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Entrevistas
Novo modelo de comunicação impulsionado pela Venezuela é ponto de referência para o continente

P. Que opinião tem sobre o comportamento dos meios de comunicação na Venezuela?

Fernando Domínguez: Venezuela sempre é um ponto a parte na análise e diagnóstico a nível mundial. Nós vimos fazendo, desde há algum tempo, com o Instituto de Investigação sobre a Imagem, do México, uma série de avaliações sobre as mudanças que estão se dando na Venezuela. Notamos que este país é o produto de um grande fenômeno de comunicação.

O acontecimento de abril de 2002, no qual um povo saiu à rua e no qual milhões de pessoas conseguiram se organizar em muito poucas horas para um processo revolucionário de mudança, é um verdadeiro acontecimento. Porém não sabemos bem como isso ocorreu, as pessoas se comunicaram entre si, “Radio bemba”, o chamam aqui, una ferramenta de comunicação popular proliferou. As motocicletas se tornaram as veias do processo de informação. As pessoas subiam e desciam nas motos, trazendo, através destas veias, o sangue da informação. Foi um grande acontecimento de comunicação que precisamos estudar.

Necessitamos aprender o que as pessoas puseram em prática nas ruas nesse dia para organizar-se, para dizer ao presidente, aos golpistas e ao mundo qual era a rota social que este país estava elegendo contra as formas mais autoritárias e mais vergonhosas de traição contra um povo.

Para nós, é um fato importante saber que além das muitas cosas que representa este processo de transformação na Venezuela, há uma transformação da comunicação. Mas isso não é tudo.  Também nos damos conta de que contra tudo o que os meios de comunicação privados fizeram e disseram, baseados na calúnia e nos insultos, o povo venezuelano soube resistir intelectualmente. Não caiu na arapuca, apesar de 90% do espaço de rádio e TV  deste país e dos outros meios de comunicação serem privados. A pesar de tudo isso, não conseguiram derrotar a forte ligação afetiva, a cultura, a tradição e a vontade do povo. Acreditamos que tudo isso deve ser estudado como um fenômeno social de comunicação de massas . Jamais aconteceu um fato como este, na historia da humanidade. Nem se viu, até agora,na América Latina, que um presidente tenha conseguido voltar após um golpe, que as pessoas tenham chegado tão rapidamente a um entendimento para conseguir esta volta.

 

P- A Venezuela estaria desequilibrando o poder hegemônico comunicacional no próprio território venezuelano e até no continente?

Fernando Domínguez: Eu diria que está começando a fazê-lo. Creio que, a cada dia que passa, está começando a sentir-se cada vez mais esta necessidade. A Venezuela está chegando à conclusão que não é possível ter uma atitude permissiva frente aos poderes midiáticos acostumados a mentir. Estaria-se tolerando um permanente delito.

Eu acredito que não deveria ser o Estado que deveria intervir. Deveria existir um tipo de jurado popular, de tribunais populares com especialistas conscientes, participando lado a lado do povo, ajudando a entender que não é um jogo de crianças, mas que está em jogo a figura do presidente que é um  líder latino-americano e mundial.

P- Você diz, nos seus textos, que é preciso construir uma comunicação diferente daquela à qual estamos acostumados. Ora isso é bastante complexo. Como poderíamos a partir de sua experiência acadêmica e militante,  avançar na construção de uma comunicação coerente com o processo revolucionário?

Fernando Domínguez: Uma boa maneira de mudar o discurso é mudar os atores. Não podem ser sempre os mesmos dizendo as mesmas coisas. Quando digo discurso, não me refiro apenas à palavra. Falo do ponto de vista midiático, com relação ao discurso estético, ao tipo de música, à modulação do tom de voz de muitos locutores das TV comerciais, com suas falas idênticas, com as mesmas inflexões de voz, mesmos acentos e estilo modernizante exagerado.

Na minha opinião, mudando este discurso, já começamos a pensar em outras alternativas, porque, ao invés de ter intermediários que nos expliquem como é a realidade, queremos que seja a própria realidade que nos fale. (...). E isto pode começar agora com as próprias comunidades se apropriando do microfone.  Tomara que isso aconteça com as câmaras de TV. E tomara que se preparem. Sim, porque não basta ter o microfone na mão. Há um monte de elementos e condições para manuseá-lo de maneira minimamente adequada. Esta não é uma coisa fácil. É uma profissão e como qualquer ferramenta precisa de seu tempo de maturação e de aprendizado.

As comunidades podem começar a encontrar suas próprias linguagens, com seus acentos, suas ênfases, com suas prioridades e seus interesses. Não estamos acostumados a assistir este tipo de televisão, a escutar esta rádio e nem a ler este tipo de imprensa nova. Estamos aprendendo tudo de novo. Ainda não vimos a melhor comunicação. O que temos visto é uma comunicação mercantilizada que transformou o tempo em mercadoria. Assim como transformou as mulheres em mercadoria, a família em mercadoria. Uma televisão que faz do mundo um objeto de consumo. E tudo isso podemos superá-lo conceitualmente, filosoficamente, poeticamente. Quando tivermos dado este salto qualitativo, levantando a qualidade do discurso e a qualidade narrativa, ai, teremos uma nova televisão, outro jornalismo.

 

P- Os  meios de comunicação podem ser una ferramenta para pacificar, também se podem utilizar como uma ferramenta para avivar o confronto como ocorreu na Venezuela, em abril de 2002, durante o golpe de Estado, qualificando aos simpatizantes do governo como “hordas chavistas” e aos que apoiavam a oposição como “sociedade civil em luta”. Que interpretação faz da manipulação  informativa que ocorreu?

Fernando Domínguez: Eu creio que é um exercício desleal da comunicação. Um exercício que não é fiel ao que as pessoas estão dizendo. Não se podem produzir canalhices nos meios de comunicação! Se olharmos ao nosso redor e observamos os que têm estado excluídos por décadas, evoluir como individuo e como coletivo, porque vivem em um país que constrói um processo de transformação, para melhorar a qualidade de vida de cada um de seus habitantes, não necessita mais do que acompanhar isso e estar do lado do desenvolvimento humano.

Ninguém pode impedir o desenvolvimento da sociedade e se alguém o faz com um meio de comunicação, pior ainda. Então me parece que isso é absolutamente canalha, eu creio que se tem que discuti-lo como uma falta ética, como uma falta verdadeiramente de solidariedade humana, o certo é que Venezuela, durante anos, deu o exemplo a muitos países do trato diplomático, apesar de que muitos se portaram absolutamente grosseiros, como o México. Também estamos frente a um problema de ordem político e ideológica. Este país está travando una batalha fantástica que é a batalha das idéias, onde as pessoas estão aprendendo a tomar consciência de seus direitos, a pensar livremente e isso quase ninguém aprecia.

Retomando o tema dos meios de comunicação, vocês têm um desafio imenso porque têm um presidente que, em matéria de comunicação é um talento fenomenal. O presidente Chávez é um rebelde em todos os sentidos, escrevi um material sobre isso, a propósito do programa Alô Presidente. É um espaço que se converteu em escola de educação política mais impressionante que temos visto no mundo inteiro, isso nos fala de que há um poderio de comunicação. Através deste programa, muita gente aprendeu a analisar problemas petrolíferos internacionais, a conhecer a estrutura econômica da nação, entre outros assuntos importantes.

P- Alô Presidente é comunicação para o desenvolvimento social?

Fernando Domínguez: Sem dúvida alguma. Está claro que não basta isso, porque si se usa somente essa maneira de fazer comunicação, então saturaríamos ao interlocutor com uma única fonte. Por isso, propomos que existam o Alô comunidades, Alô Trabalhadores, Alô Estudantes, Alô Camponeses, assim haveria fortaleza discursiva e narrativa.

 

P- Na sua opinião quais seriam as linhas estratégicas que deveriam ter uma política de Comunicação coerente com o processo de transformação que vivemos na Venezuela?

Fernando Domínguez: Antes de responder, quero comentar que faz uns meses estive na televisão Al Jazzera no Oriente Médio, e nesse momento começamos a conversar com um grupo, perguntando-nos onde haveria no mundo um espaço onde se tome o microfone e se fale com liberdade? Em seguida, pensamos na Venezuela e nas experiências comunicacionais que o processo bolivariano criou, como a Vive TV e a Telesur.

Vive TV é um projeto que está nascendo, mas que já é uma vanguarda e a Telesur é uma proposta em pleno crescimento. Telesur é una ferramenta de integração e de comunicação que deverá caminhar, como dizem seu norte é o sul e também seu norte é o socialismo. Estes são dois filhos da comunicação revolucionária neste país. Estes são os espaços onde se tem que comprovar todas estas teses revolucionárias, ninguém tem esta possibilidade. É ouro em pó. É uma oportunidade extraordinária.

Se tivesse que dizer quais são as linhas, eu diria que devemos seguir este exemplo, ainda que não baste. Por exemplo, estamos propondo organizar una corrente internacional de pensadores, de comunicadores, que se solidarizem com esta línea de trabalho que se desenvolve na Venezuela, porque é a mais avançada. Devemos incentivá-la. Eu vim ajudar no que puder, buscamos que todos os que trabalham nestes meios se comprometam com sua formação e melhorem a qualidade de seus programas, que surpreendam e seduzam melhor.

Uma linha estratégica importante é a política de estudar, de gerar una corrente importante de solidariedade política, econômica com a revolução mas, além disso, ter ética. É uma tarefa inelutável e depois disso, ter-se-ia chamar aos delegados de base de todos os movimentos de comunicação na América Latina e sentarmos para discutir como caminhamos juntos nesta experiência de comunicação venezuelana. Já estamos frente a um modelo de comunicação falta que cresça e amadureça.

 

P- A Lei de Responsabilidade Social na Rádio e Televisão (Resorte) criada na Venezuela, recebeu insistentes ataques com o argumento de que expressa o controle absoluto por parte do Governo. O mais recente tem a ver com a distribuição do espectro radioeléctrico. Que pensa desta Lei?

Fernando Domínguez: A chamada Lei Resorte é uma grande ferramenta de construção social na comunicação. Me parece que tem-se que estudá-la, es um grande objetivo, devemos aprender sobre ela e aperfeiçoá-la, eu creio que devemos apoiar-nos na legalidade e na legitimidade de um processo de transformação em matéria de comunicação. Ademias, devemos debater não somente na Venezuela, mas no mundo sobre o espectro radioelétrico, temos que acompanhar esse debate, é urgente que o México discuta sobre este tema.Por outra parte, temos que mudar as formas de fazer comunicação e a consciência dos meios. Em definitivo, temos que por a serviço do processo de transformação de um país todos os conhecimentos científicos. A a ciência não é um privilegio para poucos que podem ter esse conhecimento. A verdade é que as universidades são as que menos produzem conhecimento. O conhecimento não está necessariamente nas universidades, ainda que alguns se santifiquem com isso.

 

P. Está previsto desenvolver algumas propostas acadêmicas em nosso país?

Fernando Domínguez: Sim. Atualmente, estamos desenvolvendo um projeto de investigação, um seminário aplicado para a Universidade Bolivariana da Venezuela (UBV). Também  buscamos fazer um convênio com o Ministério de Comunicação e Informação (MinCI) para fazer mais seminários em Caracas e no interior do país onde há muita gente interessada nestes projetos.

A parte, queremos criar um espaço de investigação científica em matéria de comunicação. Nós estamos interessadíssimos em participar deste processo, colecionei material de distintas experiências para difundi-los nestes espaços  que estamos construindo.

 

Tradução: Claudia Santiago

 

 


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