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Hobsbawn: lições do mestre - texto do professor Carlos Walter Porto (UFF) sobre o historiador marxista
Publicado em 3.10.12 - por Carlos Walter Porto
Em meados dos anos noventa, Eric Hobsbawn esteve entre nós, no Brasil, para lançar seu livro A Era dos Extremos (Editora
Schwarcz, 1994). Estávamos a poucos anos do fim do curto século XX,
1989, marcado pela queda do muro de Berlin. Testemunha da história que
historiava o velho e bom mestre nos brindou com uma fina síntese
dialética e do que estava por vir: “Nós, socialistas, somos
responsáveis por algo que não queríamos. Nós humanizamos o capitalismo
quando nós queríamos destruí-lo”. Poderia haver melhor síntese do curto
século XX? Não creio. A Revolução Russa que, segundo o mestre, iniciara o
século abrira um período histórico de grandes esperanças e mobilizações
em luta por transformações com justiça e igualdade sociais. Os Dez Dias que Abalaram o Mundo,
expressão de John Reed, o repórter que experimentou o calor dos
acontecimentos daquela Revolução, projetaram de fato em todo o século a
ideia de que era possível transformar o mundo, enfim, que a Revolução
estava no horizonte histórico do possível.
O fim da 2ª Guerra
consagrou, inclusive no plano geopolítico, uma bipolaridade onde o
socialismo mostrava sua força impondo, até mesmo fora de suas fronteiras
geográficas, condições de vida que humanizaram o capitalismo. O estado
de bem estar social, que a democracia européia reivindica para si é, em
grande parte, o resultado da ameaça real de uma transformação socialista
no território da Europa Ocidental, como bem perceberam os estrategistas
estadunidenses em sua iniciativa com o Plano Marshall. Bertolucci o
percebeu com seu Novecento.
Eric Hobsbawn com sua fina análise
dialética não só lia o passado presente como projetava o futuro quando
nos alertava, na mesma ocasião, com uma pergunta à época ousada,
sobretudo diante do clima de euforia que tomava conta dos ideólogos do
fim da história, então e ainda agora, certos da vitória do capitalismo
diante da queda do muro. Indagava Hobsbawn: “que será da humanidade quando o capitalismo já não mais teme o socialismo?”
A
pergunta hoje já não parece delírio de um velho historiador rigoroso,
mas posicionado diante das questões de seu tempo. A social democracia
caiu junto com o muro e os 200 anos de história de luta dos pobres
contra os ricos para conquistar direitos se tornaram nos últimos 20 anos
a luta dos ricos contra os pobres para acabar com os direitos. A crise
européia de hoje mostra sobejamente que deixado a si mesmo o capitalismo
mostra toda sua face bárbara que, para nós latino-americanos, africanos
e asiáticos não é nada novo, mas o é para os europeus.
Que os
indignados se inspirem na dignidade desse intelectual e se transformem
numa força política capaz de humanizar o mundo, tal como ele nos ajudou
com suas análises e compromisso político.
* Carlos Walter Porto-Gonçalves, 63 anos, é professor da Universidade Federal Fluminense.
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