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Ato na OAB-RJ pede punição dos assassinatos de pescadores artesanais da Baía de Guanabara
Publicado em 29.6.12 - por Sheila Jacob
Na manhã desta sexta-feira, 29 de junho, militantes em
defesa dos direitos humanos estiveram reunidos na OAB do Rio em clima de luto e
de medo da impunidade. O motivo foi o assassinato recente de dois pescadores,
Almir e João (Pituca), integrantes da Associação de Homens e Mulheres do Mar
(AHOMAR), cujos corpos foram encontrados
no início dessa semana. A organização é composta por pescadores artesanais que
lutam contra os impactos socioambientais gerados por grandes empreendimentos
econômicos na Baía de Guanabara. Em repúdio ao assassinato e para cobrar uma investigação
séria desses crimes, o ato público realizado na manhã dessa sexta-feira
contou com a presença de parlamentares, ativistas e pescadores. Como disse a
presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ, Margarida Pressburger, a
intenção desta mobilização é cobrar às autoridades uma total apuração dos casos,
com nomes e situações em que aconteceram e os mandantes dos
crimes.
Alexandre Anderson, da AHOMAR, um dos pescadores ameaçados
“Estão
nos perseguindo, estão nos matando. Essas mortes não são
individuais. Sabemos de onde vieram: de quem está ganhando muito dinheiro com
os empreendimentos na Baía de Guanabara. Será que vivemos em um Estado
democrático?”, questionou o pescador Alexandre Anderson de Souza, liderança
da AHOMAR. Ele e a esposa, Deize de Souza, vêm sofrendo constantes ameaças por lutarem
contra os poderosos e em defesa dos direitos humanos. Por este motivo, fazem parte do Programa de
Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos. Bastante comovido com a perda dos companheiros, Alexandre emocionou todos os presentes pedindo justiça e o fim da impunidade.
Sandra Carvalho, da Justiça Global
Sandra Carvalho, da Justiça Global, ressaltou a importância
de se apurarem as ameaças e os homicídios recentes de forma relacionada,
incluindo outros assassinatos de pescadores ocorridos nos anos de 2009 e 2010.
Como ela lembrou, em fevereiro foi lançado o Plano de Proteção aos Defensores de Direitos
Humanos no Estado do Rio, em parceria com o Governo Federal e gestão do Projeto
Legal. “Mas o decreto ainda não foi assinado. É necessário e urgente que o
Governo do Estado formalize e institucionalize este programa, para evitar que
outras mortes aconteçam”, disse Sandra. O deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL/RJ) lembrou que, além deste, também não funcionam o Programa de Proteção à Testemunha e o Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Vítimas de Violência. "Atualmente esses programas estão parados por falta de estrutura e de verba. Não foi por falta de aviso que esses dois pescadores foram assassinados. É o cúmulo da banalização da morte da violência", disse o deputado, lembrando que essas mortes têm cunho político e se comprometendo a cobrar da Secretaria de Segurança Pública medidas para que outros lutadores não sejam assassinados.
Pescadores artesanais são ameaçados por enfrentarem a lógica reinante
O professor Roberto Leher, da Adufrj, lamentou o
atual modelo de desenvolvimento econômico, que favorece os setores poderosos e geram
brutais exclusões. “Lutadores da AHOMAR afirmam outra lógica de desenvolvimento,
outra relação com o espaço e com a natureza que se torna inviabilizada pelos
grandes empreendimentos”. Segundo ele, os pescadores artesanais estão sofrendo
ameaças e violência por consistirem uma ameaça à lógica reinante. “Por esse
motivo, está se formando uma comissão permanente dos atingidos por grandes
empreendimentos, para tratar esses casos de forma articulada”, informou.
Ivo Soares, pescador da Baía de Sepetiba
Ivo Siqueira Soares, pescador da Baía de Sepetiba, apresentou
um drama semelhante ao que sofrem os pescadores artesanais da Baía da
Guanabara. Ele relatou a morte de um companheiro em 2008, atropelado por uma
balsa da Companhia Siderúrgica do Atlântico, um megaempreendimento da
transnacional alemã ThyssenKrupp (TKCSA) localizado em Santa Cruz (RJ). Pescadores,
moradores e militantes vêm se mobilizando contra o complexo, que causa diversos
impactos ambientais e na saúde da
população local. “Vivemos sob ameaça. O
Governo é assassino: dá a licença para empresas, mas não fiscaliza. O meio
ambiente está sendo arrasado e estão matando trabalhadores”, denunciou o
pescador.
Também participaram do ato em repúdio ao assassinato dos
pescadores da Baía de Guanabara a deputada estadual Janira
Rocha (PSOL/RJ); o deputado federal Chico Alencar (PSOL/RJ); e Carlos
Martins, da Associação dos Servidores do Ibama e do Instituto Chico Mendes. Um abaixo-assinado, organizado pela Justiça Global, também foi divulgado, para que outras entidades e organizações expressem a indignação pela morte dos dois lutadores.
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