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Em entrevista, Muniz Sodré fala de racismo e manipulação da mídia

Publicado em 13.11.12 - Por Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro

Muniz Sodré é negro, baiano, fala russo, alemão, iorubá e francês, é faixa-preta em caratê e jiu-jítsu. Mas não foi por isso que um dia, quando trabalhava na revista Manchete, agrediu fisicamente Adolpho Bloch – coisa que muito jornalista já teve vontade de fazer. Nesta entrevista ele fala de sua carreira, de jornalismo, do racismo na mídia, de política e de sua relação com o jornalista Abdias do Nascimento.

Sindicato dos Jornalistas do Rio: Ao longo de 2012 o senhor recebeu várias homenagens pelos seus 70 anos. Como o senhor encara isso? A idade começou a chegar de fato?
Muniz Sodré: Ela chega. Com 70 anos você começa a perceber que o corpo não está mais o mesmo. Eu faço esporte violento (capoeira, caratê, jiu-jítsu), mas o corpo não reage da mesma maneira. Você sente que o esqueleto não aguenta mais. No caratê, que é um esporte de impacto, com o passar do tempo as pancadas vão ficando muito fortes. E o corpo não é mais o mesmo. Faço ioga também. Outro dia, pela manhã, estava com o corpo todo doído.

Sindicato dos Jornalistas do Rio: Sua ligação com jornalismo vem de onde?
MS: Eu sempre gostei de ler e escrever. Sempre fui meio CDF. Falo várias línguas. Fui tradutor, falo inglês, francês, alemão, italiano, espanhol, russo, árabe, iorubá (de origem africana, língua dos terreiros de candomblé), fui professor de latim. Era muito conhecido na Bahia por isso. Fui tradutor oficial da Prefeitura de Salvador. Quando você vai envelhecendo, o gosto por falar vai desaparecendo. Não falo bem como eu falava antes. Mas ainda dou conferência nestas línguas. O jornalismo vem desta coisa de escrever. Sempre fui profissional de jornalismo. Mas deixei a profissão em 1974, não estava mais interessado. Tinha um cargo na Bloch. Fui chefe de reportagem e redator da Manchete. Comandei a TVE em 1979 e 80. Meu último cargo público foi na Biblioteca Nacional, de 2005 a 2010. Nunca mais na vida quero cargo público.

Sindicato dos Jornalistas do Rio: Causa muito problema?
MS: É muito arriscado. Você dirigir orçamento público hoje é tão perigoso quanto entrar à noite da favela do Rato Molhado (Zona Norte do Rio), você não sai vivo. Pode entrar armado, vai sair sem arma e sem cabeça. Dirigir orçamento público é a mesma coisa. Existem duas instituições de controle contábil no País que acho que são as melhores do mundo: a Controladoria Geral da União (CGU) e o Tribunal de Contas da União (TCU). Todo mudo acha que no Brasil tem muito roubo. Tem roubo mas se sabe. É impossível roubar no serviço público sem que (os órgãos) saibam. Cada conta, cada despesa é controlada integralmente pela CGU, e no final do ano, pelo TCU.

Sindicato dos Jornalistas do Rio: Uma vírgula fora do lugar e…
MS: Está frito. Mas falam que é tanto roubo… Mas se sabe, só escapa quem tem força política. É um tipo de trabalho que é muito bom para ladrão. Se você é honesto, você pode se acusado por uma besteira e vai para o Diário Oficial da mesma forma que o ladrão. Enquanto que o ladrão está acostumado a isso e não vai para a cadeia. A primeira vez que estou vendo ir para a cadeia alguém deste tipo é nessa história do mensalão. Quem costuma ir para cadeia mesmo é preto e pobre, pp.

Sindicato dos Jornalistas do Rio: E qual a sua avaliação sobre a cobertura dos jornais atualmente, a exemplo da forma como foi noticiado o julgamento do mensalão?
MS: Hoje em dia o leitor se interessa muito pouco por assuntos sérios. O entretenimento e a diversão são o grande módulo do jornalismo. Isso é uma lástima. Um exemplo: o Segundo Caderno de O Globo. Os assuntos são música popular, TV, teatro, shows. Aí você tem colunistas que, se você prestar a atenção, todos estão ligados ao show business de um modo ou de outro – até quando são muito bons. Francisco Bosco, filho do João Bosco, é muito bom articulista. Mas o pai é músico, ele faz letra, é poeta… José Miguel Wisnik (também colunista em O Globo) é músico, professor. Caetano Veloso é Caetano. Hermano Vianna, irmão de Herbert Vianna. O show business, o entretenimento atravessam por inteiro o jornalismo. Tudo é diversão. E acho que isso contaminou o assunto mensalão. Para atrair leitores para este assunto, que é técnico, precisaram fazer uma novela do Supremo Tribunal Federal, o bem e o mal. O Lewandowski (Ricardo, ministro do STF, votou pela absolvição de réus do mensalão) foi votar (nas últimas eleições) e recebeu vaia porque ficou como vilão da novela. Já o Joaquim Barbosa (relator do caso) ficou de herói. Acompanhei o mensalão pelo Globo, pelos jornais, como uma novelização do julgamento.


Confira a entrevista completa!


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 NPC - Núcleo Piratininga de Comunicação * Arte: Cris Fernandes * Automação: Micro P@ge