundo, pela forma
arbitrária e de total desrespeito aos moradores”, explica Emília.
A decisão foi
confirmada em nova assembleia no sábado, 11. Na assembleia os moradores
afirmaram que o jornal O Globo produz
matéria para jogar os cariocas contra os moradores do Horto. E afirmam que a Rede Globo tem interesse na área,
inclusive para a construção de um estacionamento. Ainda de acordo com falas na
assembleia a Globo tem forte
influência na Associação de Moradores do Jardim Botânico (AMA-JB).
Questão
ambiental esconde política de remoção
A Associação
de Moradores e Amigos do bairro Jardim Botânico (AMA-JB) tem atuado fortemente
contra a permanência das famílias nas proximidades do parque. A denúncia
conjunta de que os moradores teriam invadido a área foi feita ao TCU pela Associação
e pelo Jardim Botânico.
Ao contrário
do que tem sido divulgado pela imprensa, as famílias não invadiram a área. Ao
longo da história, os administradores do órgão federal cederam terrenos aos
funcionários em áreas vizinhas ao Jardim Botânico para que pudessem levar menos
tempo até o trabalho. Os atuais moradores são seus descendentes. Muitos são
também funcionários ou ex-funcionários do Instituto. Suas casas foram
construídas com autorização do próprio Jardim Botânico ou de outras autarquias
federais.
Este é o
caso de Milcir dos Santos, de 61 anos. Seu avô começou a trabalhar no Jardim
Botânico em 1919. Biólogo e também funcionário da instituição, Milcir vive na comunidade desde que nasceu. “Eu não quero sair
daqui por nenhum dinheiro, quero morrer onde nasci”, disse, emocionado, em entrevista
após a assembleia de sábado ao Brasil de Fato.
A moradora Eliete
Martins conta que seu pai veio de Itaocara, no interior, para trabalhar no
Jardim Botânico. “Ele amava esse lugar. Foi convidado a construir uma casa em
um terreno cedido pelo próprio Jardim Botânico”, conta.
Segundo
Rafael da Mota Mendonça, advogado da Associação, os moradores preenchem todos
os requisitos que a legislação exige para que tenham suas moradias
regularizadas: ocupação da terra há mais de cinco anos e renda familiar de até
cinco salários mínimos mensais.
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