Hist�ria
Torturas de ontem e de hoje
Por Vito Giannotti - publicado no Brasil de Fato
Fotografía
Germán Alemanni / Adital

Na Cúpula dos Povos, durante a Rio+20, centenas de encontros aconteceram. Um deles, realizado na OAB, me chamou a atenção: Mães do Brasil e da Argentina na luta por Memória e Justiça. Evento fortemente emotivo e de tristes lembranças, mas cheio de esperança na vitória da luta para resgatar a memória de filhos, maridos, pais torturados e mortos, e de se restabelecer a justiça com a punição dos culpados. Junto com as vítimas da ditadura estavam as mães que tiveram seus filhos vitimados pela violência do Estado, através das mãos dos policiais.
Falou-se dos crimes de tortura, assassinatos e desaparecimentos a serem desnudados pela Comissão da Verdade, recém-instalada no Brasil, se não fizer o trabalho só pela metade. Na ocasião, fiz uma fala que levantou um duplo aspecto da tortura em nosso país. Primeiro disse que a condenação dos torturadores é um dever com a memória de suas vítimas que deram o seu sangue para construir um Brasil justo livre e para muit@s, socialista. É preciso acabar com a farsa “legal”, imposta pela própria Ditadura, de “Anistia recíproca”.
Na Argentina, os torturadores também fizeram uma lei de “Punto final”. Mas lei se muda, com mobilização e luta popular. E lá mudou. Hoje há centenas de culpados presos: de general a soldado raso. No Brasil, nossa direita, pela voz da sua mídia, condena qualquer condenação dos culpados.
Esta é uma luta a ser travada e vencida pelo povo. Mas há outra, intimamente ligada a esta. É a luta para criar uma nova mentalidade, novos valores que convençam milhões que não se deve usar a tortura com ninguém, seja um preso político seja um pobre, negro e favelado. Sim, porque, na nossa sociedade, a tortura é tranquilamente aceita pela grande maioria do povo. Os programas policiais em todos os canais criam e recriam esta mentalidade de criminalizar os pobres, e defendem a tortura.
A condenação dos torturadores da Ditadura de 64 vai ser um passo importante para construir uma nova mentalidade. O povo vai ver que torturar não é tranquilo. Não é normal. Que os torturadores são condenados (mesmo se com 40 anos de atraso). Que não se fica impune. A condenação dos culpados de torturas na Ditadura avança rumo a uma nova mentalidade que não aceita a impunidade.
Desnaturalizar a tortura e a impunidade podem ser passos importantes para se acabar com a tortura que acontece todos os dias, em cada delegacia, como coisa normalíssima. Enquanto todos os torturadores estiverem soltos, livres e alegres andando por aí, a tortura será considerada natural.
Núcleo
Piratininga
de Comunicação
—
Voltar —
Topo
—
Imprimir
|