Direitos Humanos
Cuidar bem das crianças reduz a maioridade penal. Uma reflexão de um pai
Publicado
em 16.05.13 – Por Mario Camargo*
Está na pauta dos meios de
comunicação a discussão da redução da maioridade penal. Assunto polêmico. Tenho
alguns pensamentos que gostaria de compartilhar.
Não conheço dados precisos de que
a redução da maioridade penal inibiu a violência de jovens no mundo. Se o
intuito dos cidadãos e cidadãs que defendem a redução da maioria penal é
retirar os jovens infratores do convívio social é também importante pensarmos sobre
dois aspectos: o custo desta “internação” e a capacidade de recuperação do
nosso sistema prisional.
Sobre o primeiro aspecto utilizo
a realidade dos atuais presídios para jovens ou adultos. Todos superlotados.
Talvez com exceção dos chamados presídios de segurança máxima, que têm dado sinais
de que não tem a aclamada segurança. Presos custam uma fortuna para a
sociedade. Os cidadãos que defendem a redução da maioridade penal concordam
então que os governos criem taxas ou impostos para que paguemos todos pela
construção e manutenção de novos presídios?
Sobre a capacidade de recuperação,
também utilizo o atual sistema prisional, seja para jovens ou para adultos. São
verdadeiras faculdades do crime. Em geral, jovens com pequenos delitos em
convivência com jovens com mais experiência no crime se espelham nestes. Saem
doutorados, também com raras exceções.
Seja sob o aspecto econômico ou
de recuperação, manter jovens com menos de dezoito anos fora do convívio social
custará o dobro para a sociedade. Todos nós teremos que arcar com o aumento do
custo da manutenção desse sistema e quando os já adultos voltarem ao convívio
social serão, em sua maioria, criminosos ainda “piores”.
Em minha análise, os cidadãos e
cidadãs que defendem a redução da maioridade penal estão, na verdade, majorando
o número de criminosos perigosos para daqui três ou quatro anos. Teremos sim a
inflação dos crimes e também o aumento de sua gravidade. Pequenos roubos darão
lugar a assassinatos, sequestros entre outras modalidades mais sofisticadas de
crime.
Entretanto, o que mais me
interessa nessa discussão é saber o que todos nós, cidadãos e cidadãs
brasileiros estamos fazendo com as nossas crianças. Somos todos educadores para
o crime? Com quem e como nossos filhos estão aprendendo a se apaixonar pelo crime?
Os filhos que vêm ao mundo estão
recebendo as orientações corretas de seus familiares? E chamo a atenção para
qualquer núcleo social que se estabeleça como família. Não falo aqui da
“família tradicional” com pai, mãe, irmão, primo, avô e avó. Qualquer núcleo
social que estabeleça vínculo afetivo com uma criança será considerado por ela como
sua família.
O exemplo que as crianças vêm em
seu círculo mais próximo de convivência lhes garante os princípios da
solidariedade, da justiça e do amor? Os programas de televisão à que estão
sujeitas nossas crianças também são exemplos de solidariedade, justiça e amor?
Será que todos nós não somos
responsáveis pela crescente onda de violência praticada por jovens com 10 anos
ou mais? Quanto custa para todos nós e ainda mais para as famílias pobres
perder seus entes queridos? Sim para os mais pobres. Seus filhos são
exterminados pelas gangues do tráfico e também pela polícia. Os filhos dos pobres não são assaltados. São
exterminados. E, enquanto vítimas, não são notícias de jornal.
Cuidar bem das crianças reduz a
maioridade penal, e muito. Pois cuidar bem das nossas crianças significa
imunizá-las contra o tráfico, as armas, a violência. Sem crime não há
necessidade de punição. Será que todos nós adultos servimos como exemplo para
as nossas crianças? Nossas atitudes são dignas de admiração?
Segundo o Instituto Não Violência “As pesquisas realizadas nas áreas social e
educacional apontam que no Brasil a violência está profundamente ligada a
questões como: desigualdade social (diferente de pobreza!), exclusão social,
impunidade e falhas na educação familiar e/ou escolar. Principalmente no que diz
respeito à chamada educação para os valores ou comportamentos éticos. E
finalmente, esta violência está ligada a certos processos culturais exacerbados
em nossa sociedade como individualismo, consumismo e cultura do prazer.
Para mudar nossas crianças e
inibir a violência temos que mudar nossas atitudes, admitir novos valores que
expressem verdadeiramente o sentido da solidariedade, da justiça e do amor;
começando pela redistribuição de renda e pela educação.
*Mário Camargo é jornalista.
Núcleo
Piratininga
de Comunicação
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