M�dia
As revistas semanais brasileiras e a morte de Hugo Chávez
Publicado
em 11.03.2013. Por Alexandre Haubrich

A morte do presidente venezuelano Hugo
Chávez foi, sem dúvida, o grande fato político, histórico e jornalístico da
última semana. Presidente da Venezuela por 14 anos, vitorioso em sucessivos
processos eleitorais dos mais diversos tipos, Chávez morreu como o mais
influente e um dos mais prestigiosos líderes da esquerda mundial. É claro que a
direita, incluindo sua mídia, não poderia perdoar as realizações do governo
Chávez na Venezuela. Não pode e não poderá perdoar jamais a aproximação entre o
poder e o povo que sobre ele tem direito, mas é impedido de exercê-lo. Por isso
não perdoa Chávez. As capas das quatro revistas semanais brasileiras de maior
circulação reafirmam essas contradições.
A Carta Capital, como de costume, trouxe a capa mais sóbria. Um
rosto de Chávez colorido em vermelho, amarelo e azul – as cores da bandeira
venezuelana – olha o infinito, complementado por um singelo “A morte de um
líder” como título, e simplesmente “Hugo Chávez (1954 – 2013)” como linha de
apoio. Sem confetes mas sem agressões, com a seriedade e a sobriedade que a
revista costuma tratar os grandes fatos. Foi a capa mais apropriada entre as
quatro semanais, a mais jornalística, a mais séria. E esse olhar comparativo é
fundamental para mostrar a linha seguida por cada publicação. A existência da
Carta Capital é fundamental para desmascarar o não-jornalismo das outras três,
e nesse caso não é diferente.
A Veja também incluiu o “1954 – 2013”, mas escrito sobre uma
meia face do presidente venezuelano que olha sombria para o lado, enquanto o
que falta do rosto está encoberto por uma sombra escura. O título carrega na
postura editorializada e pouco jornalística que a Veja tem o costume de
assumir. A adjetivação, marca da revista quando trata-se de temas políticos,
não deixa de estar presente. O título é “Chávez – A herança sombria”. Segue o
posicionamento que a revista sempre teve em relação ao Chávez e a tudo o que
cheire a esquerda, que cheire a transformação, que cheire a povo.
A revista Época conseguiu a proeza de ser mais virulenta e
agressiva do que a Veja, quase sempre insuperável no despeito com que trata
todas as pautas a que dá destaque. Além de um título e uma imagem no mesmo
sentido das da Veja, a Época, publicação da Editora Globo, destila ódio em
subtítulos. A capa parece uma cópia da capa de Veja, apenas acrescida desses
desaforos a mais. A imagem é semelhante à da Veja, apenas meio rosto de Chávez
aparece. A manchete é “Depois de Chávez”, deixando o legado e a figura do líder
já em segundo plano, já descartado. Mas é nas chamadas secundárias que aparece
todo o rancor da Globo e de sua revista contra a Revolução Bolivariana. Época
não faz qualquer esforço para aparentar algum nível de sobriedade analítica.
Como um panfleto mal feito, simplesmente ataca, agride e distorce. Os
subtítulos: “O homem que quis se transformar em mito”; “Por que a América
Latina precisa se livrar de seu legado”; “O fracasso de seu governo na
Venezuela”; “O sucesso dos países que fizeram o contrário do que ele pregava”.
Chamadas editorializadas, cheias de juízos de valor, de conclusões prévias que
a revista pretende impor ao seu leitor. Quer impedi-lo de pensar. Ignora a
grande popularidade de Chávez ao chamar seu governo de fracassado, e com isso
desrespeita a soberania do povo venezuelano, desrespeita a inteligência da população
da Venezuela e de seu próprio leitor.
Finalmente a Isto É
mostrou que não guarda qualquer preocupação com o bom jornalismo, não guarda
qualquer preocupação com a noção histórica ou com o debate sobre os grandes
temas sociais. Sua capa mostra que a preocupação comercial está muito acima de
qualquer outra, a ponto de, para colocar a morte do cantor Chorão em destaque,
relegar o principal fato da semana a uma pequena tira na parte de cima da capa.
E, mesmo nesse pequeno espaço, consegue apresentar o tom que terão suas páginas
internas, ao classificar o presidente como “caudilho” e dar destaque ao que
virá, e não ao que foi, na chamada “Hugo Chávez – Para onde vai a Venezuela
depois do caudilho”.
Núcleo
Piratininga
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