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Bonde da Cultura: jovens do morro Jorge Turco acreditam no poder transformador da música



Por Sheila Jacob - Brasil de Fato

JORGE TURCO é um morro carioca localizado em Coelho Neto, Zona Norte do Rio de Janeiro. Foi lá, na região que tem o menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da cidade, que, em 2009, jovens inconformados com as contradições da cidade decidiram criar o Bonde da Cultura. Queriam refletir sobre a realidade local e propor meios de transformação. O resultado é prosa e poesia urbana contemporânea que retratam, emocionam e fazem pensar.

Marcelo Jerry, Diego Silva, Júlio Lacerda, Bruno Falcão, Mateus Moraes, Henrique Zizo e Marlon Natural são os sete integrantes fixos do Bonde da Cultura, um grupo cultural que une música, poesia e muita discussão política. Mas o coletivo se considera bem mais amplo: na verdade, o Bonde é formado por um grande time de simpatizantes e  apoiadores que acreditam no poder transformador da cultura.

O Espaço Cultural Novo Oriente, no Jorge Turco, possibilitou o encontro desses jovens. “Eu já tinha certa militância na igreja, mas isso não supria minhas necessidades. Um dia eu estava na rua, tocando meu violão completamente indignado com a hipocrisia que via à minha volta, e chegou o Julião. A gente se conhecia de vista, mas não tinha amizade. Começamos a trocar uma ideia e depois eu fui para o Novo Oriente. Foi lá que eu me aproximei do Diego e dos outros meninos. Assim nasceu o movimento”, conta Marcelo Jerry em um bate papo na Livraria Antonio Gramsci, no Centro do Rio, do qual também participaram Diego Silva e Júlio Lacerda. Os três afirmam que foi nesse centro cultural que o grupo passou a se encontrar. Foi ali que sugiram os primeiros improvisos, as primeiras rimas e os primeiros acordes.


Paz sim, não a dos cemitérios
A primeira canção do grupo foi "Queremos Paz". Mas esses jovens deixam claro que essa paz não é a paz do silêncio de cemitério, uma paz que cala as vozes. Ao contrário: é uma paz conquistada na luta do dia a dia; a paz da emancipação. De lá para cá, já são cerca de 15 composições que falam sobre violência urbana, desigualdade e, principalmente, a importância da luta na mudança social.

Vamos lutar, Vamos derrubar o sistema, Despertei de um sono profundo, Reggae da mudança, Anseio o dia, Revolução da favela são alguns títulos que mostram muito bem a que esses jovens vieram. Um dos momentos mais emocionantes
de seus shows é quando se ouve a música Dar valor pra vida e a liberdade. Composta por MC Toti, também do Jorge Turco, ela é cantada pelo integrante mais novo do grupo: Paulo Israel, o MC Papá, que tem apenas oito anos de idade
e é filho de Júlio Lacerda.


“Músicas não são mercadorias”
Quando se escolhe o caminho da arte é grande o risco de cair na sedução do mercado. Os integrantes do Bonde da Cultura sabem disso e, apesar de sonharem viver da sua música, não abrem mão dos seus ideais. “Muitas vezes não aceitamos patrocínio porque sabemos que teremos que dar uma contrapartida. É claro que queremos incentivo, mas sem perder nossa autonomia, pois acreditamos que a arte tem que ser crítica. Hoje, sobretudo em lugares mais pobres, existe a aceitação de uma musicalidade que não propõe nada. É apenas a repetição das mesmas coisas, não tem poder refl exivo”, avalia Julio Lacerda. Ele reforça que o coletivo quer contribuir para a transformação da sociedade. “Nossa arte é um caminho para a organização e a mobilização de quem nos ouve. As letras do Bonde da Cultura falam disso. Nosso ideal é despertar a consciência crítica de quem nos acompanha, mostrando que todos, nós e eles, somos atores sociais”, explica Júlio.

Para isso, a música e a poesia foram os meios escolhidos pelo grupo por ser uma maneira mais efi caz de se despertar a reflexão. “A mensagem política através de uma expressão cultural surte mais efeito do que um discurso político convencional”, avalia Diego. Ele diz ainda que o coletivo procura ter cuidado para não apenas acusar, mas também apresentar soluções. Além disso, o vocabulário é levado em conta, pois ele deve aproximar e não distanciar. “Temos a preocupação de transformar tudo o que estamos pensando em uma linguagem popular, que toque as pessoas, que sensibilize todo mundo para acreditar em seus sonhos e lutar por algo melhor”, completa Marcelo Jerry.


Criação artística e formação política
Além das músicas que passaram a compor, os meninos do Jorge Turco começaram a estudar bastante teoria. Os broches de Karl Max e Che Guevara que Marcelo e Diego estampavam em suas camisas já davam uma ideia de algumas das referências políticas do grupo. “A gente lê Marx, Lenin, Gramsci e muitos outros também. Acreditamos que muitos
estudiosos têm sua parcela de importância, tanto aqueles que investiram na teoria quanto na prática. O que a gente
sempre tenta fazer é criar um senso crítico a partir daquilo que estamos lendo e trazer para nossa realidade”, conta Diego. “Ao contrário do que a gente vê muito por aí, entre as pessoas de esquerda, nós não queremos dividir,  queremos somar. Não pensamos que somos os donos da verdade e que vamos fazer a Revolução. Não é nada disso. Queremos propor o debate sempre, a refl exão crítica conjunta. A luta é de todos nós”, diz Marcelo.

As referências artísticas do grupo são muitas: Chico Buarque, Cartola, Noel Rosa, Marcelo Camelo, a essência do blues... Já em relação aos nomes de luta, eles lembram logo do Rapper Fiell do Morro Santa Marta; de Os Neguim que Não se Calam; do coletivo de Hip Hop LutArmada; e do movimento da Associação dos Profissionais e Amigos do Funk - Apafunk, que reivindica um funk de denúncia das condições dos moradores das favelas. “Não admiramos quem está trafegando pela mídia, gente que só pensa no seu umbigo. Muitos artistas se vangloriam por chegarem onde chegaram, pelo dinheiro que conseguiram. Ou seja, estão completamente na lógica do mercado, só fazem música pra isso”, critica Diego.


“Vamos a todo lugar, mas livres”
O grupo se apresenta onde for convidado, desde que não precise mudar o seu discurso. Gostam de lembrar que seu palco principal é a rua, a praça, o espaço público onde tiver gente interessado em ouvir. “Já nos apresentamos em universidades, eventos de movimentos sociais etc. Já cantamos até em um vagão de metrô aqui no Rio. Foi engraçado porque quando o segurança quis acabar com nossa música, o pessoal se revoltou porque queria ouvir a gente. Em todas
as estações todo mundo descia agradecendo”, contam entre risos. Eles também fizeram uma apresentação recentemente no Canecão ocupado por estudantes, em um evento que reivindicava exatamente o uso daquele espaço para apresentações populares.

A previsão é que o grupo lance seu primeiro CD no início de 2013. O nome ainda não está definido, mas já receberam
algumas sugestões, como “Guerrilha Cultural”. Para arrecadar fundos, estão programando um show, sem data marcada ainda. Para conhecer o trabalho do Bonde da Cultura, basta acessar o perfi l do grupo no Facebook: https://
www.facebook.com/bonde.dacultura. Por lá é possível também entrar em contato para combinar shows e apresentações.


Morro Jorge Turco é a inspiração do grupo
O Bonde da Cultura tem como principal referência o local onde vive e de onde fala. O sambista Candeia faz parte da
história do bairro 


A vida é dura, mas não necessariamente é bruta. O Bonde da Cultura também fala da arte e da genialidade que o morro produz. Júlio Lacerda, o Julião, assim explica esta ligação: “O Jorge Turco é nossa inspiração. É de lá que vem o inconformismo e a indignação de se viver em um lugar onde a bala de fuzil está no chão porque o Estado permitiu chegar ou então a colocou ali”, conta o artista. O bairro onde vivem é marcado pela violência urbana e por péssimas condições de vida. A região é a que tem o menor IDH do Rio. Isto é, o lugar onde, para a população, falta quase tudo. Ali é onde estão lugares quase esquecidos do Rio de Janeiro, como Costa Barros, Barros Filho, Colégio, Acari, Parque Colúmbia, Coelho Neto e Honório Gurgel.

“Ninguém dá atenção para essas comunidades, pois estão bem longe da Zona Sul. Fica depois de Madureira, Irajá, quase na Baixada. É a ponta do Rio de Janeiro. O poder público e a mídia não dão destaque porque não é do interesse mostrar quem mora ali”, denuncia Diego Silva. “A gente luta para que a comunidade se torne um lugar melhor para se
viver. O objetivo não é sair de lá: é transformar nosso espaço”, garante Diego.


Música, cultura e movimentos sociais
Júlião lembra que, além do poder transformador de sua arte, a ideia do grupo é construir laços dos moradores do morro Jorge Turco com movimentos sociais. “As comunidades da Zona Sul e espaços mais valorizados, como Tijuca e Vila Isabel, conseguiram estabelecer contato com artistas, militantes e estudantes diversos. Isso é importante e falta
pra gente”, conta o artista.

A ideia também é, segundo ele, disputar a imagem que se faz da favela onde vivem. “É muito triste ver a nossa comunidade aparecer na mídia só como referência à criminalidade e à violência urbana. Nosso movimento é também para apresentar outra face da comunidade: local onde mora gente que ri, chora, trabalha, sonha e luta. Gente que tem muito talento e habilidades técnicas, mas que às vezes não tem recurso”, explica. Ele lembra, por exemplo, que foi ali, em Coelho Neto, que o grande sambista Candeia fundou o Grêmio Recreativo de Artes Negras Escola de Samba (GRANES) Quilombo. “Ele rompeu com a Portela no momento em que percebeu que o carnaval estava seguindo uma lógica comercial. Esse é motivo de orgulho pra gente que defende a bandeira da cultura a serviço do povo, e não do mercado”, explica Julião. (SJ)


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