Mem�ria - 1� de Maio
Quatro Primeiros de Maio de ontem, lições para hoje
Reconstruir nossa memória serve para traçar planos futuros. Neste artigo,
o NPC relembra as principais manifestações do Dia do Trabalhador no século XX
Na foto, manifestação
do 1º de Maio de 1919, na Praça Mauá, Centro do Rio de Janeiro. Cerca de 60 mil
trabalhadores compareceram ao ato na então capital do País, que tinha 600 mil
habitantes Quais as lições que tiramos do nosso passado, sobre o 1º de Maio? Qual foi a tradição
durante todo o século XX, da nossa classe trabalhadora? Como o Brasil se
inseriu na história das lutas do mundo do trabalho? Para resgatar esta memória
vamos dar uma rápida olhada em quatro momentos da nossa história:
- O
começo da industrialização, com seus primeiros “Dia dos Trabalhadores”. O
1º de Maio de 1906 e o de 1907;
- A
tentativa de Getúlio Vargas de roubar dos trabalhadores o sentido do 1º de
Maio. Anos 1940-1945;
- A ditadura
civil-militar sonha em enganar os trabalhadores no 1º de Maio de 1968, em
São Paulo;
- O 1º
de Maio de 1980 em São Bernardo no Estádio de Vila Euclides.
1906 - No 1º de Maio, greve pelas 8
horas
Desde 1890 a classe operária no mundo
fazia do 1º de Maio o Dia Internacional da luta dos trabalhadores. No Brasil,
pequenos grupos de operários socialistas, já naquele ano, começaram a falar
desta data e da luta pela redução da jornada de trabalho.
No começo de 1906, no Rio, a Federação
Operária do Rio de Janeiro (FORJ), convida sindicatos e organizações operárias
do país para uma reunião nacional. Em 15 de abril, no Rio, capital federal e
maior cidade da América Latina, com meio milhão de habitantes, inicia-se o 1º
Congresso Operário Brasileiro. Uns cinquenta operários se reúnem para organizar
suas lutas. Decidem criar uma confederação nacional, a Confederação Operária
Brasileira (COB), e seu jornal quinzenal, a Voz
do Trabalhador. Por decisão unânime, a luta central da recém-criada COB,
deveria ser a conquista das 8 horas.
Durante aquele ano de 1906, aconteceram
varias greves pelas 8 horas. Quase todos os setores da construção civil do Rio
pararam e conquistaram, pelo menos momentaneamente, as 8 horas diárias. Os
ferroviários de Jundiaí, a 50 km de São Paulo, fizeram uma greve que terminou
com vários mortos e feridos e a promessa das 8 horas em 1º de Maio de 1907. Em
Porto Alegre, em setembro, há uma greve de várias categorias que conseguem 9
horas de trabalho em todas as fábricas.
A luta pelas 8 horas continuará em
todos os 1º de Maio seguintes.
1940 - Vargas
tenta descaracterizar o 1º de Maio
Em 1º de Maio de 1940, Getúlio Vargas, no estádio de São Januário, no
Rio, decreta o salário mínimo. A reivindicação era antiga. Desde 1900, em
Paris, o Congresso da Internacional Socialista tinha recomendado que todos os
partidos socialistas assumissem a luta das 8 horas diárias.
Vargas continua o que vinha fazendo desde que tomou o poder, em 1930.
Moderniza o País através da criação de condições para o desenvolvimento
industrial e da legislação trabalhista. O objetivo central desta legislação era
controlar a luta de classes e fazer esquecer as três décadas de greve, manifestações
e resistência operária. Para isto, nada melhor do que “doar” a lei do salário
mínimo exatamente no dia 1º de Maio. A tentativa era transformar Dia do
Trabalhador “sem governo e sem patrões” num dia de festa e conciliação entre
capital e trabalho. Mas, a História dará muitas voltas e o 1º de Maio voltará a
ser o dia da luta operária.
Um ano depois, a 2ª Guerra acaba com a
derrota das ditaduras de Hitler, Mussolini e Hirohito. O movimento operário
voltará a aparecer à luz do sol. Virá a anistia aos presos políticos e a legalização
do PCB.
1968: a Ditadura
queria enganar os trabalhadores
Em 1968, os brasileiros entravam no
quarto ano de ditadura, arrocho, recessão e desemprego. Nos sindicatos reinavam
os pelegos, muitos deles antigos interventores, nomeados pelos milicos. Sentiam
a insatisfação de suas categorias e imaginavam formas de simular alguma
resistência.
Na capital paulista, nas comemorações
do 1º de Maio, o governador paulista, Abreu Sodré, juntou-se aos pelegos para
uma manifestação de descontentamento bem comportada na Praça da Sé, centro
tradicional das manifestações do 1º de Maio.
Bom, pelo menos era isso que eles
esperavam. Não contavam com os sindicalistas de oposição, com os grupos
organizados do movimento estudantil, que se opunham à ditadura e com movimentos
de bairro e de periferia.
Mal começada a farsa, vaias, agitação e
pedradas no palanque obrigaram os pelegos e o governador a sair correndo. Sodré
recebeu uma pedrada na cabeça e foi flagrado saindo escondido. Enquanto a
comitiva se refugiava na catedral, o palanque foi queimado e uma passeata
desceu a rua XV de Novembro até à Avenida Ipiranga. Mas esse era apenas o
começo de um ano quente. O Primeiro de Maio tinha sido, naquele ano, um
primeiro grito de independência ideológica e política.
Um 1º de Maio debaixo
de helicópteros
Em 1978, contra a vontade e os planos
da Ditadura, um milhão de trabalhadores fizeram greves contra os baixos
salários e contra as várias proibições do regime. Greves nascidas dentro das
fábricas e até uma greve geral dos metalúrgicos de São Paulo liderados pela
Oposição Sindical. O ano de 1979 começa aquecido e mais de três milhões de
trabalhadores desafiam o governo em todo tipo de greve. Sete grevistas foram
assassinados em piquetes.
Em 1980 acontece a segunda grande greve
dos metalúrgicos de São Bernardo, que iniciará uma longa lista de greves anuais.
Uma greve longa e pesada, com cassação e prisão da diretoria com Lula presidente
preso. O movimento vivo dos trabalhadores, da cidade e do campo, do Brasil
inteiro, confluiu para o grande 1º de Maio de São Bernardo.
A ditadura não queria admitir o desafio
desta manifestação. As rádios alarmavam a população. São Bernardo se tornara
uma praça de guerra com mais de cinco mil agentes da repressão. O pessoal se
concentra na catedral e ruas adjacentes.
No final, a passeata ocupa a rua
principal de São Bernardo, passa pelo Paço Municipal e continua rumo ao estádio
de Vila Euclides. A polícia bate em retirada pouco a pouco.
Aproximadamente
cem mil manifestantes tomaram conta das ruas da cidade com suas bandeirinhas
do Brasil estendidas para os helicópteros do Exército ou da PM que voavam sobre
suas cabeças. As faixas estendidas no estádio diziam tudo: “Viva o 1º de Maio”,
“O Sindicato é você”, “Autonomia e liberdade sindical”, “Fim da intervenção”,
“Trabalhador unido, jamais será vencido”, “A greve continua”.
Núcleo
Piratininga
de Comunicação
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