MÃdia
Os jornalistas, esses semideuses
Publicado em 11.7.12 - por Cristina Rodrigues/Adital
Pedro
Bial, aquele do Big Brother, lançou um programa destinado, basicamente, à
defesa do preconceito. Despolitização é a palavra que melhor se encaixa.
E
o fez consciente e descaradamente. Primeiro, promoveu a defesa do músico
Alexandre Pires, acusado de promover o sexismo, o machismo, o preconceito
racial, com o clipe da música Kong. Segundo a Ouvidoria Nacional da Igualdade
Racial, "o vídeo usa clichês e estereótipos contra a população negra” e
"reforça estereótipos equivocados das mulheres como símbolo sexual”.
E
o apresentador do Big Brother o fez usando – ele e seus convidados, escolhidos
intencionalmente pela sua produção – do velho argumento falacioso e manipulador
da censura, da ditadura disfarçada.
Como
se não bastasse defender o vídeo que fala de negros e é ilustrado com macacos,
ainda reforçou o discurso preconceituoso ao levar ao palco do seu programa
pessoas vestidas de gorila e mulheres "popozudas”, que apresentam uma visão
sexista do papel da mulher na sociedade, vista como objeto. E ó, eu não faço
parte de nenhum movimento feminista, mas como mulher me sinto ofendida com esse
uso da imagem, com a consolidação, o reforço de algo que há tanta luta para
romper, que é estereotipar a mulher, mostrá-la como um ser que não pensa. Além
do apelo sexual da figura da mulher, é um incentivo ao tratamento superficial
das pessoas, reduzidas à aparência.
Da
mesma forma que a mídia não pode condenar antecipadamente acusados ainda não
julgados de algum crime, também não cabe a ela inocentá-los, principalmente
quando se trata de um suposto crime contra a coletividade. Qual era o propósito
de absolver Alexandre Pires em rede nacional? Para que comprar essa história?
Isso
sem falar que o assunto está velho, o caso já foi até arquivado. E o irônico é
que Bial começou o programa criticando assédio sexual e assédio moral, que esse
tipo de apelo sexual e rebaixadamento da mulher à categoria de objeto
incentivam absurdamente.
A
linha do programa já ficava clara pela escolha dos participantes. Destaco o
reacionarissimo Luís Felipe Pondé, tratado a pão de ló. Apesar de estar
presente também Antônio Carlos Queiroz, a diferença de tratamento foi evidente.
Queiroz é autor da cartilha "Politicamente correto & Direitos”, criada pelo
governo federal como uma tentativa de combater preconceitos e criticada pelo
apresentador, o mesmo que diz que críticas não servem pra nada, que nem ouve as
direcionadas a ele.
"A
cartilha foi dedicada a professores, policiais etc. etc. (aqui entrou uma lista
de profissões que eu não vou saber repetir, todas passíveis de receber
orientação externa) e… tchan tchan tchan, jornalistas (os intocáveis). E aí
você mexe com a liberdade de expressão.” Fora o que está dentro dos parênteses
e os et ceteras, foi bem assim que o Bial falou, com o tom dramático que traduz
em absurdo jornalistas sofrerem qualquer tipo de influência, inclusive a de uma
orientação.
Opa,
jornalista, como formador de opinião, não pode receber orientações sobre
preconceito, para evitar na sua prática diária que forme opiniões
discriminatórias contribuindo para que as diferenças de gênero, classe, cor
etc. nunca tenham fim. É a velha história do jornalista como dono da verdade. A
gente não erra, não mente, não manipula, não tem ideologia (não pode!), então
não tem por que ter nosso trabalho observado. Jornalista tem direito a fazer o
que quiser, mesmo que isso ofenda a dignidade de outras pessoas. Afinal, somos
semideuses, perfeitos. Vai ver é por isso que o diploma é desnecessário.
Afinal, a faculdade orienta, e jornalistas estão acima desse tipo de coisa.
Não
vou falar em decepção com esse programa porque né, 12 anos de BBB não deixam
criar nenhuma expectativa. Mas um mínimo de bom senso vinha bem, viu.
Isso
tudo sem contar o nome do programa, que seria bacaninha uns 15 anos atrás,
quando a gíria era moderninha.
Núcleo
Piratininga
de Comunicação
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