M�dia
Quem tem medo de uma nova lei democrática para as comunicações?
[Publicado em março - 2013 - Por Jonas Valente] As comunicações
brasileiras são marcadas pela alta concentração dos veículos em poucos grupos,
pela presença de políticos no controle rádios, TVs e jornais, pela produção
verticalizada a partir do eixo Rio-São Paulo, pelos caros e excludentes
serviços de acesso à internet, telefonia celular e TV por assinatura e pela
subordinação dos órgãos e autoridades aos interesses do empresariado do setor.
Esta última
característica tem inúmeros exemplos na história do país. O mais recente é o
enterro, na gestão de Dilma Rousseff, da proposta de nova lei para o setor que
começou a ser elaborada no último ano do governo Lula pela equipe comandada
pelo então ministro Franklin Martins. O “anúncio” foi feito pelo secretário
executivo do Ministério das Comunicações, Cézar Alvarez, em um seminário da
revista TeleTime em fevereiro deste ano, em Brasília.
O Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) reagiu em nota
pública assinada por mais de cem entidades. “A opção do governo significa, na
prática, o alinhamento aos setores mais conservadores e o apoio à manutenção do
status quo da comunicação, nada plural, nada diverso e nada democrático.
Enquanto países com marcos regulatórios consistentes discutem como atualizá-los
frente ao cenário da convergência e países latino-americanos estabelecem novas
leis para o setor, o Brasil opta por ficar com a sua, de 1962, ultrapassada e
em total desrespeito à Constituição, para proteger os interesses comerciais das
grandes empresas”, declara o texto (Nota pública:
governo federal rompe compromisso com a sociedade no tema da comunicação).
E apontou para mobilizações em todo o país em torno de um Projeto de Lei de
Iniciativa Popular para pressionar o governo federal e o Congresso Nacional.
O PT seguiu o movimento e aprovou uma resolução que conclama “o governo a
reconsiderar a atitude do Ministério das Comunicações, dando início à reforma
do marco regulatório das comunicações, bem como a abrir diálogo com os
movimentos sociais e grupos da sociedade civil que lutam para democratizar as
mídias no país”. O texto também defende a proposta de um Projeto de Lei de
Iniciativa Popular a ser elaborado pelo FNDC (Democratização da
mídia é urgente e inadiável).
O apelo do partido do governo mostra a gravidade dos obstáculos enraizados na
Esplanada dos Ministérios. Estagnado por eles, o Brasil vai na contramão de um
movimento mundial que atinge países cujos governos possuem as mais variadas
linhas políticas. Tudo pelo medo de tocar nos privilégios das empresas de
comunicação. Enquanto isso, a diversidade das culturas dos mais variados cantos
do nosso território e a pluralidade de visões de setores que não são
representados nos conglomerados de mídia continuam apartadas do principal
instrumento de debate público e formação de valores das sociedades
contemporâneas.
O governo federal se ancora em uma retórica pública frágil para escamotear a
questão de fato. Sustenta o raciocínio de que o debate central é a criação ou
não de um marco regulatório, que substituiria a “escolha livre do cidadão por
meio do controle remoto”, figura metafórica tantas vezes utilizada pela
presidenta Dilma Rousseff. O marco regulatório já existe na Constituição e nas
leis que regem o setor, inclusive com normas que disciplinam o conteúdo
veiculado. Outro argumento é que o debate é “complexo”, “polêmico”, quase
impossível. No entanto, esse marco foi recentemente atualizado parcialmente com
a aprovação da nova Lei da TV Paga em 2011, inclusive com a participação
decisiva do Palácio do Planalto.
A questão não é se o marco regulatório deve ou não existir, e sim “qual
regulação se quer e a quem vai beneficiar”. E aí o medo de contrariar os
interesses dos conglomerados de mídia priva o país de uma agenda urgente e
necessária para, ao mesmo tempo, dar conta do desafio de democratizar a mídia e
atualizar o setor à luz da convergência entre TV, rádio, telefonia e internet.
Enquanto o governo reluta em encarar essa tarefa, continua alimentando um setor
que disputa cotidianamente a agenda pública contra a melhoria das condições de
vida da população, o fortalecimento do Estado e a ampliação dos direitos
políticos, sociais, econômicos e ambientais. País rico não é apenas um país sem
miséria, mas também uma nação com democracia plena, inclusive nos meios de
comunicação.
Jonas Valente é
jornalista, pesquisador de Políticas de Comunicação e autor de livros sobre o
tema. É secretário-geral do Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal e
integrante do Intervozes, entidade que representou na Comissão Organizadora
Nacional da 1ª Conferência Nacional de Comunicação. Coordenou o programa de
governo para a área de Comunicação da candidatura Lula em 2006. É pesquisador
associado do Laboratório de Políticas de Comunicação da Universidade de
Brasília
Núcleo
Piratininga
de Comunicação
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