Pol�tica
Não aos leilões de petróleo
Publicado em 30.9.12 - por Emanuel Cancella*
Os brasileiros já conviveram com a
escravidão; com a proibição do voto feminino; com a ditadura militar;
com o racismo; com a homofobia; com o machismo. Grande parte desses
absurdos foi superada e outra parte foi inibida pela lei. Mas a
superação do atraso só aconteceu depois de muita mobilização e luta!
O
maior movimento cívico brasileiro foi “O petróleo é nosso!”. Esse
movimento, que tomou o Brasil de norte a sul e de leste a oeste, nas
décadas de 1940-50, uniu comunistas e conservadores, militares e civis.
Um dos principais líderes do movimento do petróleo foi Monteiro Lobato,
paulista da cidade de Taubaté, um fazendeiro que se transformou em
escritor, aliás, o principal autor brasileiro de obras infantis e um dos
maiores no mundo. Chegou a ser preso, na sua luta para provar que havia
petróleo no Brasil.
Lobato escreveu “O escândalo do petróleo”.
Nesse livro, o escritor se posiciona totalmente favorável à exploração
do petróleo apenas por empresas brasileiras.
Maria Augusta
Tibiriçá Miranda, médica, também uma das líderes desse movimento cívico,
hoje com mais de 90 anos, escreveu um livro cujo título tem o nome da
memorável campanha “O Petróleo é Nosso!”. Tibiriçá já profetizava que “a
luta pelo petróleo brasileiro não terminaria nunca”.
Precisamente
agora, estamos em meio a mais uma batalha dessa infindável guerra que
já resultou em centenas de perseguições, prisões, mortes. Inclusive o
suicídio do presidente Vargas teve como pano de fundo a questão do
petróleo. Em seu governo, Getúlio criou a Petrobrás e instituiu o
monopólio estatal do petróleo.
Quando o petróleo era um sonho,
fomos protagonistas de uma das páginas mais emocionantes e marcantes de
nossa história: a campanha O Petróleo é Nosso. Como poderíamos imaginar
que, depois de tudo isso, no momento em que o petróleo brasileiro se
torna realidade, há quem ouse defender os leilões! Leiloar o nosso
petróleo é o mesmo que vender um bilhete premiado.
Como disse,
também, o brilhante ator Paulo Betti, referindo-se ao pré-sal, no filme
“O Petróleo é Nosso – A Última Fronteira”: “...é como se
encontrássemos um tesouro valiosíssimo em nosso quintal e, então,
entregássemos a outros, porque somos incompetentes para administrá-lo!”
Por
mais de trinta anos, a Petrobrás vem gastando bilhões de reais para
descobrir o pré-sal, inclusive desenvolvendo tecnologia inédita no
mundo. Se investimos e acumulamos conhecimento nessa tecnologia, como
justificar a defesa dos leilões, para que estrangeiros explorem e se
apossem das nossas reservas de petróleo?
O pior é que, por
trás das multinacionais de petróleo, as mesmas que foram contra a
criação da Petrobrás e do monopólio e agora defendem com tanto ardor os
leilões, está a conivência de boa parte da mídia, a presidente da
Petrobrás, Graça Fortes, o IBP e a Firjan. Cedendo as pressões, o
governo brasileiro já anunciou a retomada dos leilões para maio e
novembro do próximo ano.
Valeu Monteiro Lobato, Maria Augusta
Tibiriçá e Getúlio Vargas, por lutarem e se posicionarem a favor dos
interesses do povo brasileiro. Mas, infelizmente, a julgar pelos rumos
que esse debate vem tomando, tende a prevalecer a frase cinicamente
pronunciada pelo primeiro diretor geral da Agência Nacional de Petróleo –
ANP. Em seu discurso de posse, David Zilberstein, ex-genro de FHC,
falando à imprensa e a representantes das multinacionais, declarou: “O
petróleo é vosso!”
* Emanuel Cancella é secretário-geral do Sindicato dos Petroleiros do Estado do Rio de Janeiro (Sindipetro-RJ)
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