Por NPC
Joel Zito conversa com NPC sobre seu novo filme
[Publicada em 25.04.2013 - Por Marina Schneider] Em entrevista ao Boletim do NPC, Joel Zito disse que o filme busca “reequilibrar os pontos de vistas sobre temas que viraram um debate nacional, como cotas, quilombos e outras políticas afirmativas”. Confira a entrevista completa. Boletim NPC - O filme acompanha o dia-a-dia do senador
Paulo Paim, do cantor Netinho de Paula, e de uma neta de escravos, Dona Miúda,
como uma forma de trazer o debate atual e os questionamentos sobre o mito da
democracia racial no Brasil? Gostaria que você falasse um pouco sobre o
objetivo do filme.
Joel Zito Araújo.
O documentário mostra o resultado da nossa busca por algumas
pessoas que estivessem no epicentro do debate racial no país. Quem narra a história são os acontecimentos da vida dessas pessoas que escolhemos. Essa
é a boa surpresa do filme que oferecemos para o público. Nele, o espectador vai
acompanhar o resultado de cinco anos de filmagens na vida do cantor e
empresário, e agora político, Netinho de Paula, tentando criar uma TV Negra, a
TV da Gente. Acompanhamos também uma mulher do povo, do norte do Espírito Santo, Dona Miúda, que busca em seu microcosmo
lutar pelo reconhecimento do seu direito à terra e preservação de sua cultura quilombola. Creio que este é, também, o primeiro documentário que passou três anos nos corredores do Congresso acompanhando um
senador da República, Paulo Paim, e mostrando a complexidade da vida de um político e suas negociações na tentativa de aprovação de uma lei de interesse do povo negro. O filme acompanha o
protagonismo de Paulo Paim na aprovação do Estatuto da Igualdade Racial, como também o antagonismo do Senador Demóstenes Torres, que foi
contra qualquer medida a favor de políticas afirmativas no Brasil.
Boletim NPC -
O que você espera que o filme
provoque nos espectadores?
Joel Zito. Eu sempre procurei fomentar debates sobre questões fundamentais
para o nosso país, especialmente a questão racial. E este filme busca
reequilibrar os pontos de vistas sobre temas que viraram um debate nacional,
como cotas, quilombos e outras políticas afirmativas. Na realidade, acho que a
grande mídia, atendendo a sua posição editorial, deu pouco espaço para as
lideranças e personalidades negras. E é esta a novidade do filme. Mas tenho me
tornado um pouco pessimista. Acho que vivemos uma onda muito conservadora e
consumista. A minha juventude foi marcada pela procura de obras culturais e de
experiências voltadas para o
amadurecimento de nossa civilidade, de humanidade, de nossa solidariedade com
os mais fracos. Sonhávamos com um mundo mais justo, mais fraterno. Acho que o
mundo atual está muito materialista. A felicidade hoje é simplesmente consumir,
se entupir de fast-food e comprar
roupas de marcas e um carro “maneiro”. O reflexo nas salas de cinema é que o
público procura por filmes fast-food,
que não incomodam, que não fazem pensar. Eu sei que este filme está contra a
corrente, mas sei que tem uma parte do público que anseia por isto. Por ver
questões fundamentais na tela. E este público vai, seguramente, adorar o nosso
filme.
Boletim NPC -
Li em uma entrevista que você
concedeu em 2011 à Baobá que a renda do filme será revertida para
esta organização.
Joel Zito. Sim, é uma novidade que nos dá muito orgulho. Nunca vi nenhum
filme que doasse toda sua renda de bilheteria para uma causa. E não estou
falando de uma sessão ou outra, estou falando de TODAS. Nós entregaremos tudo
que recebermos com a venda de ingressos para o Baobá. É uma forma de ajudarmos
a construir uma verdadeira democracia racial neste país. E é uma forma do
público também participar.
Núcleo
Piratininga
de Comunicação
—
Voltar —
Topo
—
Imprimir
|