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Metalúrgicos mortos na greve de 1988 recebem homenagem
Publicado em 13.11.12 - Por Fabiana Long, jornalista do Sindicato dos Metalúrgicos do Sul Fluminense
Em 7 de novembro de 1988 um capítulo marcante da história sindical, e por que não dizer do Brasil, foi escrito em Volta Redonda (RJ). Mais de 10 mil metalúrgicos enfrentaram a direção da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e o Exército, reivindicando melhores condições de trabalho e salários mais dignos. A greve durou 17 dias, sendo que, nos dois primeiros dias, os trabalhadores ocuparam a empresa.
A CSN se recusava a negociar e, na madrugada do dia 9 de novembro, o presidente em exercício, José Sarney, autorizou o exército a invadir a fábrica, sob o comando do General José Luiz Lopes. Os soldados dispersaram uma manifestação pública pacífica que acontecia em frente ao Escritório Central da CSN, transformando o centro da Vila Santa Cecília em um verdadeiro campo de batalha. Este conflito resultou na morte de três operários: William Fernandes Leite, de 22 anos; Valmir Freitas Monteiro, de 27 anos; e Carlos Augusto Barroso, de 19 anos; além de centenas de feridos.
Todos os anos nesta data, o Sindicato dos Metalúrgicos do Sul Fluminense presta sua homenagem a esses três mártires. Em 2012, lembramos os 24 anos desta triste história com um ato realizado na Praça Juarez Antunes, onde foi erguido o Memorial 9 de Novembro, em lembrança aos três companheiros, bem em frente à siderúrgica. A concentração foi marcada para 8h, e neste horário representantes de igrejas, de ONGs, de outros sindicatos, familiares, trabalhadores, companheiros que viveram a greve, estudantes e outros cidadãos já estavam reunidos próximo ao Memorial, para prestarem suas primeiras homenagens com faixas e flores.
O cenário do Memorial remete á violência sofrida naquele tempo. Inaugurado em 1º de maio de 1989, o monumento não chegou a ficar de pé nem por 24h. Um atentado com bomba derrubou o Memorial na madrugada após sua inauguração, ficando este tombado, preso apenas pelo ferro da armação. O arquiteto Oscar Niemeyer, responsável pelo projeto, fez questão de reinaugurar a obra mantendo os sinais da violência, apenas levantando a parte derrubada, para que estas marcas ficassem para sempre em nossa memória e para mostrar que podemos ser derrubados, mas sempre iremos nos reerguer.
Na cerimônia deste ano, houve uma celebração religiosa, por volta das 9h, que contou com representantes de diversas crenças. O babalaô Ivanir dos Santos, representante da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR) e das religiões umbandistas, lembrou que, em sua religião, a morte não é o fim, mas uma continuidade. “E é isso que vocês estão fazendo aqui hoje, dando continuidade à história”, lembrou.
Ainda que – dentro dos dias de duração da greve da CSN [em 20/11/1989], o movimento negro sofreu uma repressão do Exército no Rio de Janeiro. “As mortes acontecidas aqui foram o motivo pelo qual o Exército foi mais cuidadoso lá”, completou o babalaô.
O bispo católico da diocese de Barra do Piraí, Volta Redonda, Dom Francisco Biasin, lembrou da participação fundamental que a igreja teve durante a greve, principalmente na figura do bispo que ocupava sua posição naquele ano, Dom Waldyr Calheiros, que celebrou o velório dos trabalhadores assassinados.
“Aqui, naqueles dias, povos e igrejas se unificaram. Éramos um só coração e uma só alma, para defender o direito sacrossanto de cada um de viver com dignidade”, declarou o bispo.
Além do babalaô e do bispo, tiveram a palavra durante o ato religioso o sacerdote wicca, Og Sperle e o pastor evengélico Marcelo Adson, presidente do conselho de pastores de Volta Redonda.
Em seguida, algumas crianças da Escola Municipal Lions Club apresentaram um teatro contando a história da greve de forma interativa. Além da Lions, mais duas escolas foram convidadas a participarem do ato para conhecerem melhor esse capítulo da história de Volta Redonda. Os alunos da Escola Municipal Prefeito Juarez Antunes e Escola Municipal Getúlio Vargas receberam uma apostila contando a história da greve em quadrinhos, assistiram atentos a cada fala, depositaram coroas de flores no monumento e participaram emocionados do abraço ao Memorial, que reuniu todos os presentes de mãos dadas ao redor do símbolo que representa nossa homenagem a esses trabalhadores e que nunca nos deixará esquecer a violência daquela greve. Para contar ainda melhor a história, uma exposição de fotos da época, acompanhada de um texto explicativo, ficou na praça durante todo o dia.
“Essa história precisa ser lembrada por nós, com muito orgulho, pois fomos protagonistas de inúmeras mudanças que aconteceram no cenário nacional. Hoje, contamos essa história que aconteceu há 24 anos, quando muitos dos trabalhadores atuais da CSN não eram nascidos ou eram muito pequenos para se lembrar”, disse o atual presidente do Sindicato dos metalúrgicos do Sul Fluminense, Renato Soares, traduzindo a importância de que os jovens que trabalham hoje na CSN devem agradecer aos companheiros daquele tempo. Eles deram seu sangue para garantir as condições mais dignas de trabalho que a empresa oferece. Ao lado do presidente do Sindicato em 1989, Marcelo Felício, Renato também depositou uma cora de flores no Memorial.
Apesar de Marcelo estar exercendo a função de presidente durante a greve, quem convocou e liderou os trabalhadores foi Juarez Antunes, presidente eleito, licenciado para assumir o cargo de deputado estadual. Ao final da greve, os companheiros conseguiram a histórica vitória do turno de 6h, praticado até hoje pela CSN graças à luta constante do Sindicato. A cada nova negociação a empresa tenta retornar ao turno de 8h, prejudicial à saúde e á vida social do trabalhador; além de ser proibido por lei, já que não se pode trabalhar por 8h ininterruptas com tempo de descanso inferior à 1h.
Durante a greve, Juarez foi eleito prefeito de Volta Redonda, porém, 51 dias após sua posse, foi morto em um suposto acidente de carro, quando estava a caminho de Brasília. Juarez também é lembrado e recebe suas homenagens todo dia 9 de novembro. Apesar de não ter morrido nesta data, ele também perdeu sua vida por lutar pelos mesmos ideias de Willian, Valmir, Barroso e dos mais de 10 mil trabalhadores que defenderam seus direitos em 1988.
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