Publicado em 6.05.12 - por José Neto / Brasil de Fato


Congada de São Benedito, de Cotia (SP) - Foto: José Neto

O município de São Luiz do Paraitinga, no Vale do Paraíba (SP), despertou no domingo, 27.05, ao som de tambores e cantos africanos. Eram os grupos de congada que chegavam à região para participar do último dia da tradicional Festa do Divino. Além dos congadeiros, grupos de Maracatu, Moçambique e Dança de Fita de várias regiões também se apresentaram durante todo o dia.

A festa teve início no dia 18 de maio e mais de 30 mil pessoas passaram pelo município durante esses dez dias, segundo o organizador do evento, Galvão Frade. Considerada pelos moradores de São Luiz e municípios vizinhos o evento mais importante da região, por ser tradicional há mais de 200 anos, a Festa do Divino é um culto ao Espírito Santo em suas diversas manifestações. Além disso, é uma das mais antigas e difundidas práticas do catolicismo popular.

Para Frade, esse é um momento em que a cultura popular e a religião caminham juntas. “Isso é muito especial para todos que moram aqui e para os que vêm visitar a nossa cidade. Acontece muita coisa ao mesmo tempo, a congada se apresenta ali, a missa se apresenta lá, e uma respeita a outra, pois ambas louvam o Divino Espírito Santo.”

Frade é o festeiro deste ano, espécie de organizador escolhido pela Paróquia para receber as doações para a festa no período em que a bandeira passa de casa em casa no campo. Os agricultores abrem as portas, fazem promessas para ter uma boa colheita e dão pouso aos foliões. “Em agosto do ano passado nós fomos o escolhido. Fizemos a saída da bandeira do Divino e durante 11 meses peregrinamos de casa em casa na zona rural de São Luiz com os municípios vizinhos pedindo prenda para organizar a festa. Nesse trabalho todo conseguimos angariar mais de 200 bezerros, mais de 1.500 frangos, toneladas de arroz, óleo e batata. É impressionante como o pessoal devota ao Divino nessa região.”

Superação

Em Janeiro de 2010, mais de 150 famílias foram diretamente atingidas pela enchente que devastou o município de São Luiz do Paraitinga. Casas e centros históricos da região, inclusive a Igreja Matriz de Tolosa, erguida no Século 19, foram destruídos pela enchente.

Após dois anos do desastre, São Luiz não aparenta ter passado por essa devastação. A maioria das casas foi reerguida, o museu foi restaurado e a Igreja está sendo reformada. De acordo com o integrante do grupo de Maracatu Baque do Vale, Flávio Itajubá, que também se apresentou no evento, a cultura popular e a fé foram fundamentais para a reconstrução da cidade. “Quando aconteceu essa tragédia, não só o pessoal daqui, mas também de outras regiões se sensibilizaram e se mobilizaram de uma forma muito forte que fez com que a cidade fosse reerguida”, afirma.

Itajubá ressalta ainda que São Luiz tem o seu mérito por ser uma cidade acolhedora e querida pelas pessoas que a frequentam. “Eu fiz o mínimo, enchi o carro de colchão e trouxe aqui, mas teve gente que abdicou do trabalho, e ficou semanas cozinhando e dando uma força para os moradores daqui”, relata.

Morador do bairro há 62 anos, seu Luís da Silva diz que as pessoas lutam com suas próprias forças para reconstruir o que foi perdido. “Ainda não terminei a frente da minha casa, estou fazendo aos poucos. Aqui o povo tem que lutar, pois as autoridades ajudaram o município, mas as pessoas ficaram sem assistência”, descreve.

A enchente aconteceu nos dias 1 e 2 de janeiro de 2010, e quatro meses depois a cidade já estava organizando a Festa do Divino. Um momento histórico para Frade, que relata a solidariedade das pessoas. “A comunidade aqui sempre foi muito unida. Para você ter uma ideia, o mercado municipal foi coberto pelas águas e, mesmo assim, quatro meses depois, ele estava dando comida para o povo. A enchente levou muita coisa, mas a cultura não”.

^Imprimir